segunda-feira, 29 de abril de 2013

O que eu leio #2

Não tenho o hábito de ler livros, normalmente devoro-os, em poucos dias, dependendo do número de páginas e nunca do seu conteúdo. Leio de tudo: desde "As cinquenta sombras de Grey" a "Ensaio sobre a lucidez", de "Marketing 3.0" a "Explicações de português", de "O principezinho" a "Ana Karenine". Não sou esquisita, nem muito nem pouco.
Além do meu distúrbio literário tenho em mim uma espécie de conselheira livreira: não são assim tão raras as vezes em que me pedem conselhos sobre livros e quando gosto do que li, vendo melhor do que qualquer fnac, bertrand e wook juntas.

Tal como nos filmes, detesto repetir-me naquilo que leio. Conheço quem diga que, de todas as vezes que vemos ou lemos, um filme ou um vídeo, as histórias são diferentes. Mas a minha pressa em ler e em não repetir-me tem explicação - é que acho, sinceramente, que não tenho vida suficiente para ler tudo o que quero. E isto é mesmo verdade. Costumo entrar num estado de ansiedade vergonhosa quando tenho um livro novo em casa e ainda vou a meio de outro. Mea culpa.

De qualquer maneira sim! Um livro é um livro novo em cada leitura e em cada fase da vida: ora pensem lá n'O Principezinho? Saltar de planeta em planeta não tem o mesmo significado aos 16 que aos 26.

E hoje acabei pela segunda vez o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Lembro-me quando o li pela primeira vez de não ter achado muita piada. Regular, mediano, deve ter sido o que pensei. E que analfabeta era. Huxley é um génio literário reconhecido em todo o mundo e esta obra, de 1932, podia muito bem ter sido escrita hoje mesmo.

Tudo gira à volta da bokanovskização - um processo de estabilidade social assente em 3 máximas: comunidade, identidade e estabilidade, onde o segredo da felicidade está em gostar daquilo que se é obrigado a fazer. E isto consegue-se de forma condicionada, ou seja, "fazer as pessoas apreciar o destino social a que não podem escapar".
É difícil explicar este livro e como me fez pensar em verdades que temos como absolutas. Huxley divide opiniões e mata o suposto saudável estado familiar em que vivemos: cria um mundo paralelo, futuro, onde as pessoas são condicionadas psicologicamente e biologicamente, dividido em castas, com embriões "decantados", perfeito na sua criação artificial onde "cada um pertence a todos os outros". Com ideologias ministradas durante o sono: "actualmente toda a gente é feliz" - ouvido 150 vezes, todas as noites, durante 12 anos.

Descreve os "perigos da vida familiar": um "mundo cheio de pais" e cheio de mães e de tios e de primos e de irmãos, "cheio de loucura e suicídio". Um mundo cheio de maridos, mulheres e amantes, de famílias e monogamias, de sentimentos exclusivos e "a concentração de interesses por um único assunto". Um mundo que tinha uma coisa chamada democracia "como se os homens fossem iguais".

Neste livro nada é coincidência, nada fica por dizer e quanto mais se lê mais se quer saber: ainda que esta seja uma versão utópica (?) ou um género futurista (?) são os nomes dos personagens que nos prendem à realidade: Marx, Freud, (Henry) Ford, Wells e Pavlov.

"A sanidade é um fenómeno raríssimo" diz Huxley, e esta obra, é absurdamente sã, absurdamente genial.



sexta-feira, 26 de abril de 2013

Piigs uma vez, piigs para sempre

As notícias de hoje são tantas que nem sei bem por onde começar. É que isto da informação tem que se lhe diga e não me parece justo filtrar, por importância, as novidades de hoje.

No meu mais íntimo ser ando por aqui roída, roídinha de inveja dos polícias do Dubai: há uns dias brindaram o mundo, para mostrar prosperidade e sofisticação, com o novo carro de patrulha - um Lamborghini, de 420 mil euros. Hoje para reforçar a imagem de "luxo e prosperidade" apresentaram a mais nova mascote - um Ferrari, de 340 mil euros, para a brigada feminina.
Aproveitando a onda policial, a coisa aqui, em terras de nuestros hermanos, anda mais amarga. Dois polícias, de Sevilla, acharam sensato e razoável fotografarem-se com um monte de multas: enquanto um as segurava (as multas), o outro, extasiado, mostrava o sinal de V com os dedos. Bronca total: suspensos, acusados de abuso de autoridade, etc, etc.

De polícia passamos ao futebol: Real Madrid e Barcelona. Foram 4, quatro para um e quatro para outro. Mourinho culpa a equipa, Tito garante que fica no Barcelona. E um jornalista decidiu atribuir a culpa a Rajoy: com Aznar ganhava o Barcelona, com Zapatero o Real Madrid, com Rajoy, bem, com Rajoy ganham os alemães.

Entre alemães e piigs (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) o certo é que nada parece bater certo. E o trocadilho não é forçado, é necessário. Continuamos com o mesmo de sempre: desemprego (Espanha bateu o recorde com mais de 6 milhões de desempregados - mais 300 mil só no primeiro trimestre deste ano), défice, reuniões extraordinárias de ministros (hoje em Espanha, terça feira em Portugal), discursos medianos que culpam a União Europeia de todos os males do mundo dando ao governo um lugar de criança-que-não-sabe-o-que-faz e portanto não merece ser castigada. E ainda umas medidas ping pong e outras impensáveis há uns anos: a junta de Andaluzia (governada por dois partidos de esquerda) aprovou hoje uma lei inédita que vai permitir expropriar,aos bancos, durante 3 anos, habitações onde vivam famílias, com rendimento mensal inferior a 542 euros e cuja situação financeira se tenha agravado bastante desde que foi pedido o crédito. Além disso a renda deve corresponder a mais de um terço do rendimento familiar - estima-se que em Espanha, 20% das casas estejam vazias.

De resto a pasmaceira é a mesma (?), esperamos por Pyongyang, o tempo continua mau e mais se parece com os nossos políticos que quando prometem e chega a hora da verdade a treta é sempre igual, o Benfica perdeu e hoje é sexta feira, dia de Gin e de despreocupações para variar um bocadinho.



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Feriados dos outros

Dia da liberdade e da democracia, comemora-se hoje em Portugal. Dia 1 de Maio é a vez do trabalhador.
São feriados. E é só. Porque perderam o significado se quisermos que o significado seja exactamente aquele que deveria ser.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ontem foi dia de palhaçada

Ontem foi dia de regressar. De fazer a mala, almoçar e ir para o aeroporto. Mas desta vez foi um bocadinho diferente.
Sou defensora da Ryanair, sempre fui. Não atrasa, faz-me subir e descer escadas mas sempre achei que, para mim, era positivo. E a verdade é que em tantas viagens que já fiz nunca tinha tido um único problema. Até ontem.

O avião atrasou. A viagem passou das 15:35 para as 19:25. Sem balcão de atendimento as informações que nos davam eram torcidas: os senhores da Portway estavam chateados, irritados por querermos saber. Uns mandavam-nos passar a segurança e esperar, outros diziam-nos que só tínhamos que regressar as 17:30 mas não nos davam a certeza de nada. Responsabilidade ping pong, de uns para outros. Se quiséssemos fazer uma reclamação "que provavelmente não iria dar em nada" tínhamos que mandar um fax, para Dublin, em inglês. De resto não sabiam mais nada.

Depois de horas que pareciam intermináveis, à espera, para ter a certeza que não perdia o avião, passei pela segurança, e decidi comprar uma carteira na Parfois. Quando paguei perguntei se podia embarcar com o saco, a menina disse-me que sim.
15 minutos depois, enquanto esperava, vem uma funcionária da Portway ter comigo (não estava em fila nenhuma, estava no corredor, e ia voltar a sair para fumar um cigarro) e diz-me "vai ter dois problemas. Não pode embarcar com esse saco e muito menos com a carteira que tem a tira colo". Confesso que o meu humor estava pelas ruas da amargura. Depois de lhe ter mostrado a factura da carteira, de lhe ter dito que tinha perguntado na loja se podia ou não voar pela Ryanair com aquele saco, perguntei-lhe se tinha a certeza absoluta do que me estava a dizer. Disse-me que sim. E foi um sim de gozo.
Subi as escadas chamei a responsável de loja que desceu comigo enquanto me dizia "isto nunca me tinha acontecido".

Sorte ou não, entre discussão e teimosia - minha, da funcionária da Portway e da funcionária da Parfois - aparece a responsável da Parfois que ia no mesmo vôo que eu, a dizer que tem um email da ANA a informar que os passageiros podem embarcar com um saco de qualquer loja do aeroporto para além da mala de mão.
A funcionária da Portway insistiu, de uma maneira mal educada, chata, irritante que não: a Ryanair e a Easy Jet têm leis diferentes e só permitem um volume ou sacos daqueles de plástico de duty free, das outras lojas não. E que eu, ao comprar um bilhete, estou a assinar um contrato, e que tenho que saber as regras. Questionei: as regras da ANA ou as da Ryanair?

A responsável da Parfois, a quem estupidamente não perguntei o nome, dizia-me que não me preocupasse, que lhe desse a minha morada em Espanha e que a carteira ia ter comigo. Disse-lhe que não, agradeci mas não. Sou teimosa, Carneiro, e detesto que estes "pequenos poderes" sejam significado da palhaçada que aconteceu ali.

Desceu a responsável da ANA. Afastou-se com a funcionária da Portway. Eu via gestos e telefonemas de um lado para o outro. 20 minutos depois vieram as duas e informaram-me que podia embarcar com a carteira. Primeiro a da Portway disse-me que ia abrir uma excepção, depois a da ANA, disse-me que o podia fazer sempre e que não me preocupasse porque "esta funcionária cada vez mais nos dá problemas".

Quando lhe perguntei o nome - à funcionária da Portway - responde-me muito indignada "vai fazer queixa de mim?". Pois, sim. Porque também eu estava ali há horas intermináveis, porque fiquei sem fumar um cigarro, porque me veio chatear sem sequer saber em que vôo ia, se me ia apetecer despachar a mala ou se ia dar aquela carteira a quem bem me apetecesse naquele aeroporto. E porque se não gosta do que faz, se não quer, conheço tanta gente que quer. E que o faria vinte vezes melhor.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O que eu leio #1

Porque os filósofos sabem escrever, Adela Cortina, espanhola, descreve a separação dos membros da UE. Vale a pena ler o coração da Europa.

"Parecia ser esse o coração do projeto de uma Europa unida, que poderia estender-se a outros lugares. E é desalentador ver como a Europa que inventou a democracia na Grécia clássica, que cunhou a ideia da dignidade humana como núcleo da vida partilhada, que potenciou a racionalidade não apenas científica mas sobretudo moral, que descobriu o Estado social e a possibilidade de uma comunidade supranacional, atraiçoou a sua própria identidade com um tenaz empenho suicida, sem o menor afeto pelos ideais que a constituem."

http://www.presseurop.eu/pt/content/article/3687871-o-coracao-da-europa

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Make a Wish #1

Sou e fui voluntária da Make a Wish. Sou, porque ainda me sinto parte deste projecto que vi a nascer no Porto. E fui, porque quando se decide emigrar, decide-se também deixar tudo o resto para trás.

Está a crescer e está cada vez mais forte, o que em termos práticos significa só uma coisa: garantir o maior número de realização de desejos que é possível.

Portanto vamos a eventos, datas, e tudo e tudo e tudo.

- WISH DISH, mais de 100 restaurantes de todo o país, chefes como Chakall, Henrique Sá Pessoa e Rui Paula, escolhem, criam ou recriam um prato que terá o mesmo nome do evento e 2 euros revertem para a Make a Wish. Até dia 15 de Maio são 2 euros para concretizar sonhos.

- GALA MAW, no Porto, a primeira de muitas, esperamos todos. No hotel Sheraton, por 55 euros, dia 18 de Maio.

Ora, as ajudas estão pedidas e cabem em todos os bolsos. Qualquer dúvida, falem, perguntem, no site da Make a Wish, na página do Facebook ou a mim, euzinha.


Dove - eu e o outro eu

Com Gil Zamora, um antigo artista forense com vários anos de experiência na policia de San José, e no FBI a Dove lançou, na segunda feira, um anúncio que reforça ainda mais a campanha da marca pela beleza real. A diferença entre os auto retratos e as descrições feitas por outras pessoas é impressionante. 




terça-feira, 16 de abril de 2013

O mundo depois dos Estados Unidos

Ontem, enquanto fazia a minha ronda habitual de notícias, a terceira ou quarta do dia, todos os jornais falavam do mesmo: o atentado em Boston. Testemunhas diziam que por momentos pensavam estar a ouvir um espectáculo de pirotecnia antes de perceberem que o espectáculo, afinal, era outro.

Hoje, enquanto tomava o pequeno almoço, todos os canais de televisão mostravam as imagens, os estrondos, a confusão. Entretanto tomam-se medidas extraordinárias para as maratonas de Londres e Madrid. Líderes de todo o mundo reagem e mostram-se solidários com as vítimas e famílias das vítimas. A criança, de 8 anos, é a que mais protagonismo tem, pelas piores razões mesmo depois de se ter confirmado que não era o filho de uma actriz famosa lá dos lados de Hollywood.

Três mortos e centenas de feridos é o resultado final de um atentado que mesmo sem ter sido reivindicado já tem supostos culpados: especialistas dizem que, devido à forma artesanal como estavam construídas as bombas, trata-se de terroristas americanos. "Inside job" é como lhe chamam.

Entretanto, e não querendo desfazer a importância dos EUA mas já desfazendo, um sismo de magnitude 7,8 no Irão matou 40 pessoas. A esta hora todos os jornais continuam com o terror em Boston como acontecimento de maior importância.
Na Síria continua uma guerra que já matou mais de 70 mil pessoas: a ONU pede, hoje mesmo, que se resolva tudo isto, que os governos com influência parem com a "carnificina". Ainda assim, Boston é imagem principal.

Ainda com alguma importância, digo eu, temos Ulrich a dizer que "o que se passou em Chipre é uma antecipação dos mecanismos que serão transformados em lei na zona euro, na famosa união bancária." Continuamos com o FMI que confirma hoje que a situação está a piorar e que, em 2013, para continuar com a monotonia das coisas, o Globo está muito perto da recessão e que é preciso "completar rapidamente o projecto da união bancária".
Para terminar, mesmo sabendo que esta lista poderia ser interminável, a OCDE, diz que Portugal foi o país da zona euro onde a taxa de desemprego mais aumentou.

The main thing is to keep the main thing, the main thing, e cada um tem a sua.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

As minhas pessoas

Quem vê Anatomia de Grey desenfreadamente como eu, consegue perceber o título deste texto. Quem não vê, eu passo a explicar: no meio de tanto protagonista, de entradas e saídas desta série, há duas personagens que se mantém desde o início. Christina e Meredith são duas amigas que de "aparentemente normais" não têm nada: diferem em absolutamente tudo mas, verdade lhes seja concedida, têm uma amizade para além do normal e são "a pessoa uma da outra".
Em linguagem anatomia greyriana isto basicamente significa que se escolheram como irmã uma da outra. Aquele género de amigos, que temos, que são família, que são famíliagos (não sei se faz muito sentido mas é uma espécie de palavra que mistura família e amigos), escolhidos por nós.
Não conheço assim tantas coisas tão deliciosas como estas.

Conheço muita gente. É verdade. Conheço gente que é a minha gente e gente que passou por mim naqueles momentos estranhos, inusitados com um bocadinho de inesquecível nisso.
E depois conheço a minha gente, as minhas pessoas. E devo dizer que já não lhes posso chamar amigos, já não posso. Porque essa palavra não é nem metade daquilo que eu quero que seja. As minhas pessoas não são os amigos "com quem estive no outro dia", as minhas pessoas não são os amigos que vou conhecendo mas que vão, por tantos motivos, encolhendo, desaparecendo. As minhas pessoas não são só as pessoas de há 15 anos, são as de hoje, são as de ontem e as do minuto que passa agora mesmo.

Descrever, medir, pensar uma amizade é difícil. Porque é mais ou menos como o amor da nossa vida mas que nunca, nunca, desaparece. Partilhamos memórias, segredos, sorrisos abertos, gargalhadas, parvoíces. Às nossas pessoas contamos o que sempre juramos que nunca contaríamos a ninguém. Não existe o medo parvo de sermos ridículos, não existe o medo da crítica que destrói porque no lugar disso está o "eu avisei-te" construído, carinhoso, adulto que anda sempre de mãos dadas com o "aviso-te as vezes que forem necessárias".

Para mim, as minhas pessoas, não são passageiras, não são de fases. Não preciso de tempos, de re-pensamentos, de boas ou más disposições. Com as minhas pessoas sou eu, de feitio difícil, cheia de razōes que nem a razão conhece, de maus acordares, de desespero auto infligido por café, de perseguição ao chocolate, de lágrimas desaparecidas mas que estão aí.

Conheço, de facto muita gente, mas tenho muito poucas pessoas. Ou tenho pessoas na medida devida. Porque demais também é exagero. Por certo.

domingo, 14 de abril de 2013

Não é fácil ser português.

A sensação que tenho é que nos deixaram aqui. Deixaram-nos com a mesma graça com que chegamos. Fomos imensos, fomos grandes mas deixamos de ser. Deixamos de poder ser.
Sempre que vejo, penso e revejo a história de Portugal, a sensação que tenho é a mesma, como dizia Saramago " multa cagança, muita cagança, e para quê?".

Não é fácil ser português. Não é fácil ser português em Portugal, mas é muito mais difícil ser português fora de Portugal. Sempre perguntam "e como andam as coisas?", com um ar pesaroso, sem grande interesse na pergunta por saberem a resposta. Não é fácil ser português, no meio de políticas impraticáveis, de primeiros ministros emigrados, de primeiros ministros que nos largam para governarem uma Europa maior que se vai desfazendo aos bocados.

Não é fácil ser português porque podíamos ter sido o maior país do mundo mas não somos. Porque ninguém acredita que a história se fez história porque um dia, algures, existiram uns tais portugueses que transformaram o mundo, uns tais portugueses que delinearam o mapa com a exploração marítima, uns tais portugueses que tiveram o primeiro império global de toda a história, uns tais portugueses que chegaram à América e que chegaram à Índia.

Aqui, em Espanha, as coisas vivem-se de forma diferente. Ou pelo menos eu sinto de forma diferente. É que para nós, portugueses, Portugal é o pior país do mundo. Para eles, espanhóis, isto da crise é passageiro. As bandeiras continuam nas janelas, os políticos continuam a ser corruptos e o rei está nesse limbo que o permite ser adorado e detestado de uma forma equivalente.
Para nós, isto "já não tem remédio". E seguimos teimosamente as palavras de Eça de Queiroz quando dizia que esta era a pior crise de sempre (em 1872). Para nós, Portugal está perdido, escondido, amedrontado, sem volta a dar.

Não é fácil sermos portugueses porque nos criticamos e nos amamos, tudo isto ao mesmo tempo. Tratamos o nosso país mais ou menos como tratamos a nossa família em altura de crise. Somos os primeiros a criticar, a soltar os mais portugueses palavrões e a enumerar cientificamente o que está mal com postura de soldado e ordens irrealistas. Porque somos os primeiros a criticar mesmo que nem sequer percebamos bem o que estamos a dizer. Mas no momento em que vira o jogo, em que as opiniões de quem não é português se soltam, corremos a desmentir e a engrandecer o mar, as gentes hospitaleiras, o cozido, o bacalhau, a doçura, e o grande país que podíamos ter sido mas que afinal não somos.

Não é fácil ser português porque passamos metade da vida a não querer o que temos e a outra metade a jurar que não o trocaríamos por nada deste mundo.

Mal comportados e birrentos

Diz Manuela Ferreira Leite que "o tempo não está para birras" e é verdade sim senhora. No entanto os únicos cenários que parecem ser possíveis entre governo e oposição é esse mesmo. Birras de fazer inveja a crianças pequeninas, confusas pelos brinquedos a escolher, mimadas, ranhosas, esquecidas de qualquer educação que eventualmente possam ter recebido. O único problema é que isto não se resolve com castigos, com palmadas bem dadas ou com diagnósticos de hiper actividade.

Passos bate o pé e não sai. Cavaco faz-se de sonso-que-não-quer-saber. E Seguro bate com o pé no chão insistindo na máxima "a dialogar a gente não se entende" gritando aos sete céus que só com novas eleições "é que a gente se entendia".

Não nos chega a austeridade. Não nos chega termos passado de bons alunos a último lugar na sala de aula. Já não somos um caso de sucesso, agora somos "confiáveis". Não nos chega uma Alemanha prepotente e esquecida. Nem mesmo mais 7 anos de prazo concedidos gentilmente pela troika que significam em números gordos e redondos mais 6,3 mil milhões de euros - todos sabemos que mais tempo são mais juros. Ainda temos Portugal dividido. Que fala a várias vozes, instável, mal comportado.

Fico com Tocqueville - os partidos são um mal necessário num país livre.

domingo, 7 de abril de 2013

E eu que nunca gostei muito de novelas.

Desculpem-me desde já este post. Desculpem-me os mais sensíveis aos palavrões, os mais sensíveis às palavras escritas sem filtro, desculpem-me os que querem que pare de escrever sobre este estado nosso, de mais de nós, perdidos, que precisam fugir do mundo, para outro mundo.

Ultimamente conversar com amigos meus é uma merda. São conversas que me fazem querer dizer tantos palavrões e talvez inventar alguns para poder descrever de uma forma mais realista o que realmente se passa. Salvam-me da insanidade mental os que estão bem, os que engravidam, os que fazem o que gostam, os que têm a mais mínima estabilidade. Porque, de resto, bem, de resto, a merda é o que menos ofende mas o que me faz libertar um bocadinho este misto de incompreensão e realidade que não me apetece ver mais.

Tenho amigos do outro lado do mundo, tenho amigos a quem lhes tiraram tudo, tenho amigos que vão respirando, tenho amigos que já não percebem bem, que já não sabem porquê. Na qualidade de amigo cabe também a de família. E não, não são esses que não querem trabalhar, não são esses que querem um emprego de espreguiçadeira ao sol, nem os que correm atrás dos subsídios, das gorjetas e dos tachos. Não são os sonsos, qualidade que me faz sair de mim e discorrer o dicionário português, enumerando, um por um, as palavras maravilhosas que a nossa língua nos permite.
São os outros.
Os que saíram e procuram. Os que tinham, e agora já não têm. Os que precisam e não conseguem. Nem eu mesma me acredito que conheço cada um destes.

E continuamos. Continuamos a brincar às políticas, ao circo que é governar um país. Continuamos a aturar funcionários públicos com empregos eternos que nos fazem sentir o penetra na sua casa sempre que precisamos de alguma coisa. Continuamos com as queixas lamuriosas sem percebermos que a crítica pode ser positiva. Continuamos com as reformas relâmpago-sem-grandes-explicações-para-não-parecer-mal. Continuamos sem poder despedir porque a indemnização nos corta o orçamento astronomicamente. E continuamos a gostar de novelas. A diferença está agora nos actores. Deixamos o Brasil, e focamo-nos em nós. Nos triângulos amorosos que se vão culpando à vez em horário nobre, com 3 canais nacionais a facilitarem o palco.


Re confusão

A decisão do Tribunal Constitucional é soberana e portanto, quer gostemos ou não, é para ser cumprida. "São as leis que têm que se ajustar à constituição, e não o contrário". São juízes (13) independentes e inamovíveis, e os únicos que se podem reformar as 42 com 10 anos de trabalho. Não está mal.

Depois de chumbados alguns artigos do Orçamento de Estado obviamente que os méritos podem ser discutidos, os méritos e deméritos. Há quem se auto congratule pela visão futurista, há quem se pergunte como é que o Governo não se decide e não governa centrado na constituição.

Os erros são constantes, as especulações chegam a roçar o ridículo e o pedido de Seguro para que o Governo se demita é tão previsível como amanhã ser segunda feira.
Os dotes de magia deste senhor são algo que ainda não consegui descortinar: ora então, menos impostos, menos desemprego, mais investimento e obviamente, cumprindo com os objectivos acordados. E tcharan, acordamos num país novo, nesse admirável mundo novo pensado não por Huxley mas por José António Seguro. Mesmo com moções de censura que só servem para o atrapalhar (deixemos os palavrões de lado), Seguro não consegue convencer ninguém de que realmente é capaz de governar o país. Talvez a si mesmo, à noite, em frente ao espelho, como quem pede bom tempo para o dia seguinte. Se imaginarmos uma possível relação do secretário geral do PS com José Sócrates podíamos pôr o primeiro no lugar de aluno e o segundo no lugar de professor: em aulas de oratória, claro está.

Os portugueses estão confusos, e como podiam não estar? Ora senhores desempregados, vão ter que pagar uma taxa...hmmm afinal não, e o que pagou devolvemos com retroactivos. Subsídios cortados, ou se calhar transformados em títulos do tesouro.

1300 milhões de euros e um buraco financeiro depois, a inconstitucionalidade do OE deixa espaço e mais que espaço para a espetacularidade da nossa política. Estratégias atrás de estratégias que deixam dúvidas quanto à verdadeira governabilidade dos nosso políticos. Ainda não há plano B. E hoje vamos poder ouvir Passos Coelho, num discurso certamente incompreensível e subjectivo.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

O mundo lá fora

Sócrates falou e (des)encantou. Relvas veio embora, Cavaco não se importa e Passos não vê nenhuma anormalidade. Obama desce em 5% o seu salário, e Merkel é famosa nas redes sociais numa fotografia (sua?) um pouco hmmm, inusitada. Lula da Silva nunca pensou ver uma Europa governada pela Alemanha.

Temos ainda moções de censura, orçamentos de estado, tríades desamorosas entre coreias e eua. Carlos Cruz e todos os outros - dura lex sed lex.
Os cipriotas tentam sair da posição maldita que só lhes permite ver o chão e suplicam como adolescentes ressentidos, desconfiados e enraivecidos.

Apesar de tudo isto, consegui fazer o que qualquer emigrante faz quando volta, por uns dias, à maravilhosa rotina de adormecer e acordar em casa dos pais. Fiz anos, deliciei-me com as novidades do meu afilhado, estive com toda a gente que pude, estive com quem me importa, mesmo que o tempo não chegue para estar ainda mais, falar ainda mais. Porque de verdade, nunca chega. E não, não é um cliché, nunca chega mesmo. Os dias parecem minúsculos e parece, de verdade, que estamos constantemente numa luta contra as horas.

Agora, aqui, volto com mais tempo para tudo.