quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Confortitis

Se tivesse que escolher, entre as minhas leituras, a palavra do ano não teria nada que ver com selfie. Talvez conjugada noutros contextos e noutros dia a dia que não o meu, talvez... 
Somos aquilo que lemos e os outros acham que devemos ler aquilo que somos e, portanto, li, reli, partilhei e comentei dezenas de artigos sobre emigrar, dezenas de comentários carinhosos, carregados de sentimentos e dezenas de comentários a transbordar inveja, e não, não vou dizer, próprios dos portugueses. 

Emigrar, sair do conforto, dar o salto nunca foi bem visto porque quem fica, prefere o quentinho, prefere culpar os outros porque teve que ficar. Quem emigra, tem sorte, porque emigra. Então e os outros, que não puderam sair? 

Preferimos viver de inveja do que da nossa felicidade. Alimenta mais, é mais rica em ousadia porque ficar enquanto esperamos que nos resolvam a nossa confortitis é um acto mais corajoso do que sair e procurar, nalgum canto do mundo, a nossa felicidade. 




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Decisão antecipada

Há quase dois meses que não escrevo! E parece-me inacreditável que consiga passar tanto tempo sem fazer uma das coisas que mais gosto. A princípio achei que podia esconder-me atrás da desculpa de toda a vida "trabalho a mais", e não demorou muito até que esta desculpa se esgotou em si mesmo. 

Achei que podia passar uns tempos sem escrever porque afinal, coisas mais importantes vão aparecendo. E deixei de me sentir bem com isto, com esta outra desculpa, ao mesmo tempo que me tentava convencer todos os dias. Fui recebendo mensagens, queixas, saudades dos que me liam e que agora, por minha causa, deixaram de me ler. 

Agora mesmo atropelo as palavras, tenho energia a mais nos dedos mas treino a menos no pensamento. É que o cérebro também se exercita, e também perde a juventude se o deixarmos mais esquecido no meio de tantos exercícios diários que teimamos em priorizar. 

Era resolução para o próximo ano, voltar a escrever com a mesma vontade e com a mesma intensidade. Mas acabo isto, este texto, com resolução para amanhã. Não me parece uma boa decisão adiar, para o ano, esta minha forma de ser. 

domingo, 6 de outubro de 2013

Bom dia, senhor motorista

No outro dia, estava a vir para casa, de autocarro. E fiz o que normalmente não faço, sentei-me no lugar da frente. Apeteceu-me ver a estrada em vez de ir com a cabeça encostada ao vidro, ou encostada atrás ou concentrada num livro qualquer dos tantos que ainda me faltam para ler. 
É que acho que os lugares da frente devem ser para os mais velhos, para os que têm dificuldade em andar, para os que não se conseguem defender dos super arranques dos autocarros - é todo um processo de equilíbrio que põe à prova todos os corpos do mundo. 

E percebi que o número de pessoas que entra no autocarro e finge que não há ali ninguém é irritantemente enorme. Há ali alguém, juro: a conduzir, a cobrar senhas, a abrir portas para nos deixar entrar, a fechar portas com a certeza que já não está ninguém, a esperar pelos que correm enfurecidamente e que sabem que se não for este, vão chegar tarde. 
Entrar num autocarro, dizer bom dia, boa tarde, boa noite é igual a entrar em qualquer outro lado e cumprimentar as pessoas, qualquer pessoa. Não é uma questão de educação, ou melhor, é uma questão de educação, mas antes disso, bem antes, é uma questão de sabermos que está ali alguém. E se está alguém em algum sitio, cumprimentamos esse alguém. 

Antes, desta viagem, parecia-me tão simples. 


domingo, 29 de setembro de 2013

O estranho caso das cuecas

Hoje é domingo, dia de fazer coisas que habitualmente não fazemos à semana. Preguiçar no sofá, comer (Nutella), comer e comer, ver séries, filmes, adormecer, acordar e voltar a adormecer. Ver todas as novidades no Facebook, esperar pelos resultados das autárquicas, ler notícias, espreitar sites de tudo e mais alguma coisa, pôr a manta nas pernas, puxá-la até ao pescoço, voltar a pô-la nas pernas. E, um domingo por outro, arrumar e organizar. 

Durante esta semana, já não me lembro exactamente quando, percebi que tinha uma problema com as minhas cuecas. Percebi que tenho demasiadas e que mesmo quando compro novas, mantenho as velhas. Como, se por magia, aparecesse no meu armário a fada-que-torna-coisas-velhas-em-coisas-novas e as curasse dos anos que passaram. Entre lavagens, maus tratos para entrarem e saírem de malas de viagem, pressão assustadora para que se encolham e caibam nas gavetas, molas postas-de-qualquer-maneira quando é a sua vez (das cuecas) de irem para o estendal. As cuecas também têm validade, mas as minhas, algumas delas, estão pelas ruas da amargura. 

Não sei se o problema é só meu. Se de facto tenho uma relação quase doentia com as minhas cuecas velhas que já deviam estar no lixo (velhas, hã, velhas). Se o facto de escolher esta ou aquela porque tenho isto ou aquilo é normal ou só mais uma cabralice, das minhas, anacabralices.
Admiro portanto todas as mulheres que por aí andam que tenham, eventualmente, uma gaveta de cuecas imaculadamente novas, as mulheres que coleccionem cuecas Victoria's Secret, Intimissimi e Triumph. Todas elas com as rendas cutxi-cutxi, sem fios soltos e sem cores desgastadas.

Porque as minhas, que em tempos foram vermelhas, e brancas, e verdes, e cor de rosa, e pretas, agora, agora mesmo não têm lugar nas paletas de cores deste mundo. 

Pensei, por hoje ser domingo, em fazer uma limpeza. Em atirá-las para o caixote do lixo sem dó nem piedade, mas vai ficar como resolução para o ano que há-de vir. 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Outros

Há muita gente que me pergunta como tenho tanto tempo para lidar com os problemas dos outros e tão pouco para resolver os meus. A resposta parece-me tão simples: os meus problemas incomodam-me, os dos outros, nem por isso. E depois, bem, depois sou uma pessoa de pessoas. 

Não gosto de me isolar, de me alhear ao mundo que está aí, ali, aqui, bem à minha volta. Não gosto de ser só minha, nem gosto que os outros sejam só dos outros. E chamar-lhes outros, não é redundante. É que os outros, mesmo sendo outros, são meus. Porque sei que eu, só comigo, acabo por ser muito pouco. 
Gosto de desfrutar de uma amizade pura. Gosto de saber com o que conto e de mostar aos outros, os meus, com o que podem contar. Não é uma questão de dias melhores, de dias piores, de paciências horárias ou de curiosidades insanas que atendem o telemóvel quase sozinhas. 

Darmos a nossa parte, chamemos-lhe disponível, custa. 
Quantas vezes não me apeteceu desligar, despedir-me sem justa causa de amizades que me tiram mais do que me dão, trocar a tradição da amizade longa pela esplanada com outros novos que ainda não contam problemas. Não porque não os tenham, mas porque ainda é cedo. 
Custa, mas vale a pena. Porque depois, os sorrisos dos outros, também são meus. Um bocadinho meus. Porque mesmo sem obrigada, obrigado, sem gestos, sejam estes quais forem, são outros que me pertencem. Ou melhor dito, sou eu, mais completa, que pertenço a outros. Porque sei, se sei, que sem os outros, seria metade do que sou. E não gosto de metades. Andam sempre perdidas, à procura do outro lado. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Sentemo-nos no trono... Sem medo, sem medo!


Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Porém o ver cagar a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!
 
Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura;
Uma carta d'amores de alimpadura
Serviu àquela parte malcheirosa:
 
Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito d'amor que lisonjeiro
Afetos move, corações incita:
 
Para o ir ver servir de reposteiro
À porta, onde o fedor, e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro!


Depois d'este anúncio, mandem à moça mais bonita, um frasco, dois frascos, três frascos de poo-pourri. Bocage agradece.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Não sou de piropos

Nunca fui pessoa de ter insónias. Nem nunca fui pessoa que deixe o seu sono de beleza por problemas daqueles do dia a dia que à noite parecem enormes mas que depois, com outra luz, com outros olhos e um novo pequeno almoço voltam a ganhar uma dimensão mais normal, mais realista. Nunca me aconteceu - e que continue assim - não dormir porque fiquei a pensar nisto ou naquilo, naquele ou naquela. Tenho os meus pesadelos, tenho as minhas inseguranças, alguns ataques de ansiedade (que não são bem ataques mas que até podiam ser) mas normalmente durmo bem, menos do que queria, mas bem - dizem que as horas de sono vão reduzindo com a idade e como eu não quero que isso me aconteça tão cedo, que fique claro, claro como água cristalina que isto não é uma queixa, just a point of view, não vá andar por aí uma ave rara do além achar que eu devia era saber "o que é bom para a tosse". 

Mas hoje, vá-se lá saber porquê não consigo (ainda) adormecer e portanto ponho-me a divagar. E a ler notícias, e a abrir e fechar o facebook e a jogar clash of clans, e a ler outros blogues, e a passear este meu cérebro por assuntos que achava que não me iam despertar nenhum interesse mas que afinal, afinaaaaallll não é bem assim. 

Ora o assunto piropos na rua a mulheres/raparigas/crianças está a tentar ser assunto passível de ser discutido e revisto pelos mui nobres senhores que tomam conta deste país. Mas infelizmente a coisa já nasceu torta (o debate) porque a escolha da palavra piropo é descabida e quando o peixe morre pela boca, não há nada a fazer. Entorna-se o caldo, fecham-se as cortinas e o teatro acaba mesmo antes de saírem actores e figurinos deixando todo um público sedento de espectáculo, entregue à especulação, ao ridículo da adivinha. 

É que esta coisa dos piropos tem que se lhe diga. Para alguns. Para esses alguns, que deixam à partida de ter interesse, um piropo pode até ser uma forma brejeira de elogio. Quem não gosta de ouvir um piropo? Quem não quer ouvir um piropo se o piropo pode fazer com que um dia merdoso se torne num dia soalheiro, cheio de luz, brilhante. Mesmo que o piropo seja "oh filha, comia-te toda" ou "anda cá que o pápá ensina-te umas coisas" ou "oh boneca, nem sabes o que te fazia". E outras coisas que não me apetece escrever agora mesmo sob pena de isto se tornar um texto pornograficamente insuportável. 

A sério? A sério que isto pode ser considerado um elogio? Queremos todos acreditar que eu tenho que ouvir o que qualquer pessoa me diz na rua, porque lhe apetece? Que tenho que fingir que não ouço, acelerar o passo e, da próxima vez, escolher outro caminho ou outra saia, ou outra camisa, ou outra cara? 
Talvez tenha encontrado a resposta para todos os piropos que me possam surgir e talvez não seja a mais delicada, talvez não seja a que é suposto, mas também, um piropo, não é só um piropo. 

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os incêndios

Nos últimos anos tenho feito um esforço, um esforço sincero, para não ser tão crítica. Para não ser tão crítica comigo mas principalmente com os outros. Esforço-me por encontrar motivos que levem pessoas diferentes de mim a tomarem decisões tão diferentes das minhas. Isto, posto deste modo, parece fácil. Ah e tal, todos somos diferentes, resultado do meio em que crescemos, da cultura que absorvemos, da educação que nos deram, das experiências que tivemos e da genética, ai genética. 
Mas não é fácil, pode ser um caminho longo e penoso desfazer preconceitos. 

E depois tenho o outro lado da moeda, o outro lado da história, a outra versão de mim mesma que quer sair aqui de dentro, como se fosse um monstrinho adormecido há anos. Uma outra versão da Ana, que julga, insulta, acalma-se tentando encontrar um motivo e quando encontra o motivo explode na mesma, numa incontinência de insultos típicos de quem não encontra lógica em argumentos que, por mais força que tenham, nunca terão um lugar na razão dos Homens. 

Tenho assistido, de longe, aos incêndios em Portugal. E, sinceramente, os milhares de hectares queimados não me tiram o sono, não são as árvores que demoraram anos a crescer que me preocupam, que me fazem assistir a isto de coração apertado. As condolências do primeiro ministro, do presidente da república e as fotografias no Facebook são pormenores. 
O que me encolhe, em mim mesma, são as pessoas. E eu sou uma pessoa de pessoas. São as pessoas que perdem as casas, que com as suas t-shirts tapam a boca e o nariz para tentar acalmar o gigante que quase lhes pode tirar tudo. São os velhinhos (desculpem-me, mas a palavra idoso, tira-me do sério) que obrigados a deixar tudo para trás, se perguntam porque é que já não têm a força do passado, que os deixaria pegar numa mangueira, num balde de água, em alguma coisa que os deixasse defender o que é deles, o resultado de toda uma vida que agora deveria ser de paz. 

E os bombeiros. E este "e os bombeiros" deve ser lido e transformado em algo gigante, muito maior do que eu, muito maior do que eu alguma vez poderia demonstrar em palavras. Os voluntários, os profissionais, tanto faz. 

Quando Passos Coelho foi ao Caramulo, disse qualquer coisa como agora não ser o momento para discutir o que está mal. E eu sinceramente não sei qual será a altura, mas a julgar pelo percurso meio zombie do nosso governo, iremos discutir os meios de combate aos incêndios lá para Dezembro, quando estivermos com as ruas intransitáveis, os rios a transbordar, e os bombeiros, mais uma vez, a perguntar porque é que são alvo dos cortes, desses cortes orçamentais que nunca ninguém percebe muito bem já que andam de mão dada com a saída em liberdade, dos detidos que vão acender a chama que todos os anos nos destroem. 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Os touros atrás dos homens

Começa o verão em Espanha e com o calor os touros, touradas, corridas e idiotices por aí além. Nunca escondi que acho s-i-n-i-s-t-r-o tudo o que se relaciona com touradas, a minha tolerância só vai até aos forcados porque me parece justo, um frente a frente, com dois animais, num jogo sem inteligência, mas com força, perícia e alguma perspicácia. Mas se falarmos de toureiros em cima de cavalos, com coisas pontiagudas para espetar nos touros, roupas catitas, e peito feito, aí a história é outra. Não gosto, repugna-me e, por ironia do destino, vim parar ao país das touradas por excelência. 

Mas, já quase tendo perdido a esperança de me identificar minimamente com o desporto-divertimento-forma de vida-eh lá touro-, que os espanhóis tanto dignificam e defendem eis que há uma forma, no meio de tantas outras, que afinal me diverte, me faz rir e até acho alguma piada: os encierros (não sei como se traduz). São um costume, tanto por Espanha como na América Latina, e basicamente consiste num grupo de homens que corre (à frente, por trás e pelos lados) com uma manada de touros, o mais próximo possivel mas sem chegar a tocá-los. 

É fácil perceber porque me diverte e porque não mudo imediatamente de canal, que é o que faço normalmente quando sou premiada por imagens com touros e humanos. Aqui, nos encierros, animais e homens, estão lado a lado, durante um ou dois minutos, e correm - se correm - caem, uns magoam-se, outros ficam para trás, e quase nunca há feridos graves. Mas são as caras, dos homens, que acho deliciosas. Olham para trás, com os olhos arregalados, como se fugissem da sogra que acabou de descobrir que afinal não há genro perfeito para ninguém, ou da mulher, furiosa, que acabou de descobrir a marca de batom na camisa branquinha, imaculada. Quando não podem fugir mais, porque é isso que fazem, giram, rapidamente, para a esquerda ou para a direita, e enfiam-se numa cerca, que está ali para os proteger, dos touros que são obrigados a mostrar a sua imponência se alguém se atravessa no seu caminho. Faz-me lembrar a altura em que brincava às caçadinhas, havia sempre um sítio que era a casa, uma vez chegada aí, já ninguém me podia tocar para me apanhar. E é essa, exactamente essa, a cara dos corredores: cansados, cheios de adrenalina, quase gritam "CASA", não me podes tocar. 

Houvesse umas corridas assim, com os touros como políticos, e os corredores como políticos, e eu divertia-me bem mais a ver televisão. 


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Calor infernal

"Ligue o ar condicionado", "Não está a funcionar, minha senhora", "Então devia ter posto um papel na janela a dizer que não estava a funcionar para podermos decidir se entramos neste autocarro ou não", "Não temos ordens para fazer isso", "Incompetentes". - ar desesperado de quem vive neste mundo mas gostava de viver noutro.

Quando hoje entrei no autocarro e ouvi esta conversa, achei que estava num mundo paralelo. Achei que esta senhora estava num dia mau - acontece a todos - que tinha bebido água tónica com muito limão e sem Gin, que tinha um neto chatinho de quem ia tomar conta, que o marido lhe tinha dado um chuto no rabo há uns anos atrás ou que chegara o dia, o péssimo dia de pagar os impostos. Hacienda mia, hacienda tuya. 

Andamos descontentes. É entrar numa loja e ver as caras alegres de quem nos atende. Sim, não, talvez. Monossílabos. De todos os "bom dia" que solto, são poucos, quase nenhuns, que me respondem. Não conto com os grunhidos. Andamos descontentes. Chatos, chateados. Com a certeza que pode piorar, mesmo que não saibamos, mesmo que nem nos atrevamos a sonhar com um mundo pior, cheio de impostos, aumentos de preços, descidas de poder de compra, férias traduzidas em dias sem-nada-que-fazer-que-mais-valia-estar-a-trabalhar. 

Mas podia ter sido só o calor. Claro que podia ter sido só o calor. Andamos, por aqui, entre os 28 e os 40 graus. E chateia. Se chateia. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Você tem noção, Judite

A página, no Facebook, Judite de Sousa - a vergonha do jornalismo, já conta com mais de 500 gostos. Durante o dia de hoje o meu mural encheu-se de protestos para todos os gostos e feitios. Uns contra, uns a favor e uns mais ou menos e naturalmente uns com os quais concordo e outros que roçam a mesma vergonha que Judite de Sousa me fez sentir. 

Depois de tanto zum zum tive que ir ver a tal entrevista a um tal Lorenzo que nunca tinha sequer ouvido falar na minha vida e não consegui parar de rir. Mas era aquele risinho nervoso, miúdinho igual ao que sentimos quando dizemos alguma coisa muito inconveniente. E cheguei à conclusão que venham, podem vir os Miguel Sousa Tavares e os palhaços adjuntos, que venham os apresentadores que afirmam que no Brasil se fala italiano, que venham, porque ainda nada me tinha feito sentir aquela vergonha miudinha. 

Ora, Judite de Sousa, jornalista portuguesa de renome, já teve, sentadas naquela cadeira, dezenas de pessoas, a quem deveria ter feito algumas perguntas cujas respostas me interessariam bem mais. Perguntas bem mais ao nível jornalístico que deveríamos ter e estar habituados. Mas na verdade é mais fácil tentar descredibilizar o cidadão comum, o que não se defende porque não sabe o que o espera, o que não combina as perguntas e respostas, o que não lhe emprega o filho-tio-primo e dá uma ajudinha, um empurrãozinho. 

sábado, 27 de julho de 2013

Tristeza, tratemo-nos por tu

Ontem acabei a noite triste. E tu, que lês isto, vais provavelmente dizer-me que nada merece a minha tristeza, que é só uma, só uma fase, que tenho que sair e distrair-me, que tenho que deitar a tristeza para trás das costas, que tenho que esquecer, fingir, nem sequer pensar muito no assunto. 
Que tenho que ir dançar, cantar, sorrir e fingir que abraço. 

Não. 
Porque a tristeza tem força, tem significado. Tem tanta força, tanto significado, importa tanto como os meus sorrisos, como os teus sorrisos, importa tanto como a felicidade, como a calma, importa tanto como o melhor momento da vida. Porque é também pela tristeza que cresço, porque é a tristeza tão legítima, tão verdadeira como a felicidade. Não preciso disfarçá-la nem tirar-lhe o ar, para que possa fingir que não está lá, que desaparece, que afinal foi só um engano, que afinal não estava triste. 

Prefiro enfrentá-la. À tristeza. Preciso dizer-lhe que venha, as vezes que quiser. Porque há dias assim, em que não quero dançar, cantar, sorrir e fingir que abraço. Porque há dias em que sorrio à minha tristeza e ficamos as duas, a pensar o que vamos fazer uma com a outra, sem mais ninguém, porque estaria esse alguém a mais. 
E sempre com o mesmo objectivo, esperar que passe em vez de a esconder, para que nunca me possa apanhar desprevenida.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Yo misma, por España

Dicen, por ahí, que los portugueses y los españoles tienen em si mismos todas las diferencias y las igualdades que caben en dos mundos. Dos mundos aparentemente tan distintos y que hacen, desde que estoy aquí, que busque aún mas diferencias y igualdades para que me pueda sentir parte de un sitio que, poco a poco, se va tornando mío.
En Cáritas, encontré todas las semejanzas, encontré en todos, especialmente en los niños, que no importa de donde venimos, quien somos. Lo que sí importa es lo que tenemos para dar, de corazón, detrás de un gesto, de un cariño, de una sonrisa. Son dos horas y media, casi todos los días, de juguetes, de tareas, de minutos desinteresados para que lo pasemos bien. Es esta la magia de Cáritas: todos estamos ahí, iguales, yo como parte de ellos y ellos como parte de mi.
Y son los niños, ciudadanos del mundo, que hacen, todos los días, poco a poco, que crezca, que vea que sí, que por su energía, por su simplicidad, por su entrega, merece la pena que esté aquí.


Tenho este país, que me escolheu, de luto

É impossível não escrever sobre o que se passou ontem na Galiza, em Santiago, no dia de Santiago. Um acidente impressionante, cheio de dor, cheio de tragédia, cheio de culpas. Um comboio que circula a 190 klm por hora numa zona que não podia ultrapassar os 90. 

As imagens, mesmo que de longe, pela televisão, são indescritíveis. Mas há, no meio de tudo isto, a parte a que nos agarramos, a parte que queremos que fique, mesmo que possa parecer a menos importante: doadores de sangue que fizeram filas de horas intermináveis para poderem ajudar e dar um bocadinho de si, vizinhos, que quase assistiram à tragédia, que romperam com as próprias mãos as janelas do comboio, hotéis que oferecem quartos para que as famílias possam descansar, médicos e enfermeiros que não precisaram ser chamados para ir para os hospitais. 

E é de facto nestes momentos, que não são nossos, que não são meus, que me enchem o peito de um nó, enorme, porque esta, esta vida, não é para sempre nossa. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Deixem-me lá ser magra em paz

Vamos lá ver se a gente se entende porque de facto esta coisa de estarem sempre a dizer-me que estou muito magra começa a arrepiar-me os pelos da nuca e a chatear-me. E a verdade é que não ando por aí a soltar uns "ai, estás tão gorda, uma dietazinha ia bem, não?" ou "se fechares a boca pode ser que emagreças uns quilinhos, sua badocha".

Sempre fui magra, sempre. (Esquecendo os dois anos que deixei de fumar). Não faço dietas, não fecho a boca para-nada-de-nada. Como Nutella às colheres, como leite condensado sempre que me apetece, gelados, donuts ao pequeno almoço, ponho açúcar no café, e adoroooo brigadeiros. Mas não há quilo que me pegue. E isso não é, de maneira nenhuma, um decreto e portanto dispenso que me digam que estou magra. 

E não me venham com teorias, não me digam que ser magra é melhor que ser gorda, porque para as gordas é difícil emagrecer e para as magras é difícil engordar, as simple as that. Felizmente tenho uma mãe e um pai que me deram educação, que me ensinaram a calar quando quero que saia uma barbaridade pela boca fora. Mas também fui aprendendo que o que basta, basta. E portanto pode ser que da próxima vez que me digam que estou tãoooooo magra, possa "o" ou "a" ouvir o que não quer.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O que ninguém nos diz quando decidimos emigrar #1

1. Estar longe é isso mesmo, estar longe. E custa. Pa caraças.
2. Aprendemos a lidar connosco o tempo suficiente para nos perguntarmos, a nós mesmos, como é que os outros nos aguentavam tanto.
3. Não podemos estar quando os nossos precisam de nós.
4. Acabamos por jurar que vamos criar família e acabar os nossos dias na nossa querida terrinha.
5. Os políticos, governos, crises, são iguais aqui e aí.
6. O papel higiénico não aparece no sítio dele.
7. Fazer jantar todos os dias é um problema sério.
8. A roupa não se lava nem se passa a ela mesma.
8.1. Pensas duas vezes antes de pôres para o monte da roupa suja as calças que afinal não quiseste vestir de manhã.
9. Passas a dizer "a casa dos meus pais".

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Preferia não ter visto

Lexi Oliver Fretz deu à luz um bébé de 19 semanas. Claro está que viveu poucos minutos e que tem que ter sido um momento difícil. Não imagino o quanto. E este meu post não serve para falar da dor da mãe, do pai ou da restante família. Isso (a dor) tem que ser indescritível e impossível de escrever, pelo menos por mim. 

Mas a notícia (no Jornal de Notícias de hoje) não surge pelo bébé de 19 semanas, vamos lá ver, isto acontece muito, em mulheres à volta de todo o mundo, faz parte do lado mau da vida (e todas as outras teorias que queiram pensar). A notícia surge pelas fotografias que Lexi decide mostrar ao mundo e que aparecem neste blogue. São fotografias fortes, duras, e que, roçam o ridículo. Desculpem lá, mas não encontro outra forma de descrever isto.

Em primeiro lugar imagino que este seja um momento de intimidade, de família, de recolhimento. Mas isso dou de mão beijada; a internet veio pôr a nú o que nunca achamos que poderíamos assistir, mas assistimos. E mesmo que esta família queira dar importância ao que aconteceu através destas fotografias, mesmo que queira mostrar ao mundo que, às 19 semanas, um bébé já é um bébé, caíram em exagero. E que forma de exagero.

A primeira fotografia chegava: a mão do pai, da mãe e do bébé, pronto, feito, chega. Mas não, não chega, e portanto podemos ver as outras duas filhas com o bébé, a pegarem nele, e a verem, curiosas, suspeito eu que não percebem muito bem o que têm nas mãos. E alguém, por trás, meia distorcida, distraída com o telemóvel, como se fosse uma cena de um filme, sei lá de que género de filme. 

Não quero continuar a descrever as fotografias, porque me arrependi imediatamente de ter ido ao blogue. E de ter dado atenção a uma notícia do Jornal de Notícias, mas pronto, pelo menos já passou a parte má do dia; há sempre uma, em todos os dias.

Hora do chá com Jimmy Choo

Era um mundo ideal se eu pudesse: 

- apanhar um avião para Hong Kong

- ir directa aqui 



- fazer uma massagenzita 


- relaxar aqui 



- e lanchar ISTO, que não tem um aspecto do outro mundo mas vá... Quantas pessoas podem dizer que lancharam sapatos Jimmy Choo




quinta-feira, 11 de julho de 2013

Portugal, era, Portugal

Ultimamente ando sem vontade nenhuma de escrever sobre Portugal. Se o imagino tenho sempre a sensação de que anda perdido, cansado e sem força. É que a luz ao fundo do túnel é a luz que indica outro túnel. 

Saí daí sem lhe desejar nada de mal. Antes pelo contrário. Tenho dentro de Portugal família, amigos e pessoas a quem quero muito bem. Uns que sei que vinham embora, se pudessem, outros que não trocam o mar, as pessoas, o rio, os sotaques, o sol e a chuva por nada deste mundo. Como se Portugal fosse o perfeito imperfeito que sempre quisemos só para nós. Mas esse perfeito imperfeito está abandonado porque foi abandonado pelas gentes, pelas gentes que o fazem e que sempre o fizeram. 

Quem saiu, como eu, deixa-se levar, sem querer saber muito, sem discutir, sem vontade de indignação. Quem ficou, está morno, está preocupado consigo e vai vendo "no que isto vai dar". 

Ontem esperei, ansiosamente, pelo discurso de Cavaco Silva. E a internet bloqueou. De repente só via a imagem estática, no ecrã, com umas legendas quaisquer que agora mesmo não me lembro. Restou-me ler as notícias que iam actualizando conforme o PR ia falando. E claro, o resultado foi mais ou menos o esperado. Entendimentos, acordos, governo tri partido e tri partilhado. Uma solução morna, de quem deixa Portugal governar-se a si mesmo, mesmo que não seja uma pessoa, mesmo que seja um país, anímico, que espera a sua gente. 

Cavaco Silva não sabe ser pai, nunca soube. Deixou-se levar pelas birras, fez com que não tivessem importância. Preferiu que os três outros se entendessem, como se os tivesse fechado num quarto. E, se por acaso, isto acabar de pernas para o ar, a culpa nunca será sua, porque fez o melhor que podia. E fazer o melhor que podemos, quando esse melhor não existe, é o mesmo que que encolher os ombros e deixar andar. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

As carteiras que não são de mulher

Todas mas todas (esta todas é para ler com convicção, força, bem alto) as mulheres têm uma qualquer fixação por carteiras. A ser verdade, que o é, o lema de quando falamos de carteiras é sempre o mesmo: quantas mais, melhor, e quanto melhores, melhor. 

Há fases, é certo. Lembro-me quando uma só me chegava porque ainda tinha vergonha de usar carteira, nem sabia bem se era o que devia fazer. Nem sequer sabia o que enfiar lá para dentro: não tinha telemóvel, cartões, bilhete de identidade, nem sequer um batonzinho de cieiro para encher aquele espaço vazio. Nem sequer sabia o que fazer com ela (carteira) quando ia ao quarto de banho porque pendurá-la no puxador da porta ou no suporte do papel higiénico foram coisas que fui aprendendo com o tempo (senhores e senhoras por aí, donos de restaurantes, cinemas, cafés e todo o tipo de serviços, é favor colocarem um suportezinho para as nossas carteiras, é um bem necessário para o mulherio em geral). 
Sabia lá que, um dia mais tarde, andar com uma carteira ou com uma mala de porão ia ser mais ou menos o mesmo: pesada, cheia de coisas que provavelmente não irei usar mas que podem fazer falta. Been there, done that.

Dizia eu, todas temos uma obsessão, fixação, por carteiras e eu entendo as escolhas quase todas: as fluorescentes, as pequenas, as médias, as enormes, com flores, falsas, carérrimas, sei lá, é todo um mundo. Mas eu disse, aí em cima, que entendia as escolhas quase todas, não todas. E há uma que me intriga especialmente: quando vejo uma mulher, costuma dizer-se uma mulher feita, com uma carteira cheia de bonecadas: ou a Kitty, ou a Betty Boop, ou outra qualquer. Não importa se é gata, rata, ou um animal qualquer, importa que é uma mulher, feita, que escolheu sair de casa com uma carteira que pode muito bem ter surripiado do armário da filha, ou pior ainda, pode muito bem ter comprado a carteira e ter dito quando chegou a casa "Filha, olha o que comprei para nós". 
É quase tão mau como as crianças que agora usam biquini na praia sem saber muito bem onde é que encaixa cada bocado de tecido. 




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sobramos nós

Começo a preocupar-me quando acho hilariante em vez preocupante. Qualquer que seja a situação, mesmo que seja pelo facto de ter, uma pulga atrás da orelha, que mexe tanto, mas tanto que não me deixa descansada. Há quem diga que somos os próximos, que vamos pelo mesmo caminho da Grécia, há quem diga que Portas tanto fez birra e largou ranho, que a vitória foi sua, e eu digo que não há vitórias depois da palhaçada à moda portuguesa, com tripas ou sem tripas. 

Se Portas decidir fazer mais uma birrinha com os que mandam nesta porcaria toda, vamos pelo caminho da Grécia, em modo comboinho; se decidir continuar com a polîtica de Gaspar, directamente patrocinada pelos manda chuva de preto e pela nova ministra, continuaremos em manifestações, greves, privatiza aqui e acolá. Até ver não houve vitórias e diz-me a tal pulga que não estamos sequer perto delas. E tenho a sensação que bem podíamos ter o país à venda que não haveria alminha nenhuma que o quisesse, a não ser Seguro, que tenta, e tenta e tenta.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Fungos, axilas e o Gaspar do meu jantar

Gosto de comer. Não sou nada esquisita quando o assunto é comida, seja de que tipo e feitio. Sou até uma pessoa bastante descomplicada no que toca a experimentar coisas novas. Mas detesto, detesto quando me estragam a refeição mais calma que tenho durante o dia: o jantar. E hoje, que estou com o meu humor pelas ruas da amargura, os estafermos dos anúncios, acordaram o meu mau feito e estragaram-me a porra do jantar. 

Não era nada de especial. Umas coisitas para picar. Entre elas, pasta de atum, cheia de ovo cozido ralado. E justamente quando dava uma trinca para acabar a última parte da tosta o desodorizante não-sei-o-quê decide explicar-se e dizer que actua na flora bacterial das axilas. Como se esta frase não fosse suficientemente conspurcada, ainda mostra centenas de axilas, centenas, como se fosse a despedida do cheiro das axilas de todo o mundo. Qual despedida de solteiro, qual quê, o que está a dar é a flora bacterial das axilas.

Respirei fundo e até consegui controlar bastante bem a minha imaginação que fugia para caminhos nunca antes navegados, como axilas que cheiram bem e axilas que cheiram mal a combater, desenfreadas, não fosse uma ou outra vigorar num mundo em que os desodorizantes deviam ser como os preservativos: oferecidos em todos os centros de saúde.

Dois segundos depois, DOIS SEGUNDOS, aparece-me o Dr. Scholl. E eu que hoje não fiz mal a ninguém. O Dr. Scholl anuncia o combate aos fungos. E MOSTRA o raio dos fungos em pés que só podem ser de outro mundo. 

O resto do meu jantar, esteve mais perto de ser atirado à parede do que ser guardado em papel transparente e posto no frigorifico, mas depois lembrei-me que, se o Gaspar se pode despedir e se as Swats não impedem a outra de ser promovida a ministra então o mais provável é que o jantar não me tenha caído assim tão mal pelos fungos e axilas.

sábado, 29 de junho de 2013

Inveja é coisa feia

Hoje é sábado e portanto, dia de devorar tudo o que são notícias nacionais e dar um olho ao que se passa lá fora. Tenho tido dias em que me chateio com algumas notícias, mas hoje, digo-vos, hoje foi dia de gargalhar até não poder mais. Há bom jornalismo em Portugal, é cada vez mais escasso, cada vez mais duvidoso mas lá vão aparecendo coisas que merecem ser lidas. Outras, nem tanto. E depois há a categoria seguinte: o tipo de jornalismo que me faz vir para aqui escrever porque quero - quero muito- que se riam, que gargalhem como eu.

Bem sei que o Correio da Manhã é sui generis, mas a verdade é que se não fosse lá espreitar, nunca veria coisas destas e consequentemente não as poderia partilhar. O que se passa é o seguinte, Sofia Rocha, no Estado de Sítio, decidiu opinar sobre as férias de Cristina Ferreira (apresentadora de televisão). O título é Cristina Ferreira foi de férias mas não devia e o vídeo é hilariante. Esta senhora, em primeiro lugar, só pode ter visto horas seguidas de programas com José Hermano Saraiva - com todo o respeito que lhe devo (a Hermano Saraiva porque a Sofia Costa ainda não decidi). É que não encontro outra explicação para a forma como fala e gesticula. Tem que ter sido um castigo qualquer, cruel e depois a coisa entranhou-se de tal maneira que não é possível não rir.

Discorre uns minutos (felizmente poucos) sobre o porquê de Cristina Ferreira não dever ir de férias, ou melhor, dever até deve, mas não para as ilhas gregas, porque a figura pública deve dar o exemplo e não ir gastar o seu dinheirinho para fora de Portugal. Say what? Dá até uns pequenos conselhos, porque ir com o seu dinheiro, depois dos impostos que deixa em Portugal, deveria estar fora de questão. Açores era a escolha acertada. Troquemos as ilhas gregas pela ilha dos Açores e assim já podemos ser uma figura pública consciente do papel que representa na sociedade portuguesa. Eu cá para mim acho que a apresentadora devia aproveitar e fazer as malinhas mais vezes, não vá o Gaspar lembrar-se de aumentar os impostos e taxar as contas chorudas dos bancos para ajudar a pagar a crise. 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Brasil no mundo

No Brasil a coisa ficou preta e parece-me que está na hora da onça beber água, que é o mesmo que dizer que estão num momento decisivo. E justamente criaram esse momento, foram espertos. A esperteza brasileira deixou-nos a todos de boca aberta. Quero ver quem são os saloios agora. 

Segundo o The Economist (22 de Junho) estas são as maiores manifestações que se viram nas últimas duas décadas. Começou com o protesto do aumento dos transportes em 20 centavos e foi escalando por aí acima. Corrupção, educação, saúde, inflação e o custo do mundial de futebol do próximo ano em que o Brasil gastou, num só estádio 7 biliões de reais - três vezes o custo do mundial na África do Sul. 

Estão nas ruas, em todos os estados, justo agora que todo o mundo os está a ver: com a copa de confederações e o pensamento no ano que vem, no mundial. São estes, os brasileiros, que o mundo todo vê: no The New York Times, no El País, no The Guardian, no Clarín. Ontem, o The New York Times, publicou um artigo sobre a corrupção política, sobre a quantidade de pessoas que exercem o seu cargo no Parlamento mesmo depois de serem acusados por se envolverem em crimes. O total? 200, ou um terço dos que existem. É que até 2001 os políticos só podiam ser processados com a autorização do congresso.

Mas afinal o que se está mesmo a passar no Brasil? Já não importam os 20 centavos, já não importa o mundial ou os olímpicos, importa o que vem a seguir, o que vai acontecer em cada um dos lados: o dos que estão na rua e o do Estado. Esperamos para ver.



O pimento cá do sítio

Que se passa com este país? Maravilhoso no futebol, nos bares, nas tapas, nas gentes e do pior que há em água? E o café? Ai o café. 
A única explicação que encontro é que esta gente não bebe água, não pode, beber água, nem sequer sabem o que é água. Porque a água daqui sabe. E não devia saber. Inodora, incolor, blá, blá, blá. 

Quando vou almoçar ou jantar fora, desconfio que os empregados de mesa se riem de mim como se não houvesse amanhã. E têm por certo que os portugueses não batem bem da cabeça porque não, não se bebe água às refeições. E depois tiram-me logo a pinta quando chego e lhes peço manteiga. MANTEIGA. É vê-los a entreolharem-se para decidirem se eu existo mesmo ou se sou um ser caminhante do além. 

A saga continua. Vim viver para um país que põe pimento em tudo o que mexe, em tudo o que se come. E eu detesto pimento. O pão leva tomate e pimento. As azeitonas levam azeite, alho e pimento. As saladas levam tudo o que eu quiser que levem e pimento. Tudo tem pimento e eu só quero que o pimento esteja na paelha, tudo o que seja para além disso é pimentalhada a mais. É verdinho, vermelhão, pimentinho e pimentão. Que salgalhada.


domingo, 23 de junho de 2013

Bloglovin

E pronto, já lá estou.

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Meio meio

Nós somos a raça mais insatisfeita de todo o planeta. Ai somos, pois somos. Olhem só para mim, que sempre fiquei longe das agitações, porros e martelos de S. João e hoje mesmo nem me importava de fingir que tudo isso era espectacular. Dispensava as sardinhas mas as fêveras caíam que nem ginja. 

Sou daquelas pessoas que foge de multidões - isto deve-se à minha estatura que dá um jeitaço para umas coisas mas que, para confusões humanas, não é o melhorzinho que os meus pais me deram. Nem sequer posso culpar a genética, todos crescem e eu vejo-os a passar por mim. 

Continuando, insatisfeita. Pois somos. Estamos e devíamos estar noutro sítio, não estamos e queríamos estar. Estamos e se calhar até nem era preciso. Não estamos e precisávamos estar. 
Isto não é um síndrome portuga. É um síndrome humanóide. Eu queixo-me, é certo, mas quem-não-se-queixa?

E nem precisamos levar isto para o negativo. Ora vejamos: tenho um carro mas queria aquele, aquele outro. Pedi isto para o almoço mas o teu, é o teu que tem melhor aspecto. Comprei estes sapatos, mas são aqueles outros doze pares que eu queria (beicinho). E sobre o tempo? Acho que o tempo, se fosse uma pessoa, seria esquizofrénico e sofreria como um porco prestes a entrar no matadouro por tudo o que dizemos dele: "ai que frio", "ai que calor", "que saudades das botas" "nunca mais vem o calor", "não se aguenta o sol",  "nunca vivi um inverno como este", "o sol este ano está a queimar a sério", "já não chovia assim há anos". Esquizofrénico seria pouco.

E cada vez mais acho que fazemos isto de propósito. O que seria de nós se perguntássemos aí ao vizinho: "então, tudo bem?", e em vez de um: "vai-se andando", recebêssemos um efusivo, quase a roçar a loucura: "wassuuupppp? Tudo espectacular".
 
Deixaríamos de dar importância à insatisfação e passaríamos a tentar ser os mais felizes do mundo. Ou iguais uns aos outros mas mais felizes na mesma. Deixaríamos de parte o mais ou menos e passaríamos a querer ou o mais ou o menos. Esse meio meio deixava de interessar. Ou não?


sábado, 22 de junho de 2013

Desanimadíssimamente

Tenho andado sem grande vontade de escrever. E esta minha pouca vontade, chateia-me. Chateia-me porque há imenso para escrever, há imenso sobre o que escrever. Porque mesmo que não escreva não significa que deixe de pensar nas coisas, antes pelo contrário, penso bastante nas coisas, mas não tenho vontade de escrever sobre elas. 

Estou com a crise pela ponta dos cabelos. Já não posso ouvir falar do Passos, do Cavaco Silva, do Crato, do fmi, da troika. Tenho com todos eles uma relação desesperada, necessária, quase doentia. E sinceramente cansam-me. Tiraram-me a vontade de escrever, coitada de mim. Conseguiram até tirar-me a compaixão que poderia eventualmente sentir pelos brasileiros. Porque estou mesmo farta. 
Já nem leio as notícias, fico-me pelos títulos para que não me sinta a menos informada de todas. Mas dispenso os pormenores. Vomito os pormenores. 

E o maior problema de todos é que estou sem saber lidar com isto. Que raio de pessoa sou eu que simplesmente deixou de querer saber? Que olha para as pessoas que lutam e pensa "esqueçam lá isso que não vão a lado nenhum"!, que sabe que discurso vai ser dito por quem e que mesmo assim troca de canal para ouvir as estupidezes do Sheldon? Estou anímica, completamente anímica. 

Espero que seja passageiro. Mas até que passe, deixo-me de politiquices, deixo de querer saber, ou de mostrar de que forma quero saber. Não será durante muito tempo, nem um estado grave sem retorno, é que entre Nutellas e Kinder, isto há-de passar. 



domingo, 16 de junho de 2013

O padre do meu afilhado

Ontem tive o baptizado do meu sobrinho e agora (cof, cof) afilhado. Estiveram lá o stress, as idas frenéticas ao cabeleireiro, as unhas que não secam, os tacões (nada recuperada ainda), os atrasos e o nervosismo. A festa foi deliciosa, o tempo deu-nos uma mãozinha e o Francisco estava maravilhoso no seu papel de protagonista.

Embora gostasse de contar pormenores como a minha ida ao hospital com a minha irmã mais nova (ida e volta, rapidinho), o bolo distribuído pelas caras, a comida, os doces, a música, não é esse o objectivo. Até porque cansa-me imenso ler sobre festas (celebrações, vá) às quais gostava de ter ido e por alguma razão não fui. Ou mesmo ler sobre as que não fui, porque não quis e que, na verdade, não interessam assim tanto. 

Queria falar do Padre. Entusiasmou-me. Tenho uma crença muito própria. Tenho uma fé muito minha e não acredito em tudo o que me ensinaram quando era criança. Não acredito naquela Igreja que é fundamentalista com a vida das pessoas. Não acredito na Igreja que não baptiza, que não casa, que não permite, que não conversa, que avisa, que diz lá do alto, sem saber o que está aqui por baixo. Fui deixando (mea culpa) de querer saber. Fui reconhecendo o meu Deus, em mim, distinguindo o que está certo do que está errado pelo valores que são meus, pelos valores que me ensinarem, pelos valores que me fazem acreditar em mim e nos outros. E ontem, ontem este Padre restaurou-me. Baptizou o meu sobrinho mesmo não sendo filho de pais casados. E avisou, avisou que o Francisco tinha vindo para os fazer (aos pais) crescer. Como Homens. A serem melhores. E que são estes os planos de Deus. Chamou-lhes presentes, "O Francisco é um presente para vos ensinar a crescer".
Falou-nos perto, desceu as escadas do altar e esteve ali, a conversar, a rir e a baptizar. 

Restaurou-me. A sério que sim. A mim e a todos. Porque me diziam, no fim da missa, se todos os Padres fossem assim, as Igrejas estariam cheias. 



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Eu e as revistas femininas

Gastar dinheiro em revistas femininas é o mesmo que pegar nesse mesmo dinheiro e deitá-lo fora. Assim mesmo, sem dó nem piedade. Sem tirar nem pôr. 
Tive uma fase em que as comprava todas. Entretanto já se passaram uns anos mas eu continuo a insistir, nessa ausência total de amor ao dinheiro, em comprá-las.
É todo um ritual: passo a segurança do aeroporto, dou umas voltas, acho que não vou comprar nada, dou mais umas voltas e aquelas lojas apanham-me com a mesma rapidez daquele boneco animado que fazia "mic mic" mas que eu agora mesmo não me lembro do nome, nem tenho internet para procurar e, provavelmente, quando publicar este post nem sequer me vou lembrar que precisava de saber o nome. (Mic mic, quem diria).

Depois, quando já estou na dita loja, essas que estão por todo o lado, vermelhas, com montras horríveis, produtos ainda piores, caras, sem nada mesmo que lhe pegue, a não ser, serem as únicas, e portanto é um quero posso e mando aeroportuário e todo um aglomerado de gente que vê, volta a ver, não quer comprar mas às vezes tem que ser, (ufa) compro. Compro as malditas revistas. E acho mesmo que me arrependo de as ter comprado quando ainda nem sequer as comprei. Não sei se isto será possível. Mas são cá coisas minhas. 

Há um leque de escolha variado. Há sim senhor. E a mesma revista tem dois tamanhos diferentes. Um normal e outro mini. Cabe em todas as carteiras e deixa que todos os bolsos possam gastar. O difícil é mesmo escolher. Na revista A temos uma actriz ou modelo ou cantora na capa, na revista B temos uma actriz ou modelo ou cantora na capa. Na revista C temos uma actriz ou modelo ou cantora na capa. E por aí seguiremos até que se esgotem todos os exemplares de cada revista. 
A variedade não cabe aqui, não quando o assunto são revistas femininas. Vejamos o conteúdo: verão, claro. E com o verão temos os biquinis, trikinis, as cores vibrantes, o fim do preto e cinzento e castanho. Temos páginas inteiras de protectores solares, de dicas "como tratar o seu cabelo" e, como não podia deixar de ser, a estrela das estrelas, a dieta. 
E ficamo-nos mais ou menos por aqui. De vez em quando aparecem uns estudos duvidosos (o da que eu comprei fala sobre a falta de apetite sexual nos homens, ensina que a dor de cabeça não é exclusiva da mulher) e uns artigos de opinião que bem espremidinhos são capazes de dar qq coisa. 

As únicas explicações que encontro para comprar isto são: a) as minhas visitas ao cabeleireiro diminuíram drasticamenteeee desde que saí de Portugal; b) há dezenas de outras revistas que me interessam mas são demasiado caras e sei que posso lê-las na internet a custo zero; c) toda a mulher precisa de um banho de estupidificação de vez em quando.

Vou voltar a comprar, provavelmente, mas pelo menos fica aqui o descargo de consciência. 

Só mais uma coisa, comprei também o jornal Marca. E tem, nas duas páginas centrais (isto é importante) uma notícia sobre o FCP. A minha equipa é, para mim e para os nuestros hermanos, El Rey Midas del Fútbol. E para quem não sabe nada desta coisa de Rei Midas, é favor ir ver. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Portugueses tristezes

Nuno Crato está triste. Diz mesmo que está "muito triste" e a culpa é dos sindicatos dos professores que não querem chegar a acordo, são intransigentes e estão a prejudicar os alunos e as famílias.
Nuno Crato não é palhaço nenhum, é triste, está triste como todos os portugueses. Diferentes razões, claro. Mas chama-se tristeza na mesma.

Há um estudo, feito pelo the economist (não consegui encontrar o original mas está aí, no link, a notícia do Diário de Notícias), em 2009, que revela que os portugueses são os cidadãos mais tristes da Europa. Os mais tristes e os mais desmotivados competindo apenas, lado a lado, com a Hungria e a Bulgária.
Se em 2009 éramos os mais tristes, agora mesmo devemos ser os mais desesperados. Não há estudo que seja necessário. Basta olhar, basta ouvir e percebemos. Desesperados, desacreditados, incrédulos, cheios de fado, cheios de nunca sabermos onde estamos e para onde vamos.

Mas há vários tipos de tristeza. Como poderia o mundo da tristeza ser assim assim tão simples? É que nós, portugueses, temos tantas formas de nos sentirmos tristes, e a nossa parece ser sempre a mais importante, que nos (me) dá vontade de nem tentar perceber a tristeza dos outros. Vejamos Cristiano Ronaldo. Há alguns meses veio dizer que estava "un poco triste" e por isso não festejava os golos. Poucas pessoas vêm para Espanha ganhar 50 mil euros por dia. Recomendo-lhe uma boa dose de optimismo, dizem que o exercício é a melhor forma de terapia e, mesmo não podendo cair no idiotice de dizer que ele tem tudo, sempre pode ter quase tudo.
Depois temos Saramago, que se acomodou por aqui (Lanzarote) mas nem por isso deixou de espalhar o sentimento de tristeza pelo mundo. Disse que os seres humanos crescem mais na melancolia do que na alegria. Sendo português, todos lhe dão crédito por estas palavras.

No meio de tanta tristeza há um que nos salva, há um que nos apresenta ao mundo para que nos possam (re) conhecer de outro modo. Mourinho o que era the special one, quer agora ser, o the happy one.
Queremos todos.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

O furacão em cada mulher

Parece-me que os criativos do novo anúncio da cerveja Andes andaram a ler Schopenhauer, ou sonharam com ele ou lembraram-se, naqueles ah ah moments, que ele (Schopenhauer) disse, um dia, que "a mulher é um efeito deslumbrante da Natureza". Pois, somos! Se chegamos à força de um furacão?, talvez não. Mas dizem-me, os homens que conheço, que não há feitio igual ao feitio de uma mulher.

Ao contrário do que muitos pensam, os nomes escolhidos para as forças destruidoras da natureza (furacões, tufões, tornados) não são apenas de mulheres. Há uma lista, definida, que intercala nomes femininos com nomes masculinos (nem sempre foi assim, é verdade, até 1978, para furacões, eram usados apenas nomes de mulheres, mas com a pressão de alguns grupos feministas isso passou à história).

De todas as maneiras e mesmo com igualdade entre nomes, géneros e furacões quem é que se lembra daqueles com nomes de homem? Ah pois... Já o Katrina, Rita, Sandy e Wilma vêm rapidamente à memória. (Ok, o Mitch foi o mais devastador dos últimos 200 anos mas isso agora não interessa para nada.)

Não vou transformar este texto num daqueles feministas. Tenho pouca paciência para mulheres que querem direitos iguais mas que depois, na hora de pagar a conta, estão distraídas com o verniz que está a sair, mesmo ali, no canto da unha. No entanto não abdico de alguns direitos que não são propriamente meus, mas que eu gosto que sejam (que é o mesmo que dizer: é bom que sejam). Gosto de poder andar sempre do lado de dentro do passeio, passar à frente nas portas (dispenso que as abram por mim), ter todos os sintomas (e mais alguns) de tpm (e ainda mais alguns), carregar o mínimo de sacos possíveis, principalmente quando são de supermercado, dizer que sim quando quero dizer que não. Enfim, direitos que me assistem e que não sei se poderia abrir mão deles.

Dizem os espertos, hum hum, que as mulheres são mais sonhadoras, os homens mais práticos, as mulheres mais dissimuladas, os homens mais directos, as mulheres pouco amigas, os homens uns amigalhaços, as mulheres mais românticas, os homens mais aventureiros.
É toda uma mixórdia de teorias mas cá para nós, cada uma é a mulher que merece. E cada um tem a mulher que merece.


sábado, 8 de junho de 2013

Os nossos políticos emburqados

Hoje a primeira notícia que li foi a do assalto aos armazéns do Selfridges, em Londres, por homens vestidos de burca. Carregadinhos de martelos, roubaram relógios de luxo e o valor total ainda está a ser contabilizado. Já há muitos anos que países como o Reino Unido, França, Holanda ou Bélgica tratam de tentar resolver temas tão sensíveis como este. Em Londres, ainda hoje, se tenta resolver o problema dos motoristas de autocarro muçulmanos que não deixam, por sua decisão (religião) entrar cães de guia dos cegos britânicos. Isto porque segundo a lei do Corão, a saliva dos cães é impura. 

Cá por Portugal temo que a palavra e a moda se espalhem. Não porque tenhamos muitas mulheres a passear com burcas, com certeza que não. Nós, os portugueses, somos daqueles turistas parolos que quando vemos alguma coisa desse género corremos a tirar fotografias, damos risadinhas e apontamos com quanto dedos tenha a nossa mão. Aliás, em Portugal a lei da liberdade religiosa não proíbe o uso destes símbolos, só se prevê a sua retirada de escolas públicas se houver uma queixa dos pais ou professores. 

Vejamos então: os véus muçulmanos são essencialmente quatro

(i) hiyab - só cobre o cabelo e o pescoço o termo, em árabe significa esconder ou cortina; (ii) tchador - semelhante ao anterior mas normalmente de cor preta; (iii) niqab - cobre o cabelo e o rosto, revela apenas os olhos, em árabe significa máscara; (iv) burca - véu que cobre o corpo inteiro com uma rede diante dos olhos, em árabe significa consertar ou costurar.

A minha preocupação nem sequer se estende aos estudantes muçulmanos, ou às mulheres muçulmanas. Imagino que isto poderá chegar aos ouvidos dos nossos políticos. Imagino-os tapadinhos, da cabeça aos pés, a debitar orçamentos. Imagino-os, em encontros casuais, todos juntos, tapadinhos da cabeça aos pés. Imagino-os, com a troika, a brincarem aos "homens de negro": quem manda aqui agora? Entre esconder, mascarar ou consertar, a opção está em cada um (dos véus, claro).




quinta-feira, 6 de junho de 2013

O álcool por aqui, nos menores

Os pais das crianças aqui em Espanha estão tramados. As bebedeiras dos filhos vão começar a pesar na carteira. É esta a proposta do governo espanhol: mais do que uma vez, num serviço de urgência, por coma alcoólico, toca a pagar multa. Se forem menores, claro.

O governo avisa: as crias, aqui por estas terras, começam a beber desenfreadamente a partir dos 13 anos. Mais de metade das pessoas com comas etílicos que dão entrada nos hospitais, são menores de idade. Em 10 anos, estes números multiplicaram-se. As reportagens são de arrepiar. Quando se lhes pergunta o porquê de entrarem nesta vida mundana em tão tenra idade normalmente as respostas são generalizadas: I) para se sentirem mais à vontade; II) porque é cool; III) porque todos os amigos fazem.

Que os pais sejam responsabilizados pelo que os filhos fazem, parece-me que sim. Estar aos 13 anos, na rua, a horas indecentes, a beber sem parar, parece-me que não. Pôr uma criança no mundo pressupõe toda uma responsabilidade que, por vezes, é mais fácil ignorar e deixar andar. Pagar uma multa e ficar por aí, tenho dúvidas, sérias, que resulte. Ou pelo menos que responsabilize miúdos e graúdos. 

Não sou mãe mas sou filha, tia, tia emprestada, madrinha, prima e isto chega-me para ter alguma ideia de como as coisas funcionam. O papel de filha ensinou-me mais do que poderia alguma vez supor, ensinou-me limites, quais posso e quais não posso ultrapassar. Eu explico: o simples facto de os meus pais sonharem que eu alguma vez entraria num hospital por coma alcoólico, seria motivo suficiente para repelir qualquer tipo de álcool nos teeeeemmppoooosss mais próximos. E isto é só uma desculpa para perceber que o equilíbrio começa dentro de casa. 

Consumir álcool aos 13 anos é assustador, consumir álcool repetidamente, aos 13 anos, é um problema sério. E multar os pais? Os que legalmente são responsáveis pelos filhos? A resposta não pode nunca fugir ao cliché. É um elemento dissuasor, claro. Mas não educa. Não forma. Criminaliza. 

Suponho que se esta proposta segue para a frente, os amigos dos que bebem, vão deixar de chamar ambulâncias, de ir aos hospitais, vão proteger, vão achar que estão a proteger. É uma medida que não protege as crianças que bebem, nem educa os pais que pagam a multa. 

domingo, 26 de maio de 2013

Honra amargurada

Semi, semi e semi. Pois. Andamos por aí de semi em semi. Semi-despedimentos, semi-cortes, semi-juros, semi-défice, semi-crise. Semi-país. E semi-presidente. Com esta história toda do palhaço para aqui palhaço para ali, Cavaco Silva fez a mudança, de sem-presidente para semi-presidente. 
Calado, quieto, com poderes do quase-homem-que-consegue-ser-invisível a meu-Deus-como-puderam-chamar-me-palhaço.

Não é que veja quaisquer semelhanças, nenhumas mesmo. O palhaço é por definição o bobo, o que faz rir, que descontrai, que ganha a vida a ver os outros sorrir com as palhaçadas mais ridículas que nos podemos lembrar. E Cavaco Silva está longe de conseguir protagonizar esse papel. Talvez um mimo, sim, um mimo parece-me mais acertado. Daqueles que vemos nos semáforos, com a cara pintada de branco, lágrima no canto do olho, sem expressão, à espera que, por um milagre, alguém dê uma ajudinha.

Claro que Miguel Sousa Tavares abusou. E sabe que abusou. Mas é o Miguel Sousa Tavares! Aquele que gosta da polémica portuguesinha: critiquem, digam bem, mas falem, falem minha gente. É que também é preciso entender que a venda de livros em Portugal desce vertiginosamente e um escritor também precisa de dinheiro para viver, não é cá só palavras e iluminações nocturnas - essas não dão de comer a ninguém.

Isso da ofensa à honra é susceptível e aberto a discussão. Quão interessante seria perguntar a cada português, quanto bocadinho de honra sem ser ofendida é que ainda lhe resta.






terça-feira, 21 de maio de 2013

Risto Mejide - No busques trabajo

"No busques trabajo. Así te lo digo. No gastes ni tu tiempo ni tu dinero, de verdad que no vale la pena. Tal como está el patio, con uno de cada dos jóvenes y casi uno de cada tres adultos en edad de dejar de trabajar, lo de buscar trabajo ya es una patraña, un cachondeo, una mentira y una estúpida forma de justificar la ineptitud de nuestros políticos, la bajada de pantalones eurocomunitaria y lo poco que les importas a los que realmente mandan, que por si aún no lo habías notado, son los que hablan en alemán.

No busques trabajo. Te lo digo en serio. Si tienes más de 30 años, has sido dado por perdido. Aunque te llames Diego Martínez Santos y seas el mejor físico de partículas de Europa. Da igual. Aquí eres un pringao demasiado caro de mantener. Dónde vas pidiendo nada. Si ahí afuera tengo a 20 mucho más jóvenes que no me pedirán más que una oportunidad, eufemismo de trabajar gratis. Anda, apártate que me tapas el sol.

Y si tienes menos de 30 años, tú sí puedes fardar de algo. Por fin la generación de tu país duplica al resto de la Unión Europea en algo, aunque ese algo sea la tasa de desempleo. Eh, pero no te preocupes, que como dijo el maestro, los récords están ahí para ser batidos. Tú sigue esperando que los políticos te echen un cable, pon a prueba tu paciencia mariana y vas a ver qué bien te va.

Por eso me atrevo a darte un consejo que no me has pedido: tengas la edad que tengas, no busques trabajo. Buscar no es ni de lejos el verbo adecuado. Porque lo único que te arriesgas es a no encontrar. Y a frustrarte. Y a desesperarte. Y a creerte que es por tu culpa. Y a volverte a hundir.

No utilices el verbo buscar.

Utiliza el verbo crear. Utiliza el verbo reinventar. Utiliza el verbo fabricar. Utiliza el verbo reciclar. Son más difíciles, sí, pero lo mismo ocurre con todo lo que se hace real. Que se complica.

Da igual que te vistas de autónomo, de empresario o de empleado. Por si aún no lo has notado, ha llegado el momento de las empresas de uno. Tú eres tu director general, tu presidente, tu director de marketing y tu recepcionista. La única empresa de la que no te podrán despedir jamás. Y tu departamento de I+D (eso que tienes sobre los hombros) hace tiempo que tiene sobre la mesa el encargo más difícil de todos los tiempos desde que el hombre es hombre: diseñar tu propia vida.

Suena jodido. Porque lo es. Pero corrígeme si la alternativa te está pagando las facturas.

Trabajo no es un buen sustantivo tampoco. Porque es mentira que no exista. Trabajo hay. Lo que pasa es que ahora se reparte entre menos gente, que en muchos casos se ve obligada a hacer más de lo que humanamente puede. Lo llaman productividad. Otra patraña, tan manipulable como todos los índices. Pero en fin.

Mejor búscate entre tus habilidades. Mejor busca qué sabes hacer. Qué se te da bien. Todos tenemos alguna habilidad que nos hace especiales. Alguna singularidad. Alguna rareza. Lo difícil no es tenerla, lo difícil es encontrarla, identificarla a tiempo. Y entre esas rarezas, pregúntate cuáles podrían estar recompensadas. Si no es aquí, fuera. Si no es en tu sector, en cualquier otro. Por cierto, qué es un sector hoy en día.

No busques trabajo. Mejor busca un mercado. O dicho de otra forma, una necesidad insatisfecha en un grupo de gente dispuesta a gastar, sea en la moneda que sea. Aprende a hablar en su idioma. Y no me refiero sólo a la lengua vehicular, que también.

No busques trabajo. Mejor busca a un ingenuo, o primer cliente. Reduce sus miedos, ofrécele una prueba gratis, sin compromiso, y prométele que le devolverás el dinero si no queda satisfecho. Y por el camino, gánate su confianza, convéncele de que te necesita aunque él todavía no se haya dado cuenta. No pares hasta obtener un . Vendrá acompañado de algún pero, tú tranquilo que los peros siempre caducan y acaban cayéndose por el camino.

Y a continuación, déjate la piel por que quede encantado de haberte conocido. No escatimes esfuerzos, convierte su felicidad en tu obsesión. Hazle creer que eres imprescindible. En realidad nada ni nadie lo es, pero todos pagamos cada día por productos y servicios que nos han convencido de lo contrario.

Por último, no busques trabajo. Busca una vida de la que no quieras retirarte jamás. Y un día día en el que nunca dejes de aprender. Intenta no venderte y estarás mucho más cerca de que alguien te compre de vez en cuando. Ah, y olvídate de la estabilidad, eso es cosa del siglo pasado. Intenta gastar menos de lo que tienes. Y sobre todo y ante todo, jamás te hipoteques, piensa que si alquilas no estarás tirando el dinero, sino comprando tu libertad.

Hasta aquí la mejor ayuda que se me ocurre, lo más útil que te puedo decir, te llames David Belzunce, Enzo Vizcaíno, Sislena Caparrosa o Julio Mejide. Ya, ya sé que tampoco te he solucionado nada. Aunque si esperabas soluciones y que encima esas soluciones viniesen de mí, tu problema es aún mayor de lo que me pensaba.

No busques trabajo. Sólo así, quizás, algún día, el trabajo te encuentre a ti."

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tampodka

Estou a tentar, com todas as forças do meu ser, menos as do cabelo já que sou tal e qual Sansão - depois de melena cortada não há força que me valha - digerir uma notícia que vi hoje de manhã e me deixou anestesiada o dia todo. Sim, anestesiada parece-me a palavra certa tendo em conta o que vi e ouvi.

Trata-se de tampodka. Estranho o nome? Eu sei, também não percebi patavina quando explicavam que era a nova moda aqui em Espanha, copiada aos norte americanos. Nessa palavra misturam-se duas coisas aparentemente distintas mas que juntas fazem a festa aos jovens nuestros hermanos (não vale gozar porque qualquer dia temos as nossas crianças tampovodkadas). Pois muito bem, este tampodka, ou tampovodka é nada mais nada menos do que a nova maneira, mais barata, mais rápida e eficaz de chegarmos ao estado de (des)graça: vulga bebedeira. 

Então a coisa processa-se da seguinte forma: o dito tampão, que até agora tinha como consumidor único a mulher, é ensopado em álcool e depois upa upa que lá vai ele. Pronto para fazer danos. Tinha (atentem no tempo verbal) como consumidor, target, mercado, o que quiserem, a mulher e agora, pois agora tanto faz. Com álcool isto dá para os dois sexos: eles por um lado e elas pelo outro. 

Gostava que isto fosse um assunto cheio de piada como as minhas manhãs agora mais completas. Mas preocupa-me. Preocupa-me que isto aconteça. 
O acto em si - pôr um tampão dentro de um copo cheio de álcool, esperar que engorde e ora por um sítio, ora por outro - é algo que me pasma. Tal e qual pai e mãe quando são cafonas só porque queremos fazer uma tatuagem aos 16 ou sair com a saia da farda do colégio da irmã mais nova. 
Na reportagem, diziam as miúdas: "é mais barato", "é mais rápido". E diziam os médicos: com isto, o corpo perde noção, deixa de controlar a quantidade de álcool no sangue, para não falarmos dos danos físicos que pode causar. 

Posto isto: olhinhos bem abertos nos irmãos mais novos, nos filhos, nas crianças, e por via das dúvidas, na quantidade de tampões que se compram lá por casa.

Cabelo meu, cabelo meu

Durante quase toda a minha existência, como ser pensante, tive o cabelo comprido. Excepto uma vez em que me pagaram para me cortarem o cabelo. Experiência a não repetir: auditório, cheinho de monstros de cabelo - vulgos cabeleireiros -  que soltam um ahhh quando vêm o meu (cabelo) a ser cortado sem dó nem piedade, alegadamente com o objectivo de aprenderem as tendências para o ano seguinte. Isto são coisas que se fazem quando queremos ser independentes, mesmo quando não o somos. 
E depois nunca tive pais castradores, que me obrigavam a andar de franja e moldura facial. Sempre me deixaram escolher o que eu achava que me ficava melhor (excepto quando, no outro dia, há meia dúzia de meses, a minha mãe me perguntou se eu ia mesmo sair assim de casa e que o meu pai não ia achar piada nenhuma).

Pois sim, ao que viemos. Há quinze dias, mais coisa menos coisa, cortei o cabelo. Não foi cortei o cabelo, é corteeeeeeiiii o cabelo. E raios, não sabia no que me metia. Já andava a matutar há algum tempo sobre este assunto. Nestas coisas sou ponderada - ou se calhar não. E achei que, se cortasse, só iria ter vantagens: ora dizem-me que por ser baixinha (ei) não posso ter o cabelo demasiado comprido, dizem-me que dá menos trabalho se estiver curto, e eu pensei que me iam dar menos vezes 18 anos se deixasse a melena de lado e cortasse uns valentes centímetros (devia ter perguntado à segurança do aeroporto que me perguntou se eu era maior de idade, o que é que a levou a fazer essa pergunta).

E isto é tudo mentiraaaaa. Tudo. Além de que foi a cabeleireira que me convenceu. Porque o meu espanhol é manhoso e porque estava a sofrer de algum síndrome estrela de hollywood naquele momento. 
Mas pronto, cortei. E saí de lá i-m-p-e-c-á-v-e-l. Não deixei que me enganasse com os seus truques de cabeleireira armada com secador todo potente que ninguém tem em casa. Pedi que me desse só uma secadela. Até aqui tudo bem. Achei durante uns minutos que toda a gente olhava para mim e pensava que eu era uma idiota porque ainda há 30 minutos tinha um cabelo enorme cheio de euros em tratamentos, e óleos, e máscaras e tudo e tudo e tudo. Mas tudo bem. 

Agora!, o que realmente me chateia é que não, não meus santinhos, ter o cabelo curto não dá menos trabalho do que ter o cabelo comprido. E se estão a pensar cortá-lo, paaaarouu. Porque dá mais trabalho. Eu e o secador temos agora uma amizade diária, que se vai construindo mesmo sabendo que, um dia, o fim está à vista, e esse dia será, quando puder fazer um rabo de cavalo decente sem parecer que tenho uma esfregona no cucuruto da cabeça. É toda uma relação matinal: eu, o secador e a escova. 

Depois, essa coisa de parecer a idade que tenho é a maior fraude que já ouvi. Vou começar voluntariado com crianças e a primeira coisa que a responsável disse quando me viu foi: "ai, que vai parecer mais um dos nossos meninos."  Sim senhora, que bonito. Nunca na vida chegarei, à primeira vista, parecer 28 anos. Conformo-me com isso porque a vida vai-me regalar uns lindos 40. Mas tudo bem. 

Espero que me salves, meu cabelo curto, dos 40 graus que por aí virão. Ou deixo-te crescer para sempre, sem dó nem piedade, nem tesouras.


Os blogues dos outros #1

Há um blogue, Bitaites, de Marco Santos. que sigo há bastante tempo. E hoje não podia deixar de vos mostrar como há textos absolutamente espectaculares, absolutamente de génio. De onde eu vejo as coisas, não há nada melhor do que o humor para combater a estupidez da gente. 

PANELEIROSSAUROS

Paneleirossauros

Os ignóbeis socialistas e bloquistas vão levar amanhã mais uma vez a adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas, ao Parlamento. Não se enganem, todas as manifs, todos os Grandolas Vilas Morenas, todos os Galambas e Dragos, todos os actos de terrorismo de interrupção de membros do Governo em actos públicos, têm um único objectivo “dar crianças aos homossexuais”.

Maria Teixeira Alves, no Corta-Fitas

 

Graças à jornalista Maria Teixeira Alves, acabei de descobrir que o 25 de Abril foi obra de gays.

Não acreditem se os vossos professores de História vos disserem que naquele fatídico dia de 1974 o povo saiu à rua – em primeiro lugar, porque são com certeza larilas infiltrados no sistema educativo; em segundo, porque não foi o povo quem saiu à rua, foram os paneleiros.

O povo é quem mais ordena? Isso é grito de sado-masoquistas, de certeza.

As pessoas acham que foi uma revolução, mas foi uma parada gay — uma conspiração com o objetivo de dominar homossexualmente este país e legalizar a sodomização de criancinhas recém-adotadas.

E aposto que os militares que a organizaram usavam cuecas de fio dental sob aqueles uniformes – em cada Salgueiro Maia, não se esqueçam, há um bailarino dos Village People em potência. Em cada revolucionário, um homoconspirador desejoso de enfiar a palhinha no rabo da revolução.

Nem quero imaginar o que a pobre mulher deve ter sentido quando alguém se lembrou de meter um cravo no cano de uma metralhadora – por mais que me esforce, não consigo imaginar nada mais gay do que isso. Ainda por cima usaram uma criança como símbolo, os porcalhões, o que só prova que em cada maricas há sempre um pedófilo a espreitar por baixo das saias da Anita.

Somos todos filhos de uma revolução de rabetas – isto é mesmo pior do que pensávamos. E até Zeca Afonso, revelar-nos-á a Alves um dia, gostava de se disfarçar de loira dos Abba enquanto cantava o Grândola Vila Morena diante do espelho.

Um dia a Teixeira Alves chegará à conclusão de que os dinossauros não se extinguiram por causa da queda de um asteroide; os bichos começaram a enrabar-se uns aos outros no período Cretáceo e, pronto, acabaram por desaparecer. Qualquer biólogo vos dirá que uma extinção em massa começa sempre com uma apalpadela no cu e só Deus sabe o que vai ser de nós, pobres humanos, se persistirmos neste comportamento. A Natureza está atenta e não perdoa os indigentes morais, diga lá o que disser o panilas do Darwin.

É preciso ver que os casais heterossexuais também têm muita culpa no cartório: afinal, quem os mandou gerar filhos gays? Não há uma lei que proíba isso? Se não há, devia haver. Existirá algum vírus da paneleirice aguda que os padres ainda não conseguiram identificar nos laboratórios que montaram nas sacristias? Que terrível conspiração é esta e por que razão mais pessoas normais não se afligem como a Teixeira Alves?

Está decidido. Como medida profilática, proponho que doravante todos os pais sejam obrigados a provar que não são maricas antes de serem autorizados a procriar.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Abercrombie & Fitch - branding à borliú

Na internet anda tudo com os cabelos em pé. Abercrombie & Fitch é o tema dos últimos dias e tudo isto porque o CEO, Mike Jeffries, há uns anos atrás veio dizer que a sua marca é exclusiva e que as pessoas com excesso de peso estão fora - “Candidly, we go after the cool kids…A lot of people don’t belong [in our clothes], and they can’t belong. Are we exclusionary? Absolutely.” 

O poder da internet é, por vezes, assim mesmo. Faz-me lembrar a Margarida Rebelo Pinto que dois anos depois de ter publicado a crónica "as gordinhas e as outras" viu a sua reputação (?) fugir-lhe pelos dedos das mãos: gordas e magras de Portugal juntaram-se com a missão de lhe dizer como é que é. 

Pois, na internet os assuntos hibernam, durante anos, e esperam a melhor altura para renascerem (qual fénix qual quê) e atacarem outra vez. E isto tudo, do CEO da A&F, veio de fininho mas está a atingir proporções enormes. Depois do co-autor, Robin Lewis, do livro "New rules of Retail", ter reacendido a chama ao dizer que Mike Jeffries não gosta que pessoas gordas comprem na sua loja, quer pessoas magras e bonitas, as reacções têm sido impressionantes. 

Circula um vídeo (ver aqui)na internet com a clara missão de destruir a fama da marca. Um americano distribui roupas pelos sem abrigo numa tentativa de reposicionar a marca. Ingénuo? Sem dúvida. 




Depois de muita tinta na imprensa internacional, Mike Jeffries deixa um post no Facebook e passa a explicar que a A&F é uma marca e que, como tal, precisa posicionar-se, isto sem desrespeitar todas as pessoas, sejam de que raça, género, tipo de corpo e outras características.





Se dermos uma vista de olhos no site da marca, rapidamente encontramos um quadro com os vários tamanhos existentes. Para as mulheres até ao L, para os homens até ao XXL. E é aqui que começa a discórdia. São muitas as vozes que se unem, reivindicando o direito de poder comprar na loja, seja qual for o tamanho. E eu continuo sem perceber que reivindicações são estas. 

Percebeu-se que o marketing é uma ferramenta essencial para que determinada marca se possa distinguir da concorrência, para que determinada marca se possa posicionar e segmentar - era suposto o quê? Que as marcas fossem de todos e para todos? 
E então aquelas marcas que estão totalmente direccionadas para as pessoas gordas? 
Falemos sério, o retail nos Estado Unidos é uma mixórdia autêntica. Há marcas por todo o lado, e muito poucas, ou pelo menos as que estão ao alcance do grande público, se posicionam: há para todos os tamanhos, feitios, gostos e orçamentos. O mesmo se passa aqui na Europa: tamanhos do XS ao XXL, e, todas as cores, como fardas. 

Não ouvi nem uma vozinha a queixar-se da Louis Vuitton quando veio dizer que queria baixar as vendas: "Como é que vender menos é bom? Uma marca de luxo vive da exclusividade, logo ser acessível a um público alargado tira-lhe valor. E afasta os clientes de topo, que realmente interessam. Se dezenas de pessoas levassem a tradicional mala monogramada ao saudar a princesa de Inglaterra no dia do casamento, é pouco provável que Kate Middleton voltasse a usar as suas. “Evitar o excesso de exposição é essencial” quando se gere uma marca de luxo, admite ao Wall Street Journal o CFO da LVMH, Jean-Jacques Guiony. E a estratégia inclui adiar a abertura de lojas e apostar nas peças mais caras.". 

A exclusividade não pode ser interpretada de um só ponto de vista. E não é preciso ser um génio para perceber que se uma marca tenta agradar a todos o mais provável é que não agrade a ninguém. Depois disto o mais provável é que a A&F fidelize ainda mais os seus clientes- quanto mais se fala, mais vende, e um maior número de pessoas vai querer fazer parte deste grupo, da exclusividade. É obvio que as suas palavras, as de Mike Jeffries, possam causar alergias, reacções negativas e atitudes como a do rapaz que fez o vídeo que já é viral. Pode até parecer ilógico se soubermos que uma boa parte dos norte americanos sofre de sobre peso, mas a missão de uma marca, de uma marca como estas não é educar. Já estive em Londres, já vi as filas para entar numa loja A&F, já senti o cheiro a metros de distância, já vi as meninas histéricas à espera de tirar a fotografia com o homem cheio de músculos a transpirar perfeição, as empregadas de loja que mais parecem modelos e que certamente foram escolhidas a dedo. 

Quanto mais se gritar que a A&F é uma marca que selecciona os seus clientes em função do seu tamanho, mais se vai ajudar Jeffries a definir o que o diferencia do mercado imenso de marcas - isto é branding, e branding dado de mão beijada.