quarta-feira, 27 de março de 2013

José Sócrates, bring it back

É hoje.
É já hoje que o ex primeiro ministro se senta na RTP pronto para partir a louça toda. E vai parti-la. Não da maneira desejada. Não da maneira que eu queria. Passo a explicar-me: com o seu dom da oratória, digno de nota alta junto até dos mais nobres sofistas já enterrados, José Sócrates vai falar. Com o seu tom acusatório, salpicos de ironia, impecavelmente vestido e penteado, vai opinar sobre a situação política actual. E vai ser de bradar aos céus. Vai procurar um culpado e tentar justificar o passado, em jeito de "porreiro pá, porreiro pá!" E provavelmente chegaremos ao fim com a sua frase "não é concordar por discordar, nem discordar por concordar."

Confesso que ontem liguei ao meu pai e pedi que me gravasse a entrevista. Agora quero ver. E irrita-me que a minha curiosidade leve a melhor. A sério que me chateia. Porque não sei o que vamos ouvir mas sei que me vou colar à televisão, que vou dar primazia à RTP, que vou fazer, em conjunto com todos os outros, com que as audiências sejam de mestre. Talvez até me possa observar a mim mesma a ter uma interacção com a minha própria televisão, como se fosse o único meio capaz de fazer com que eu chegue até ele, sou capaz até de soltar uns palavrões muito pouco dignos e de não ficar sentada no sofá, calmamente.

Tenho lido váras coisas acerca deste assunto. Há de tudo. A favor, contra, e depois, bem depois, temos o Presidente da República, que ainda deve sentir na pele o quanto lhe afectaram as turras com Sócrates. Hoje, em jeito de boca foleira disse "se a nossa televisão dedicasse mais espaço a revelar os sucessos existentes no país". Pois, continuemos no "e se" e seguiremos por aqui, de certo que vamos longe, bem longe.

Vamos lá ver o que nos reserva, esta noite, José Sócrates. Espero que o seu "olhar feroz" (by Judite de Sousa) não nos ofusque.

terça-feira, 26 de março de 2013

Papa Francisco

Não sou católica fervorosa, tenho as minhas crenças e defendo-as à minha maneira. Cresci a ir à missa ao domingo e a acreditar em Deus. Depois, os meus pais deixaram que escolhesse o meu caminho. E tenho tido algumas discussões interiores com esta Igreja que teima em não andar para a frente e cada vez mais fica sozinha, presa num passado que tenho a certeza que seria fácil de reajustar. Apesar das nossas discordâncias, ainda hoje, entrar numa Igreja tem um efeito positivo em mim. Não sei explicá-lo na mesma medida que não tento percebê-lo e, até agora, tem corrido tudo bem.

Ainda não tinha escrito nada sobre o novo Papa. Depois de Bento XVI confesso que a minha crença em mudanças nesta matéria foi desaparecendo com o tempo. Já na altura se falava de transições, mudanças e abertura ao diálogo. Mas a verdade é que gosto deste Papa. E depois de todos os odiozinhos de estimação que tenho vindo a criar pela nossa classe política e seus fiéis seguidores, fico contente por gostar deste Papa. É ainda um gostar medido, com forma para crescer, mas contido e refreado.

Mas vamos lá. Em primeiro lugar gosto que seja um Papa da América Latina, gosto que se descentralize o poder da Igreja e depois, eles vivem a religião de uma forma diferente da nossa. É jesuíta, e eu vejo neles uma simplicidade, uma forma de falar e de estar que não vejo em mais lado nenhum: o diálogo é transversal, é científico, tecnológico e político. E depois, quis o nome Francisco que é o nome do meu afilhado e eu costumo apreciar pequenas coincidências.

Enquanto Arcebispo de Buenos Aires falou do baptismo de uma forma certeira e sem disfarces eclesiásticos e eu aprecio pessoas claras de espírito. Disse que de manhã, a Igreja anti-aborto toma uma posição clara quando afirma que é preciso assumir sempre uma gravidez, mesmo na juventude. E depois, essa mesma Igreja, recusa-se a baptizar as crianças que tanto queria que nascessem. Chamou a isto, uma espécie de chantagem usada nos sacramentos para afirmar um tipo qualquer de supremacia.

O Papa Francisco deixou de lado os sapatos vermelhos, trocou o ouro pela prata e dispensou o papa móvel. Desceu do seu jipe, em plena procissão, e cumprimentou velhos amigos. Disse aos guardas suiços que se sentem, que se sentem numa cadeira para não estarem o tempo todo de pé.

Não sei se é um papa de transição. Não sei se vamos assistir a um Igreja finalmente adaptada aos tempos de hoje. Não sei se Francisco vai finalmente ser o papa de que precisam os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, não sei se vai acordar o debate do uso do preservativo que parece estar escondido no lugar de monstro debaixo de todas as camas da Igreja. Mas para já, para já é uma lufada de ar fresco.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Gaspar marca o ritmo da dança das cadeiras

Ontem, no telejornal da RTP, Francisco José Viegas, escolheu as previsões de Gaspar como tema a ser mostrado e debatido. Depois de ter visto o que vi, com piadas à mistura e verdades irrefutáveis fartei-me de tentar perceber como se pode errar tanto. E porque raio é que estas previsões são tão necessárias. Aparentemente pela pressão. A pressão! Nome feio.


Sempre que ouço Vítor Gaspar a debitar previsões com a sua eloquência que tanto o caracteriza (Sheldon Cooper, personagem da série Big Bang Theory, físico de profissão e com sérios problemas de integração social ia ter ciúmes, agora mesmo, pela forma como eu trato o sarcasmo por tu) não consigo evitar compará-lo ao Professor Bambo ou à Maya, nossa querida Maya.
Como o Professor Bambo, o ministro Gaspar, parece ganhar parte da sua vida a fazer previsões e, consequentemente a falhar. E ao som da dança das cadeiras. Lembro-me tão bem deste jogo! Andar à roda até que só sobrem dois concorrentes e uma cadeira. Alguém vai ter que sentar no chão.

Desenganem-se se acham que fazer previsões é algo meramente político. Parece-me que o Professor Bambo, antes de ser acusado de burla e extorsão, tinha a solução para todos os problemas financeiros e emocionais. Felizmente, Gaspar fica-se por um único campo de actuação.

A questão aqui, e que de facto me parece muito pertinente, é que este Professor, não aparecia nos telejornais, em horário nobre, a prever a vida de mais de 10 milhões de pessoas. Longe de mim criticar quem recorria aos seus serviços, sejam eles mau olhado, poções mágicas, bonecos vudu e todo o tipo de feitiçaria. O livre arbítrio ainda nos assiste. E, de facto, ninguém prendeu as mãozinhas de ninguém e disse "vamos ao Mambo resolver os nossos males".

Já com Gaspar, o caso muda de figura. Brincamos às percentagens, acrescentamos futurologia et voilá. Quase que posso visualizar o slogan: descubra o que lhe reservam o défice, o desemprego e o ajustamento- as previsões de 2013 por Vítor Gaspar.

Marcelo Rebelo de Sousa diz que os portugueses já não acreditam no ministro das finanças e que este passou a astrólogo ( talvez seja daí que surge a minha analogia ao Bambo). Quanto a mim, sei que as previsões...leva-as o vento e talvez Churchill esteja certo "a arte da previsão consiste em antecipar o que acontecerá e depois explicar porque não aconteceu."

Ora, então gargalhemos

A única crítica é a gargalhada! Nós bem o sabemos: a gargalhada nem é um raciocínio, nem um sentimento; não cria nada, destrói tudo, não responde por coisa alguma. E no entanto é o único comentário do mundo político em Portugal. Um Governo decreta? gargalhada. Reprime? gargalhada. Cai? gargalhada. E sempre esta política, liberal ou opressiva, terá em redor dela, sobre ela, envolvendo-a como a palpitação de asas de uma ave monstruosa, sempre, perpetuamente, vibrante, e cruel – a gargalhada! Política querida, sê o que quiseres, toma todas as atitudes, pensa, ensina, discute, oprime – nós riremos. A tua atmosfera é de chalaça

Eça de Queirós, in 'Uma Campanha Alegre'






sexta-feira, 22 de março de 2013

Os voluntários da MAW

Ontem, enquanto vegetava em frente à televisão, apareceu nas notícias uma reportagem sobre a nova moda dos famosos terem instituições de solidariedade com o seu nome: Shakira, Nadal, Angelina Jolie, Iker Casillas, Luís Figo. Os nomes são intermináveis. Os jornalistas, enquanto as imagens apareciam, perguntavam-se se a ajuda dos famosos não era apenas aparentemente desinteressada. Um jogo de relações públicas, de imagem de marca, de melhor aceitação perante o público, de impostos menos pesados. As justificações foram imensas mas a frase final foi a que mais me satisfez. Diziam qualquer coisa como: nenhuma outra forma de ajudar, mesmo egoísta, ajudou alguma vez tanta gente.

E é verdade.
A minha forma de fazer voluntariado sempre foi um bocadinho mais desinteressada. Mais desinteressada no sentido de não me ajudar nos impostos e muito menos de atrair um sem número de fans maravilhados com o meu coração disposto a ajudar quem precisa. Mas mais interessada no sentido em que me maravilha a mim mesma, faz-me ter um sentido de melhor imagem de marca sempre que penso quem sou e como quero ser. Sinceramente faz-me ter outra percepção do tempo em que vivemos. Sempre que tinha um novo desejo na Make a Wish ou quando pedia dinheiro naquelas feiras típicas sentia-me bem. Porque tinha a certeza do que estava a fazer. Porque sabia que o estava a fazer para a Ana, para o Diogo, para o Tomás, para a Inês, para a Gabriela, e não para uma criança qualquer que eu nem sabia se existia.
A magia da Make a Wish é precisamente essa. Quando vemos uma cara, quando a reconhecemos, queremos também que seja um bocadinho nossa. E depois, ser voluntária na Make a Wish, é fazer parte da parte boa que tem ser-se voluntário. Ouvir o desejo de alguém e realizá-lo. Onde é que pode não haver delícia nisto?

Lembro-me, como se fosse hoje, de estar em casa da Ana Póvoas, no escritório, e de falarmos pela primeira vez nisto. Contou-me que este projecto vinha para o Porto e que eram precisos voluntários. Foi assim que comecei. Acho que nunca agradeci à Ana por me ter proporcionado isto. É, para mim, a maior embaixadora da MAW no Porto.

Hoje, passados 2 anos, o caminho está cada vez mais sólido. A MAW está cada vez mais forte e apesar de toda a ajuda dada pelas empresas, para mim, são os voluntários que a fazem crescer. É por eles que existem os desejos e é com eles que se concretizam. No dia em que volte (a Portugal) espero poder voltar a fazer parte disto.


quinta-feira, 21 de março de 2013

José Sócrates e a RTP, o novo casal português.

Hoje achei sinceramente que os meus olhos estavam velhos, cansados e me enganavam de propósito. Penso que devo ter lido duas ou três vezes a notícia sobre o novo comentador da RTP. José Sócrates, o ex primeiro ministro, comentador político na RTP. Ainda agora acho que não é verdade. Não pode ser.

Sempre fui contra a privatização da RTP. Sempre defendi um jornalismo público, isento, capaz de servir os interesses do seu país de uma maneira justa. Sem lucros, sem salários milionários com objectivo de verdade e compromisso. Sempre achei que um país não deveria educar-se pelas estacões privadas e sim pelo serviço público. Sempre achei que o jornalismo teria um lugar relevante, e que um canal público era imprescindível.

Mas e agora? Não sei se a RTP ou Alberto da Ponte são ratazanas da troika, do governo que não explica, não fala e, cada vez mais, se enrola em estórias da carochinha. Ter Sócrates como comentador político é a mesma coisa que pôr Oliveira e Costa (ex presidente do BPN) a discorrer argumentos sobre a banca portuguesa. Ou o Relvas a falar sobre a sua experiência como estudante do ensino superior num programa dedicado ao absentismo escolar.

Dar tempo de antena a José Sócrates, numa estacão pública de televisão, para opinar sobre política, nossa ou dos outros, é patético. Roça a promiscuidade. E faz-me rir, gargalhar por dentro, com tanta estupidez junta.

Chipre tem fumo preto

A situação financeira do Chipre está no limbo. Ou Rússia ou União Europeia. Qualquer fumo que saia desta chaminé, a cor sairá sempre preta.

A Alemanha, e Merkel, perceberam que as suas medidas não são solução única. Mas a chanceler deixou claro, se os cipriotas quiserem a ajuda dos Russos, terão de deixar o euro.

O ministro das finanças do Chipre continua em Moscovo, a troika disponibilizou-se para remodelar o plano de resgate. Parece-me que temos um novo jogo favorito entre políticos irresponsáveis: atirar dados num tabuleiro de capitalismo financeiro, temos como castigo a democracia, a liberdade e a idiotice. Quanto mais jogamos, mais perdemos. E esta é a Europa que nos sobra.

Ainda são novos -os cipriotas- nestas andanças, coitados. Pobres daqueles que ainda não conhecem a força demolidora da troika. A tendência é sempre para pior. Ou bem que se vendem aos russos, à democracia suspeita de Putin, ou se entregam de braços meios fechados à troika e vêem o dinheiro, confortavelmente depositado neste paraíso fiscal, voar, não pelos dedos, mas pelas mãos inteiras.

Esperemos, esperemos para ver e assistir às cenas do próximo capítulo, não só do Chipre mas de todos nós.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Enterrado o sonho de ser jornalista

Desde que me lembro de ser gente o meu sonho sempre foi ser jornalista. Daqueles de investigação que percorrem o mundo atrás de verdade incovenientes, daqueles que correm perigo para contar a verdade. Hoje, agradeço não ter seguido esse sonho tão bonito mas tão irreal.

O jornalismo idealmente costumava ser o quarto poder, costumava ser a ferramenta que os cidadãos podiam usar para saberem o que realmente se passa. Deveria ser o espelho da sociedade. Sem mais nada. Sem a pressão de outros poderes, sem incoerência, sem censura, sem sujectividade. Mas não vivemos num mundo ideal.

Nuno Santos foi despedido. Segundo consta, por justa causa, sem indemnizações e com palmadinhas nas costas dos seus pares. Diz que nada tem a ver com o visionamento das imagens de uma manifestação pela PSP mas pelo depoimento que prestou, depois, no Parlamento. Foi acusado de delito de opinião. A ERC iliba o ex director de informação de qualquer responsabilidade pessoal. Nuno Santos diz que isto não fica por aqui, está a ser vítima de saneamento público: "a honra dos homens não se atira aos cães", o ajuste de contas será em tribunal.

Na quinta feira, Alberto da Ponte disse que não haveria, para já, qualquer despedimento colectivo, e que a administração "convive muito mal com o despedimento na RTP e convive muito mal com o desemprego em Portugal" por isso, pretende "fazer rescisões amigáveis e não despedir".
Safado.

terça-feira, 19 de março de 2013

O meu pai

Nietszche diz que se não se tem um bom pai, é melhor arranjar um. Eu não sofro desse mal. Tenho o meu e não quero mais nenhum. Tenho o meu e não o trocava por nada deste mundo. Mas sei que ser pai não é fácil, é mesmo trabalho de super herói - e eu não uso esta palavra de ânimo leve.




segunda-feira, 18 de março de 2013

A bofetada depois do fim de semana

Durante o fim de semana fui prestando alguma atenção às notícias mas confesso que deixei de parte a minha mania obsessiva de ler tudo quanto se passa em qualquer canto do mundo.
Achei que devia relaxar, que economia e política deviam passar para plano secundário e que o meu tempo livre seria para me distrair com tantas outras coisas que a companhia da minha prima e da cidade de Lisboa me poderiam, com toda a certeza, dar.

Fui ouvindo umas coisitas sobre o discurso do Gaspar, outras do Chipre, soube que o F.C. Porto empatou, que o Benfica ganhou, que o Real Madrid ganhou. Mas confesso que andei alienada e a única informação que eu deixava que chegasse até mim era pelas "gordas" dos jornais que ontem vi no aeroporto e os títulos dos posts no Facebook dos meus amigos mais indignados.

Confesso que me soube bem, estive perto daquele estado: quem não vê é como quem não sabe. Mas, se pudesse voltar atrás, não teria feito o mesmo, porque hoje decidi ler tudo quanto havia para ler e levei uma bofetada enorme. Tudo ao mesmo tempo, assim, sem dó nem piedade:

- os Ministros das finanças da zona euro decidem que sim, que impor uma taxa sobre todos os depósitos existentes nos bancos do Chipre, estava bem. Hoje está prevista a votação para os vários impostos extraordinários: 3% para quem tiver menos de 100 mil euros (em vez dos 6,7% previstos) e 12,5% para os que têm mais de 100 mil euros (em vez dos anteriores 9,9%). O presidente cipriota diz que escolheu a maneira menos penosa e que assume tudo o que puder vir daí.

- Gaspar já não sabe a quantas anda, o desemprego vai subir, a divída pública vai atingir valores históricos, o défice oscila entre os 4,9% e os 6% dependendo a quem se destinam os números. Mais austeridade, mais esforços e menos credibilidade a este ministro que desconfio, já não sabe a quantas anda. Depois de anunciar, bem lá ao longe, que 2 anos de austeridade chegavam, e que os esforços feitos por todos, iam compensar, Portugal continua afundado, sem ver uma forma de sair deste buraco enormesco. Citando Marcelo Rebelo de Sousa, Gaspar "parece um astrólogo" e chumbou o ano perdendo "larguissimamente a credibilidade"

- Seguro falou hoje em Castelo Branco, falou mas na verdade não disse nada: "chegou a hora da mudança", "este país só muda se mudarmos de política". Este jogo de ping pong entre partidos políticos, entre vozes de contestação e vozes de verdade, vozes de seriedade e promessas bem longinquas só com aparência no tempo são já piadas gastas. E sem graça nenhuma.

Como diria Aldous Huxley "rebolar no lodo não é, com certeza, a melhor maneira de alguém se lavar."

sexta-feira, 15 de março de 2013

Casas comigo? Falamos em casa

Expliquem-me lá, como se eu fosse muito burra, o que leva um homem a pedir, quem quer que seja, em casamento através de um directo televisivo?
Tenho visto por aí muitos pedidos originais, com bandas sonoras a acompanhar e amigos à mistura, mas isso não quer dizer que esteja bem sorrir perante uma câmara e dizer "casas comigo?".
Foi o que fez o director desportivo do PSG, enquanto estava a ser entrevistado no sorteio dos quartos de final da Liga dos Campeões. Ouviu um "falamos em casa", e a situação ficou esclarecida.


Espanha não é melhor, mas não é pior

Já sigo o blogue do Enrique Dans há algum tempo. Já gostava dele, vá, da forma como escreve. Mas depois de ler ISTO, fiquei a gostar ainda mais.

Só um aperitivo: "España no tiene un problema de cutrez, lo que tiene es un problema porque algunos españoles son enormemente mezquinos, tienen “complejo de españoles”, y asumen que el resto de los españoles son como ellos."


quinta-feira, 14 de março de 2013

O Porto e outros clubes

Ontem chateou-me que o Porto tivesse perdido. Chateou-me porque é o meu favorito, porque "sou dele" desde que me lembro de gostar futebol e porque achei mesmo que íamos ganhar. Como qualquer momento na vida, não me corre bem o dia quando as expectativas são defraudadas.

Quando o jogo acabou o facebook tornou-se num campo de batalha: portistas furiosos com Vítor Pereira, portistas conformados mas de orgulho ferido, portistas que declaram amor eterno e benfiquistas. Benfiquistas orgulhosos, benfiquistas genuinamente contentes. Benfiquistas habituados a terem melhores dias com as equipas rivais a perderem do que com a sua própria vitória.

Eu não sou do género "toma lá que já almoçaste" ou "somos melhores que vocês" ou "o Benfica vive do passado" e todas as coisas que nós, portistas, dizemos quando nos sentimos atacados. Sou mais do género de gozar as vitórias com os que estão comigo e de sofrer em silencio com as derrotas.

Mas nem toda a gente é assim, e o futebol é isto mesmo. Deixemo-nos de tretas. Mesmo em competições europeias ninguém torce por ninguém, a não ser pelo nosso clube. E, se torce, é porque não ferve por futebol, é porque não vibra, é porque lhe é igual ao litro.

O Porto é o Porto, e o Benfica é o Benfica. Não me interessa se são clubes portugueses. Ou imaginam um adepto do Barcelona a torcer pelo Real Madrid?

Deixemos o politicamente correcto para outras alturas, as paixões clubistas são animalescas, e portanto não precisam de razão para existirem.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Paciência

Ora então vamos por partes para que o meu mau feitio não me chateie ainda mais e algo fique por dizer.

Aqui, em Espanha - até podia ser em outro lado qualquer - um mendigo apanhou de tal maneira que teve que ficar no hospital durante um ano.

O grupo de 5 homens que fizeram esta proeza são de ideologia neo-nazi. Até aqui tudo bem, ou tudo mal, mas pelo menos bate a cara com a careta

Hoje, todos se encontraram em tribunal e o advogado de dois deles, um senhor de 90 anos, com idade para ter, vender e dar juízo escreve uma carta ao juiz, com o intuito, de demonstrar que a razão pela qual os jovens fizeram isto é simples: os sem abrigo, pela vida que levam, por não quererem fazer nada, estão sujeitos a repulsa por parte das outras pessoas.
Não satisfeito, e com o tempo de antena que lhe dão, ainda diz que são um cancro, são um cancro da sociedade.

Deixem lá os Justin Biebers do mundo, as crianças tatuadas e, como diz o outro, Senhor, dá-me paciência, porque se me deres força...

terça-feira, 12 de março de 2013

Quero um Happy Meal para mim.

Hoje fiz uma das coisas que mais me dá prazer: lanchei Mcdonalds. É verdade, tão verdade quanto me ter sabido pela vida.

Toda a gente que me conhece e vai comigo ao Mcdonalds sabe que eu como sempre a mesma coisa: Happy Meal. A dose é perfeita e se tenho um bocadinho mais de gula o sundae com dose dupla de caramelo ajuda-me sempre.

Mas há uma coisa que sempre me chateia: o Happy Meal é pensado para crianças e eu não sou criança nenhuma portanto, de todas as vezes que me passeio com a dita caixinha - que não me serve para nada - fico com a sensação que estou a comer alguma coisa que não foi pensada para mim.
E depois há sempre o problema do boneco. O que é que eu faço com o boneco? Tenho sempre duas opções: ou pergunto à criança mais próxima de mim se o quer, e a probabilidade de não o querer é enorme porque já tem o dela que saiu no Happy Meal feito para ela; ou quando despejo o meu tabuleiro, deixo o boneco embalado à vista de todos para que possa ser usado por mais alguém que não eu.

Ora, a Mcdonalds podia, digo eu, lembrar-se de fazer um Happy Meal para quem, como eu, acha que é a dose perfeita. Não me importava de coleccionar coisas para gente mais velha que é como quem diz, uma caixa igual à das crianças mas com sapatos Loubotin de todas as cores (será que vai fazer lembrar os anúncios de pensos higiénicos?) ou recortes de notícias, ou factos sobre o marketing maravilhoso que fazem e os produtos de todos os outros países. Lá dentro (da caixa), bem, lá dentro os espelhos como os da Hello Kitty também me davam jeito, mas sem ser da Hello Kitty, e umas amostras Mac, ou Kiko. Who knows.

As personagens de Merkel

Desde 2009 que Merkel tem ocupado o espaço mediático à volta da Europa: ou porque recusa o resgate de países em dificuldade, ou porque diz que a Grécia devia sair do euro, ou porque não queria o Banco Central Europeu a comprar dívida para que as taxas de juro baixassem, ou porque defende,
como mais ninguém que a austeridade é a única forma de sair da crise, ou porque, mais recentemente, não defende a extensão do prazo de pagamento dos empréstimos concedidos a Portugal e Irlanda.

Por uns é vista como uma espécie de Maga Patológica (a bruxa que tenta roubar a moeda nr.1 do Tio Patinhas para se transformar a mais rica do mundo) por outros como a heroína que faz o que tem que ser feito.

Opiniões à parte, a imprensa e os cidadãos, com carradas de imaginação, tranformam-na em personagens que todos conhecemos: a New Statesman define-a como um robo exterminador de olhos vermelhos; a The Economist personifica um barco chamado a economia mundial que se afunda e pergunta: Por favor, senhora Merkel, podemos ligar os motores?; um outdoor no centro de Berlim mostra uma imagem computorizada da chanceler alemã em roupa interior com o slogan: o país precisa de nova roupa interior; há até quem brinque com a roupa (sempre a mesma) que veste e sugira Merkel como a nova imagem de marca da Robbialac.

Sem um consenso de opiniões, entre teorias de bruxas, de conspiração e de salvação, deixo-vos dois artigos: A sobrevivência do euro sem a Alemanha e Why everybody loves to hate Angela Merkel and why everybody is wrong











sábado, 9 de março de 2013

Trend Alert

Sou oficialmente uma trendscout. Nome pomposo, eu sei, mas gosto dele.
Há um site, todo ele português - e como eu gosto das coisas que são nossas - que se chama Trend Alert. Vale a pena ir dar uma vista de olhos.
Chama-nos a atenção para aquilo que está a acontecer, tendências espalhadas pelo mundo vistas como experiências que atraem o consumidor.

O seu manifesto:


EMBRACE CHANGE
Adoramos os idiotas, os curiosos e os cães rafeiros.
Somos contra o assim-assim, as meias tintas e o “vou pensar”.
Gostamos do caos porque serve de desculpa.
Somos pelo tofu, pelo seitan, o kefir e os couscous.
Acreditamos na fruta da época e nas mini-hortas de varanda.
Somos pelos legumes a vapor e pessoal de bom humor.
Somos contra os precoces na cama e os atrasados sociais.
Aficionados das crónicas e dos comentadores de telejornal.
Somos fãs dos criativos, da guerrilha e dos um pouco loucos.
Retro, vintage, new age e old school, tudo serve.
Não perdemos uma oportunidade de fotografar.
Registamos o que ainda não está a dar, mas estará.
E… abraçamos a mudança porque é a única certeza que temos.

Vão lá dar uma espreitadela, basta carregarem no link que está aí do lado esquerdo.

A minha primeira contribuição:
http://trendalert.me/wishareit/

sexta-feira, 8 de março de 2013

As minhas mulheres

Ando já há uns dias a pensar neste texto. O que vou escrever e como vou escrever sem que se torne demasiado feminista e aborrecido.
Então, decidi que vou aproveitar o dia de hoje não para engrandecer os feitos das mulheres no mundo e o que de especial vamos fazendo ano após ano mas para agradecer.

Tenho algumas mulheres na minha vida a quem precisava agradecer por fazerem parte dela. Os motivos obviamente são vários:
- porque fizeram de mim quem eu sou (para o bem e para o mal, por exemplo, esta incontinência verbal devo-a à minha mãe)
- as que me inspiram
- as que não me conhecem mas que, só por eu saber quem são melhoram qualquer coisa em mim
- e ainda, as que me mostram aquilo que eu não vou nunca querer ser.

Não vou enumera-las porque não quero tornar estas palavras numa espécie de elogio público. Da forma como eu vejo as coisas, elas - as minhas mulheres - sabem quem são.

Permitam-me apenas uma excepção, uma pequenina, mas que me importa imenso: a minha irmã Francisca e a minha irmã Maria, por hoje serem mais mulheres do que eu, por terem crescido mais do que eu. Por terem decidido que os dias entre as fraldas, o banho, o cócó, os castigos e as brincadeiras valem a pena.

Bom dia para todas, é dia da mulher mas também é sexta feira.



quinta-feira, 7 de março de 2013

Os Roteiros -silenciosos- de Cavaco Silva

O Presidente da República anunciou hoje que, no próximo dia 9, vai divulgar o texto do prefácio Roteiros VII. Diz-nos, na sua página do Facebook, que "o prefácio diz respeito ao modo como deve actuar um Presidente da República em tempos de grave crise económica e financeira, como aquela em que Portugal tem estado mergulhado nos últimos anos". - talvez conseguir não hastear a bandeira nacional ao contrário deva ser a dica número um.

No seu último roteiro ajusta contas com Sócrates pela "falta de lealdade institucional": o ex primeiro ministro esqueceu-se de avisar o Presidente da República antes de anunciar o PEC IV, que é como quem diz, e desculpem-me desde já a expressão popular, o corno é o último a saber.
Ainda em Roteiros VI podemos ler que "O Presidente da República pode exercer a sua magistratura de influências para que sejam encontradas soluções governativas estáveis e coerentes (...)" e ainda que "Acima de tudo, assumi um compromisso de proximidade com todos os cidadãos, sou presidente de Portugal inteiro, de todos os portugueses, sem excepção (...). Sei as dificuldades que atravessamos, mas tenho também presente as enormes potencialidades de que Portugal dispõe. O nosso maior potencial é humano. O nosso maior potencial são os portugueses, especialmente os jovens - os jovens que não se conformam, que aspiram a um futuro melhor."

Vai escrevendo, o nosso Presidente, para que não lhe faltem as palavras. Para que se continue a lembrar que o chefe de estado é também eleito pelo povo, que o chefe de estado, mesmo sem funções executivas directas tem de exercer um papel político activo. Não só lá atrás, não só debaixo da cortina, mas perante todos.

Não sei exactamente o que vai Cavaco Silva escrever mas, relembrando o seu último roteiro, vai continuar a ficar pelas palavras escritas e pela política de silêncios,"é mais sensato e responsável" dirigir-se directamente ao governo porque, como diz "o protagonismo mediático do Presidente da República é inversamente proporcional à sua influência".

Esta política de toca e foge, a sua insustentável forma discreta de ser , e a passividade com que diz e desdiz...
Eu peco por excesso, Cavaco Silva, por defeito.


quarta-feira, 6 de março de 2013

O problema dos anúncios de pensos higiénicos

Os anúncios de pensos higiénicos e de tampões sempre me chatearam um bocadinho. Nunca percebi se são feitos e imaginados por homens ou mulheres mas a verdade é que a histeria das meninas, as cores vivas, os sapatos lindos de morrer e as coreografias milimetricamente ensaiadas conseguem fazer com que eu não compre nem mais um Evax ou um OB. Ah, não, a verdade é que não posso. Nem eu, nem vocês, mulheres. O período é aquele momentozinho irritante do mês, como se fosse o cromo chato com quem temos de levar. Não há como escapar.

Bem, desabafos à parte, enquanto me perdia nas leituras diárias, encontrei um homem que se indignou contra uma marca de pensos higiénicos. Escreveu o que lhe ia na alma:

“Olá, como homem tenho de vos perguntar porque é que nos mentiram durante todos estes anos. Quando era criança, via os vossos anúncios com interesse e, vendo como neste incrível período do mês as mulheres conseguiam desfrutar de tantas coisas, sentia-me um pouco invejoso. Quer dizer, elas andavam de bicicleta, montanhas russas, dançavam, saltavam de para-quedas, porque é que eu não podia desfrutar deste tempo de diversão e de “água azul”? Maldito pénis!! Então arranjei uma namorada, estava muito feliz e mal podia esperar pela chegada desta época maravilhosa do mês… mas vocês mentiram!! Não havia diversão nenhuma, nenhuns deportos radicais, nenhuma água azul sobre abas e nenhuma banda sonora no fundo, oh não não não. Em vez disso, tinha de lutar contra os meus instintos masculinos e contra a vontade de gritar enquanto a minha namorada mudava da pessoa carinhosa, gentil e com um tom de pele normal para a miúda do exorcista com veneno adicional e uma rotação de cabeça de 360 graus.”

A marca, Bodyform, respondeu-lhe, num vídeo que acabou por se tornar viral e que, digo eu, funcionou melhor do que as dezenas de anúncios com líquido azul e sapatos de todas as cores. Vale mesmo a pena ver.



domingo, 3 de março de 2013

Eu lixo, a troika lixa-se, nós lixamo-nos

Ontem houve manifestação. E houve jogo do F.C. Porto. As fotografias nas redes sociais ia alternando entre os cachecóis azuis e brancos e os cartazes pensados, criativos, carregados de mensagens: "mais vale votar no Ali Baba, assim sabes que só tens 40 ladrões", "Passos, deves-me as minhas semanadas", "grande escândalo não é Coelho...é um grande cavalo" - ah, e uma fotografia de Lisboa que afinal não era Lisboa, era uma manifestação em Istambul.

A criatividade dos portugueses é de invejar mas a nossa dívida não se paga com agências de publicidade ou com cool hunters: personificamos um país chateado, contrariado, falido e um pouco confuso.

A organização avança com números estrondosos porém difíceis de acreditar: mais de 1 milhão sai à rua. Mas afinal não será bem assim. Com a ajuda do Google maps, fotografias aéreas e alguns cálculos matemáticos é fácil discordar com este milhão (no Público de hoje contam-se os metros quadrados e os espaços vazios chegando-se a uma conclusão lógica).

Sabemos que o protesto se veste de uma expressão já conhecida por todos "Que se lixe a troika" mas eu não sei bem (ou sei perfeitamente) se todas aquelas pessoas percebem o que significa se a troika realmente se...lixasse.
Mandar lixar quem nos pôs assim parece-me legítimo, mandar lixar quem continua a querer fazer pior, também, mas mandar lixar a troika pensando que, com isso, a austeridade acaba, os empréstimos desaparecem e Portugal passa a ser aquele cantinho à beira mar plantado que um dia descobriu o mundo, não me parece lógico.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Carne de cavalo inspira marcas

O escândalo da carne de cavalo inspirou pelo menos três marcas e deu o mote para campanhas de publicidade e explicações pouco convencionais.

- a H3 sentiu-se lesada com o artigo da revista Sábado que denunciava carne de cavalo nos seus hamburgueres. A cadeia portuguesa distribuiu uma carta onde se pode ler: Artigo da revista Sábado tem vestígios de burro.

- O novo Mini Cooper criou uma campanha original á volta dos rótulos que andam a enganar os europeus. O slogan diverte: Beef. With a lot of horses hidden in it.

- A associação PETA, conhecida por defender o direito dos animais, espera que todo este escândalo leve as pessoas a tornarem-se vegetarianas: criou um outdoor onde mostra a mistura de um corpo de cavalo e a cabeça de uma vaca esperando assim que as pessoas deixem de considerar as vacas como alimento e as vejam como animais amorosos.