terça-feira, 20 de agosto de 2013

Calor infernal

"Ligue o ar condicionado", "Não está a funcionar, minha senhora", "Então devia ter posto um papel na janela a dizer que não estava a funcionar para podermos decidir se entramos neste autocarro ou não", "Não temos ordens para fazer isso", "Incompetentes". - ar desesperado de quem vive neste mundo mas gostava de viver noutro.

Quando hoje entrei no autocarro e ouvi esta conversa, achei que estava num mundo paralelo. Achei que esta senhora estava num dia mau - acontece a todos - que tinha bebido água tónica com muito limão e sem Gin, que tinha um neto chatinho de quem ia tomar conta, que o marido lhe tinha dado um chuto no rabo há uns anos atrás ou que chegara o dia, o péssimo dia de pagar os impostos. Hacienda mia, hacienda tuya. 

Andamos descontentes. É entrar numa loja e ver as caras alegres de quem nos atende. Sim, não, talvez. Monossílabos. De todos os "bom dia" que solto, são poucos, quase nenhuns, que me respondem. Não conto com os grunhidos. Andamos descontentes. Chatos, chateados. Com a certeza que pode piorar, mesmo que não saibamos, mesmo que nem nos atrevamos a sonhar com um mundo pior, cheio de impostos, aumentos de preços, descidas de poder de compra, férias traduzidas em dias sem-nada-que-fazer-que-mais-valia-estar-a-trabalhar. 

Mas podia ter sido só o calor. Claro que podia ter sido só o calor. Andamos, por aqui, entre os 28 e os 40 graus. E chateia. Se chateia. 

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