domingo, 26 de maio de 2013

Honra amargurada

Semi, semi e semi. Pois. Andamos por aí de semi em semi. Semi-despedimentos, semi-cortes, semi-juros, semi-défice, semi-crise. Semi-país. E semi-presidente. Com esta história toda do palhaço para aqui palhaço para ali, Cavaco Silva fez a mudança, de sem-presidente para semi-presidente. 
Calado, quieto, com poderes do quase-homem-que-consegue-ser-invisível a meu-Deus-como-puderam-chamar-me-palhaço.

Não é que veja quaisquer semelhanças, nenhumas mesmo. O palhaço é por definição o bobo, o que faz rir, que descontrai, que ganha a vida a ver os outros sorrir com as palhaçadas mais ridículas que nos podemos lembrar. E Cavaco Silva está longe de conseguir protagonizar esse papel. Talvez um mimo, sim, um mimo parece-me mais acertado. Daqueles que vemos nos semáforos, com a cara pintada de branco, lágrima no canto do olho, sem expressão, à espera que, por um milagre, alguém dê uma ajudinha.

Claro que Miguel Sousa Tavares abusou. E sabe que abusou. Mas é o Miguel Sousa Tavares! Aquele que gosta da polémica portuguesinha: critiquem, digam bem, mas falem, falem minha gente. É que também é preciso entender que a venda de livros em Portugal desce vertiginosamente e um escritor também precisa de dinheiro para viver, não é cá só palavras e iluminações nocturnas - essas não dão de comer a ninguém.

Isso da ofensa à honra é susceptível e aberto a discussão. Quão interessante seria perguntar a cada português, quanto bocadinho de honra sem ser ofendida é que ainda lhe resta.






terça-feira, 21 de maio de 2013

Risto Mejide - No busques trabajo

"No busques trabajo. Así te lo digo. No gastes ni tu tiempo ni tu dinero, de verdad que no vale la pena. Tal como está el patio, con uno de cada dos jóvenes y casi uno de cada tres adultos en edad de dejar de trabajar, lo de buscar trabajo ya es una patraña, un cachondeo, una mentira y una estúpida forma de justificar la ineptitud de nuestros políticos, la bajada de pantalones eurocomunitaria y lo poco que les importas a los que realmente mandan, que por si aún no lo habías notado, son los que hablan en alemán.

No busques trabajo. Te lo digo en serio. Si tienes más de 30 años, has sido dado por perdido. Aunque te llames Diego Martínez Santos y seas el mejor físico de partículas de Europa. Da igual. Aquí eres un pringao demasiado caro de mantener. Dónde vas pidiendo nada. Si ahí afuera tengo a 20 mucho más jóvenes que no me pedirán más que una oportunidad, eufemismo de trabajar gratis. Anda, apártate que me tapas el sol.

Y si tienes menos de 30 años, tú sí puedes fardar de algo. Por fin la generación de tu país duplica al resto de la Unión Europea en algo, aunque ese algo sea la tasa de desempleo. Eh, pero no te preocupes, que como dijo el maestro, los récords están ahí para ser batidos. Tú sigue esperando que los políticos te echen un cable, pon a prueba tu paciencia mariana y vas a ver qué bien te va.

Por eso me atrevo a darte un consejo que no me has pedido: tengas la edad que tengas, no busques trabajo. Buscar no es ni de lejos el verbo adecuado. Porque lo único que te arriesgas es a no encontrar. Y a frustrarte. Y a desesperarte. Y a creerte que es por tu culpa. Y a volverte a hundir.

No utilices el verbo buscar.

Utiliza el verbo crear. Utiliza el verbo reinventar. Utiliza el verbo fabricar. Utiliza el verbo reciclar. Son más difíciles, sí, pero lo mismo ocurre con todo lo que se hace real. Que se complica.

Da igual que te vistas de autónomo, de empresario o de empleado. Por si aún no lo has notado, ha llegado el momento de las empresas de uno. Tú eres tu director general, tu presidente, tu director de marketing y tu recepcionista. La única empresa de la que no te podrán despedir jamás. Y tu departamento de I+D (eso que tienes sobre los hombros) hace tiempo que tiene sobre la mesa el encargo más difícil de todos los tiempos desde que el hombre es hombre: diseñar tu propia vida.

Suena jodido. Porque lo es. Pero corrígeme si la alternativa te está pagando las facturas.

Trabajo no es un buen sustantivo tampoco. Porque es mentira que no exista. Trabajo hay. Lo que pasa es que ahora se reparte entre menos gente, que en muchos casos se ve obligada a hacer más de lo que humanamente puede. Lo llaman productividad. Otra patraña, tan manipulable como todos los índices. Pero en fin.

Mejor búscate entre tus habilidades. Mejor busca qué sabes hacer. Qué se te da bien. Todos tenemos alguna habilidad que nos hace especiales. Alguna singularidad. Alguna rareza. Lo difícil no es tenerla, lo difícil es encontrarla, identificarla a tiempo. Y entre esas rarezas, pregúntate cuáles podrían estar recompensadas. Si no es aquí, fuera. Si no es en tu sector, en cualquier otro. Por cierto, qué es un sector hoy en día.

No busques trabajo. Mejor busca un mercado. O dicho de otra forma, una necesidad insatisfecha en un grupo de gente dispuesta a gastar, sea en la moneda que sea. Aprende a hablar en su idioma. Y no me refiero sólo a la lengua vehicular, que también.

No busques trabajo. Mejor busca a un ingenuo, o primer cliente. Reduce sus miedos, ofrécele una prueba gratis, sin compromiso, y prométele que le devolverás el dinero si no queda satisfecho. Y por el camino, gánate su confianza, convéncele de que te necesita aunque él todavía no se haya dado cuenta. No pares hasta obtener un . Vendrá acompañado de algún pero, tú tranquilo que los peros siempre caducan y acaban cayéndose por el camino.

Y a continuación, déjate la piel por que quede encantado de haberte conocido. No escatimes esfuerzos, convierte su felicidad en tu obsesión. Hazle creer que eres imprescindible. En realidad nada ni nadie lo es, pero todos pagamos cada día por productos y servicios que nos han convencido de lo contrario.

Por último, no busques trabajo. Busca una vida de la que no quieras retirarte jamás. Y un día día en el que nunca dejes de aprender. Intenta no venderte y estarás mucho más cerca de que alguien te compre de vez en cuando. Ah, y olvídate de la estabilidad, eso es cosa del siglo pasado. Intenta gastar menos de lo que tienes. Y sobre todo y ante todo, jamás te hipoteques, piensa que si alquilas no estarás tirando el dinero, sino comprando tu libertad.

Hasta aquí la mejor ayuda que se me ocurre, lo más útil que te puedo decir, te llames David Belzunce, Enzo Vizcaíno, Sislena Caparrosa o Julio Mejide. Ya, ya sé que tampoco te he solucionado nada. Aunque si esperabas soluciones y que encima esas soluciones viniesen de mí, tu problema es aún mayor de lo que me pensaba.

No busques trabajo. Sólo así, quizás, algún día, el trabajo te encuentre a ti."

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tampodka

Estou a tentar, com todas as forças do meu ser, menos as do cabelo já que sou tal e qual Sansão - depois de melena cortada não há força que me valha - digerir uma notícia que vi hoje de manhã e me deixou anestesiada o dia todo. Sim, anestesiada parece-me a palavra certa tendo em conta o que vi e ouvi.

Trata-se de tampodka. Estranho o nome? Eu sei, também não percebi patavina quando explicavam que era a nova moda aqui em Espanha, copiada aos norte americanos. Nessa palavra misturam-se duas coisas aparentemente distintas mas que juntas fazem a festa aos jovens nuestros hermanos (não vale gozar porque qualquer dia temos as nossas crianças tampovodkadas). Pois muito bem, este tampodka, ou tampovodka é nada mais nada menos do que a nova maneira, mais barata, mais rápida e eficaz de chegarmos ao estado de (des)graça: vulga bebedeira. 

Então a coisa processa-se da seguinte forma: o dito tampão, que até agora tinha como consumidor único a mulher, é ensopado em álcool e depois upa upa que lá vai ele. Pronto para fazer danos. Tinha (atentem no tempo verbal) como consumidor, target, mercado, o que quiserem, a mulher e agora, pois agora tanto faz. Com álcool isto dá para os dois sexos: eles por um lado e elas pelo outro. 

Gostava que isto fosse um assunto cheio de piada como as minhas manhãs agora mais completas. Mas preocupa-me. Preocupa-me que isto aconteça. 
O acto em si - pôr um tampão dentro de um copo cheio de álcool, esperar que engorde e ora por um sítio, ora por outro - é algo que me pasma. Tal e qual pai e mãe quando são cafonas só porque queremos fazer uma tatuagem aos 16 ou sair com a saia da farda do colégio da irmã mais nova. 
Na reportagem, diziam as miúdas: "é mais barato", "é mais rápido". E diziam os médicos: com isto, o corpo perde noção, deixa de controlar a quantidade de álcool no sangue, para não falarmos dos danos físicos que pode causar. 

Posto isto: olhinhos bem abertos nos irmãos mais novos, nos filhos, nas crianças, e por via das dúvidas, na quantidade de tampões que se compram lá por casa.

Cabelo meu, cabelo meu

Durante quase toda a minha existência, como ser pensante, tive o cabelo comprido. Excepto uma vez em que me pagaram para me cortarem o cabelo. Experiência a não repetir: auditório, cheinho de monstros de cabelo - vulgos cabeleireiros -  que soltam um ahhh quando vêm o meu (cabelo) a ser cortado sem dó nem piedade, alegadamente com o objectivo de aprenderem as tendências para o ano seguinte. Isto são coisas que se fazem quando queremos ser independentes, mesmo quando não o somos. 
E depois nunca tive pais castradores, que me obrigavam a andar de franja e moldura facial. Sempre me deixaram escolher o que eu achava que me ficava melhor (excepto quando, no outro dia, há meia dúzia de meses, a minha mãe me perguntou se eu ia mesmo sair assim de casa e que o meu pai não ia achar piada nenhuma).

Pois sim, ao que viemos. Há quinze dias, mais coisa menos coisa, cortei o cabelo. Não foi cortei o cabelo, é corteeeeeeiiii o cabelo. E raios, não sabia no que me metia. Já andava a matutar há algum tempo sobre este assunto. Nestas coisas sou ponderada - ou se calhar não. E achei que, se cortasse, só iria ter vantagens: ora dizem-me que por ser baixinha (ei) não posso ter o cabelo demasiado comprido, dizem-me que dá menos trabalho se estiver curto, e eu pensei que me iam dar menos vezes 18 anos se deixasse a melena de lado e cortasse uns valentes centímetros (devia ter perguntado à segurança do aeroporto que me perguntou se eu era maior de idade, o que é que a levou a fazer essa pergunta).

E isto é tudo mentiraaaaa. Tudo. Além de que foi a cabeleireira que me convenceu. Porque o meu espanhol é manhoso e porque estava a sofrer de algum síndrome estrela de hollywood naquele momento. 
Mas pronto, cortei. E saí de lá i-m-p-e-c-á-v-e-l. Não deixei que me enganasse com os seus truques de cabeleireira armada com secador todo potente que ninguém tem em casa. Pedi que me desse só uma secadela. Até aqui tudo bem. Achei durante uns minutos que toda a gente olhava para mim e pensava que eu era uma idiota porque ainda há 30 minutos tinha um cabelo enorme cheio de euros em tratamentos, e óleos, e máscaras e tudo e tudo e tudo. Mas tudo bem. 

Agora!, o que realmente me chateia é que não, não meus santinhos, ter o cabelo curto não dá menos trabalho do que ter o cabelo comprido. E se estão a pensar cortá-lo, paaaarouu. Porque dá mais trabalho. Eu e o secador temos agora uma amizade diária, que se vai construindo mesmo sabendo que, um dia, o fim está à vista, e esse dia será, quando puder fazer um rabo de cavalo decente sem parecer que tenho uma esfregona no cucuruto da cabeça. É toda uma relação matinal: eu, o secador e a escova. 

Depois, essa coisa de parecer a idade que tenho é a maior fraude que já ouvi. Vou começar voluntariado com crianças e a primeira coisa que a responsável disse quando me viu foi: "ai, que vai parecer mais um dos nossos meninos."  Sim senhora, que bonito. Nunca na vida chegarei, à primeira vista, parecer 28 anos. Conformo-me com isso porque a vida vai-me regalar uns lindos 40. Mas tudo bem. 

Espero que me salves, meu cabelo curto, dos 40 graus que por aí virão. Ou deixo-te crescer para sempre, sem dó nem piedade, nem tesouras.


Os blogues dos outros #1

Há um blogue, Bitaites, de Marco Santos. que sigo há bastante tempo. E hoje não podia deixar de vos mostrar como há textos absolutamente espectaculares, absolutamente de génio. De onde eu vejo as coisas, não há nada melhor do que o humor para combater a estupidez da gente. 

PANELEIROSSAUROS

Paneleirossauros

Os ignóbeis socialistas e bloquistas vão levar amanhã mais uma vez a adopção de crianças por duas pessoas homossexuais do mesmo sexo que vivam juntas, ao Parlamento. Não se enganem, todas as manifs, todos os Grandolas Vilas Morenas, todos os Galambas e Dragos, todos os actos de terrorismo de interrupção de membros do Governo em actos públicos, têm um único objectivo “dar crianças aos homossexuais”.

Maria Teixeira Alves, no Corta-Fitas

 

Graças à jornalista Maria Teixeira Alves, acabei de descobrir que o 25 de Abril foi obra de gays.

Não acreditem se os vossos professores de História vos disserem que naquele fatídico dia de 1974 o povo saiu à rua – em primeiro lugar, porque são com certeza larilas infiltrados no sistema educativo; em segundo, porque não foi o povo quem saiu à rua, foram os paneleiros.

O povo é quem mais ordena? Isso é grito de sado-masoquistas, de certeza.

As pessoas acham que foi uma revolução, mas foi uma parada gay — uma conspiração com o objetivo de dominar homossexualmente este país e legalizar a sodomização de criancinhas recém-adotadas.

E aposto que os militares que a organizaram usavam cuecas de fio dental sob aqueles uniformes – em cada Salgueiro Maia, não se esqueçam, há um bailarino dos Village People em potência. Em cada revolucionário, um homoconspirador desejoso de enfiar a palhinha no rabo da revolução.

Nem quero imaginar o que a pobre mulher deve ter sentido quando alguém se lembrou de meter um cravo no cano de uma metralhadora – por mais que me esforce, não consigo imaginar nada mais gay do que isso. Ainda por cima usaram uma criança como símbolo, os porcalhões, o que só prova que em cada maricas há sempre um pedófilo a espreitar por baixo das saias da Anita.

Somos todos filhos de uma revolução de rabetas – isto é mesmo pior do que pensávamos. E até Zeca Afonso, revelar-nos-á a Alves um dia, gostava de se disfarçar de loira dos Abba enquanto cantava o Grândola Vila Morena diante do espelho.

Um dia a Teixeira Alves chegará à conclusão de que os dinossauros não se extinguiram por causa da queda de um asteroide; os bichos começaram a enrabar-se uns aos outros no período Cretáceo e, pronto, acabaram por desaparecer. Qualquer biólogo vos dirá que uma extinção em massa começa sempre com uma apalpadela no cu e só Deus sabe o que vai ser de nós, pobres humanos, se persistirmos neste comportamento. A Natureza está atenta e não perdoa os indigentes morais, diga lá o que disser o panilas do Darwin.

É preciso ver que os casais heterossexuais também têm muita culpa no cartório: afinal, quem os mandou gerar filhos gays? Não há uma lei que proíba isso? Se não há, devia haver. Existirá algum vírus da paneleirice aguda que os padres ainda não conseguiram identificar nos laboratórios que montaram nas sacristias? Que terrível conspiração é esta e por que razão mais pessoas normais não se afligem como a Teixeira Alves?

Está decidido. Como medida profilática, proponho que doravante todos os pais sejam obrigados a provar que não são maricas antes de serem autorizados a procriar.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Abercrombie & Fitch - branding à borliú

Na internet anda tudo com os cabelos em pé. Abercrombie & Fitch é o tema dos últimos dias e tudo isto porque o CEO, Mike Jeffries, há uns anos atrás veio dizer que a sua marca é exclusiva e que as pessoas com excesso de peso estão fora - “Candidly, we go after the cool kids…A lot of people don’t belong [in our clothes], and they can’t belong. Are we exclusionary? Absolutely.” 

O poder da internet é, por vezes, assim mesmo. Faz-me lembrar a Margarida Rebelo Pinto que dois anos depois de ter publicado a crónica "as gordinhas e as outras" viu a sua reputação (?) fugir-lhe pelos dedos das mãos: gordas e magras de Portugal juntaram-se com a missão de lhe dizer como é que é. 

Pois, na internet os assuntos hibernam, durante anos, e esperam a melhor altura para renascerem (qual fénix qual quê) e atacarem outra vez. E isto tudo, do CEO da A&F, veio de fininho mas está a atingir proporções enormes. Depois do co-autor, Robin Lewis, do livro "New rules of Retail", ter reacendido a chama ao dizer que Mike Jeffries não gosta que pessoas gordas comprem na sua loja, quer pessoas magras e bonitas, as reacções têm sido impressionantes. 

Circula um vídeo (ver aqui)na internet com a clara missão de destruir a fama da marca. Um americano distribui roupas pelos sem abrigo numa tentativa de reposicionar a marca. Ingénuo? Sem dúvida. 




Depois de muita tinta na imprensa internacional, Mike Jeffries deixa um post no Facebook e passa a explicar que a A&F é uma marca e que, como tal, precisa posicionar-se, isto sem desrespeitar todas as pessoas, sejam de que raça, género, tipo de corpo e outras características.





Se dermos uma vista de olhos no site da marca, rapidamente encontramos um quadro com os vários tamanhos existentes. Para as mulheres até ao L, para os homens até ao XXL. E é aqui que começa a discórdia. São muitas as vozes que se unem, reivindicando o direito de poder comprar na loja, seja qual for o tamanho. E eu continuo sem perceber que reivindicações são estas. 

Percebeu-se que o marketing é uma ferramenta essencial para que determinada marca se possa distinguir da concorrência, para que determinada marca se possa posicionar e segmentar - era suposto o quê? Que as marcas fossem de todos e para todos? 
E então aquelas marcas que estão totalmente direccionadas para as pessoas gordas? 
Falemos sério, o retail nos Estado Unidos é uma mixórdia autêntica. Há marcas por todo o lado, e muito poucas, ou pelo menos as que estão ao alcance do grande público, se posicionam: há para todos os tamanhos, feitios, gostos e orçamentos. O mesmo se passa aqui na Europa: tamanhos do XS ao XXL, e, todas as cores, como fardas. 

Não ouvi nem uma vozinha a queixar-se da Louis Vuitton quando veio dizer que queria baixar as vendas: "Como é que vender menos é bom? Uma marca de luxo vive da exclusividade, logo ser acessível a um público alargado tira-lhe valor. E afasta os clientes de topo, que realmente interessam. Se dezenas de pessoas levassem a tradicional mala monogramada ao saudar a princesa de Inglaterra no dia do casamento, é pouco provável que Kate Middleton voltasse a usar as suas. “Evitar o excesso de exposição é essencial” quando se gere uma marca de luxo, admite ao Wall Street Journal o CFO da LVMH, Jean-Jacques Guiony. E a estratégia inclui adiar a abertura de lojas e apostar nas peças mais caras.". 

A exclusividade não pode ser interpretada de um só ponto de vista. E não é preciso ser um génio para perceber que se uma marca tenta agradar a todos o mais provável é que não agrade a ninguém. Depois disto o mais provável é que a A&F fidelize ainda mais os seus clientes- quanto mais se fala, mais vende, e um maior número de pessoas vai querer fazer parte deste grupo, da exclusividade. É obvio que as suas palavras, as de Mike Jeffries, possam causar alergias, reacções negativas e atitudes como a do rapaz que fez o vídeo que já é viral. Pode até parecer ilógico se soubermos que uma boa parte dos norte americanos sofre de sobre peso, mas a missão de uma marca, de uma marca como estas não é educar. Já estive em Londres, já vi as filas para entar numa loja A&F, já senti o cheiro a metros de distância, já vi as meninas histéricas à espera de tirar a fotografia com o homem cheio de músculos a transpirar perfeição, as empregadas de loja que mais parecem modelos e que certamente foram escolhidas a dedo. 

Quanto mais se gritar que a A&F é uma marca que selecciona os seus clientes em função do seu tamanho, mais se vai ajudar Jeffries a definir o que o diferencia do mercado imenso de marcas - isto é branding, e branding dado de mão beijada.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Se ser portuguesa é ser benfiquista

Eu jurei a mim mesma que não ia escrever nada sobre isto. Juro que jurei. Mas não consigo, é mais forte do que eu além de que já me começa a dar comichões esta história toda de ah e tal vamos todos ser portugueses, defender o nosso país, as cores de Portugal. Ora a que propósito? Mas por algum acaso a selecção portuguesa está numa final e eu não sei? A que propósito é que eu não posso torcer pelo clube que bem me apetece sem ter logo benfiquistas e sportinguistas a meter o bedelho onde não são chamados. 

Pois claro que sou portuguesa, sou e sempre serei (a não ser que me dêm nacionalidade de um daqueles países da América do Sul, aí já não juro eterno amor e fidelidade). Mas em que é que a minha qualidade de portuguesa de gema choca com o prazer que vou ter hoje se o Chelsea ganhar? Quando o Porto perdeu com o Málaga tive que desligar o telemóvel, é verdade, mas ninguém me viu por aí a desacreditar a nacionalidade e o amor incondicional a este país, de nenhum sportinguista, benfiquista e outros clubes pelo país fora. Desliguei o telemóvel porque preferi não aturar comentários, que me lixaram o dia seguinte, mas não me venham com falsos moralismos. Venham para Espanha dizer aos adeptos do Real Madrid que torçam pelo Barcelona - garanto-vos que não chegam sequer a acabar a frase. Arranjem outros argumentos, inspirem-se. E só mais uma coisinha, se o Benfica é o clube com maior número de adeptos em Portugal, deixem-nos lá em paz, era um favor que me faziam.

Como diz MEC "De vez em quando foge-me o pé para o chinelo" e isso acontece quando vejo benfiquistas do alto do poleiro a dizer que todos devíamos ser portugueses. Só pode ser piada. Fiquem lá com a vossa irracionalidade clubista que eu fico com a minha. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Boa dose de educação

Todos, ou quase todos, crescemos a ouvir que devemos ter respeito pelos mais velhos. Isso era uma das verdades irrefutáveis que figurava na lista top 5 de "como educar uma criança" perspectivada pelos meus pais, uma lista pensada durante anos para que eu e os meus irmãos não nos tornássemos nuns animaizinhos indomáveis e eles -os meus pais- não se tornassem alvos daqueles olhares gozões, cheios de "eu bem te disse" quando entraram na loucura de ter 5 filhos. 

Não cumpro todos os requisitos de filha bem educada, nem me parece que algum dia chegue lá. Mas que todos os santinhos me caiam em cima se esta não é uma máxima que cumpro todos os dias da minha vida. Respeito os mais velhos, em tudo e sempre. Bem, agora, quase sempre. Porque também me sinto no direito de ser respeitada. Não é uma questão de equidade, é uma questão de sociedade.

Pois bem. Sempre andei de transportes públicos. Toda a vida. Desde quando não tinha idade para conduzir, até bem depois de ter idade para conduzir. Tirei a carta de condução tarde mas nem o facto de ter carro próprio me impediu de ir para determinados sítios de autocarro. É uma questão de conforto. E porque raio é que misturo os transportes públicos e o respeito pelos mais velhos nisto que estou agora mesmo a escrever? É que eu acho sinceramente, e desculpem-me a sinceridade (se bem que nunca se deve pedir desculpa por se se sincero) que os mais velhos andam a precisar de uma boa dose de boa educação. E, de vez em quando, eu não me importo de dar.

E foi o que aconteceu hoje. Talvez por ser segunda feira, saltou-me a tampa. 
Estava à espera do autocarro, fui a primeira a chegar, estava um calor infernal e entre abanar um papel qualquer que tinha dentro da carteira para fazer vento na minha cara maquiada ou borratada, entre beber água e entre esperar pelos minutos que não passavam, foram chegando mais pessoas. Chegou o autocarro - uma miragem, um desejo nunca tão esperado, ar condicionado - e a entrada num autocarro faz-se com respeito. Ai faz-se sim senhor. É por ordem, por ordem de c-h-e-g-a-d-a. Eu eu dou a minha vez se me apetecer, dou a minha vez a mais velhos, a mais novos, a assim assim, quando quero. Porque fui a primeira a chegar. Ponto final. 
Mas hoje havia uma senhora, arranjadeca, com tacões, provavelmente obrigada a andar de autocarro pela crise, que achou que se tratava do seu motorista particular, com tamanho de limousine e mais ninguém à sua volta. Tive, eu não queria mas teve que ser, que lhe dizer, no meu espanhol manhoso, que havia uma fila e que a fila começava atrás de mim. Afinou a cara, apontou o nariz para o mais alto que conseguiu e perguntou-me se eu não tinha respeito pelos mais velhos. Sorri e disse que sim ao mesmo tempo que deixei passar a senhora que estava atrás de mim, essa sim, bastante mais velha e com algumas dificuldades para andar. 

Que raio de pergunta. Que raio de lugar em que as pessoas se põem. Voltou para o fim da fila. Com vergonha. Calada como um rato e com os olhos todos postos nela. 
Vamos lá ver se nos entendemos: sim, tenho respeito pelos mais velhos quando acho que devo ter, quando quero ter, o que resumidamente vai dar à mesma coisa. Não, não tenho que deixar passar à frente alguém que tem mais 20 anos que eu, só porque eu pareço que tenho menos 10 do que realmente tenho. 

E depois, bem, isto de andar de autocarro tem que se lhe diga. Desengane-se quem pensa que é um sítio comum sem regras ou hierarquias. Experimentem, se têm menos de 30 anos, sentarem-se na parte da frente. Nananinanão. Levam logo com uma olhadela "sai lá daí que tens perninhas para andar até à parte de trás". Depois há, como não podia deixar de ser, o "finjo que estou a dormir" é vê-los a fechar os olhinhos quando entra alguém que, de facto, tem que estar sentado nos lugares de prioridade. Andar de autocarro pode deixar de ser apenas um meio que transporta do lado A ao lado B, é todo um mundo novo de comportamentos sociais que deviam ser explicados. 
Alguém me explica por que demónios não posso abrir a janela? Mesmo quando está frio? Ou é suposto gostar de estar quentinha apesar de tudo? - este apesar de tudo dispensa explicações, acreditem em mim.

E não me venham com tretas, com conversas fiadas de que não há esperança para os mais novos que não respeitam os mais velhos. A mim, sempre me ensinaram que não há melhor educação do que aquela que vemos nos outros. Quando somos crianças a tendência é para imitar (vem de mímica) e não para aceitar teorias fabulásticas (fabuloso+fantástico) só porque são os mais velhos que o dizem.

sábado, 11 de maio de 2013

O que eu leio #5

E pronto. Já li. Eu bem que tentei que durasse mais tempo, juro que sim. Mas não foi possível. Acordei, comprei o livro e devorei-o. Desde a primeira até à última página.
Ainda me lembro o primeiro texto que li do Miguel Esteves de Cardoso, era sobre o primeiro amor. Depois disso fiquei obcecada. Comprei o "Explicações de Português", comprei "As causas das coisas", roubei à minha mãe "Os meus problemas" e acho que, mesmo quando não queria muito, comprava o Público só para poder ler o que ele escrevia. E quando mais leio, mais gosto de o ler. 

Portugal tem um problema no que diz respeito aos escritores, e é por isso que normalmente sou tão pouco patriota no que diz respeito à literatura lusitana. O problema, o grande problema é que escrevem um livro mais ou menos e a partir daí é sempre a dar cambalhotas. E depois, depois qualquer um pode ser escritor. E não é preciso ser um grande leitor para perceber que isso não é bem assim. Há excepções, claro que sim, existem em todo o lado. Há o Lobo Antunes, há o Saramago, há o José Luís Peixoto e os clássicos. Mas desses tive que aprender a gostar. Tive que ler muito antes de gostar, antes de perceber Lobo Antunes. A minha primeira aventura foi "Memória de elefante" e mesmo assim só o podia ler em casa, porque não o entendia sem o dicionário. Tive que ler muito antes de me habituar a Saramago. Ler, ou saber o que ler, dá trabalho.  Constrói-se, aprende-se. Há o luto do livro que se adorou e o desgosto do livro que mais valia nunca ter sido aberto.

Mas com MEC as coisas foram diferentes. É uma leitura excepcional. Ainda me lembro de como me ria, sorrateiramente, enquanto lia "O amor é fodido". Foi o único livro que li com a certeza que o deveria ter feito uns anos mais tarde. 
Os seus textos fascinam-me, e têm em mim um efeito mais ou menos devastador. Sempre que o leio penso "porque raios não pensei eu nisto". A genialidade da sua escrita enche-me de inveja, rói-me por dentro mas não me defrauda, nunca me defraudou.

Não posso explicar como gostei deste livro. Teria que pegar em todas as crónicas e copiá-las. Mas então deixaria de fazer sentido. Há um certo tipo de genialidade que só se conhece quando se experimenta.







Como deve ser linda a puta da vida

Mortinha por começar a ler. Além de ser MEC é o meu primeiro livro em formato digital. Hmmmm, não é tão bom assim. Falta-me poder deixar a minha assinatura, poder deixar a data em que comprei, deixar a página 13 marcada, sublinhar, não tirar a etiqueta com o preço.
Vicissitudes de quem emigra. Há uns anos não o iria poder ler. 
Depois conto que tal.


sexta-feira, 10 de maio de 2013

O que eu leio #4

Uma das coisas que trouxe comigo quando decidi emigrar foi um livro. Pequenino. Com poucas páginas. Nem mesmo o peso a mais e a vergonha de abrir a mala em pleno aeroporto para tirar o que tivesse que ser - juro que nesse momento só me apetecia gritar "Como? Digam-me como vou sobreviver sem as minhas coisas?" me fez deixar o pequerrucho em terra. Mas a verdade é que sobrevivo, sorte para as minhas irmãs que usam e abusam dos meus pertences queridos.

Se calhar esta introdução que acabei de escrever não é a melhor. A minha credibilidade enquanto leitora vai deixar alguma coisa a desejar porque o livro de que falo ali acima, entre tantas outras coisas, ensinou-me que as coisas (aqueles materialismos tão agarrados à minha carne) não são assim tão importantes. 

Continuando...trouxe esse livro comigo porque me ajudou numa fase meia cinzenta (põe cinzento, preto, muito preto nisso) da minha vida. E acredito que os livros se encaixam nos momentos e que cabem a todas as pessoas.
Tem um título invulgar: terças com Morrie. E basicamente é sobre um estudante que descobre que o seu professor está a morrer e, decide, ir visitá-lo, como diz o título, às terças feiras. Conversam, e é basicamente isso que fazem. Morrie, o professor, vai contando as suas histórias, em flash black, acrescentando um tema novo, cada terça-feira. Fala sobretudo das expectativas da vida, da dificuldade em aceitar a velhice, a morte, da continua obsessão pela juventude, da importância a coisas sem importância.

"Ah, se fosse novo outra vez! Nunca ouves ninguém dizer: "Gostava de ter sessenta e cinco anos."
Sorriu.
"Sabes o que isso reflecte? Vidas insatisfeitas. Vidas incompletas. Vidas que não encontraram sentido nenhum. Porque se encontrares sentido na vida, não desejas voltar atrás. Queres ir para a frente. Queres ver mais, fazer mais. Estás mortinho para chegar aos sessenta e cinco.
"Ouve, tens que saber uma coisa. Todos os jovens têm que saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira."
"E, Mitch?"
Baixou a voz.
"O facto é que vais mesmo acabar por morrer."

Depois de Rui Rio

Adoro o Porto, adoro. De paixão, de coração e tu mais em ão. É a minha cidade, é, foi e será. Venham os alfacinhas, os algarvios, os que forem, que sempre defenderei o Porto. Porque o sinto como meu e é, juro, possível sentir-se uma cidade como nossa.

E ando aqui com uns problemas existenciais. Umas comichões cerebrais que se misturam com politiquices. Para além de gostar da minha cidade -já o tinha dito?- tinha e tenho uma espécie de adoração, controlada ok?, pelo Rui Rio. Venha quem vier e digam-me o que disserem, gosto dele. Não agrada e gregos e a troianos, mas ninguém o faz.

Agora vem aí o Rui Moreira. E por mais vídeos eleitorais que faça, por mais facebookiano que seja, por mais estilo tipicamente nortenho que tenha, não me encaixa. E não me encaixa porque diz exactamente aquilo que eu quero ouvir. E isso já é mais do que razão para me dar comichões. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Comportamento obsessivo compulsivo por porta moedas

Sou viciada em porta-moedas. Já os tive de todas as cores e feitios, grandes, não tão grandes, pequenos e assim assim. Sempre que compro um, juro a mim mesmo que "este é que vai ser". Mas passado muito pouco tempo devolvo-o ao seu estado de guardado-no-fundo-da-gaveta e uso um novo. Ou porque vejo e me apaixono, ou porque me oferecem, ou porque sim.

No meio deste gosto estranho - para não chamar outra coisa - entre usos e reciclagens de porta moedas há uma bolsinha, já não sei se a comprei ou se alguém me deu, que acaba por vir sempre parar à minha carteira. Tem, como todos os porta-moedas da minha vida, um prazo curto, porque entretanto encontro sempre um porta-moedas que vai satisfazer as minhas necessidades de consumidora esfomeada, mas, mesmo assim, a sacana (da bolsinha) volta sempre. Está encardida, costumava ser cor de rosa, e agora mistura-se numas cores que nem eu bem distingo.

Quando tenho algum hábito, paixão ou idiotice compulsiva tento perceber o que está por trás disso. E acredito que os porta-moedas só podem estar relacionados com a minha obsessão de tentar ser organizada. Eu disse tentar. Lembro-me, quando estudava, que todos os inícios de semestre, prometia aos anjos e arcanjos que os meus cadernos iam ficar i-m-p-e-c-á-v-e-i-s. Nunca aconteceu.O mesmo se passa com o meu armário, que em todas as mudanças de estação está impecável, e depois fica tal e qual um campo de guerra. 

E daí vem a minha obsessão com porta-moedas. Há sempre um que me parece mais organizável. E no fim de tudo, no fim de procuras obsessivas, constantes e doentias por algo unicorniano, no fim de tudo não valeu a pena. Os cartões desorganizam-se. As notas vão para o lugar das moedas e as moedas espalham-se pela carteira. Fico minutos embaraçosos à procura do multibanco, e há sempre um papel que teima enfiar-se no fecho que eu acabo por rebentar.

Precisava de uma criatura minúscula que me berrasse, dentro da carteira: não é aí. não compres mais. organiza-te. Sinceramente. 

A loucura Ibérica

Há uns tempos atrás escrevi um texto sobre como era difícil ser português, como não era fácil ser português. Agora, depois de meses noutra realidade, percebo que a questão não é ser ou não português, mas sim de que perspectiva analisamos a coisa. 

A verdade é que saí de Portugal em plena crise e entrei em Espanha quando se começou a afundar - tenho um galo do caraças -. As comparações são inevitáveis, e cada vez mais tenho a certeza que, se me mudar de malas e bagagens para qualquer país do Sul da Europa, os problemas vão repetir-se assustadoramente. É como viver duas, três vezes (as que forem) a mesma realidade.

Espanha é um país incomparavelmente maior, com uma economia incomparavelmente competitiva, mas quando penso em Portugal, e os ponho lado a lado, as diferenças não são assim tão enormes como eu achava que seriam. E o mais engraçado, se é que se pode pôr engraçado nisto, é que estão bem mais atrás do que nós, no que diz respeito a enfrentar tudo isto. São bebés, e nós já adultos. Passo a explicar: estou alérgica, se é que se pode estar, a conceitos como crise, desemprego, impostos, austeridade e apertar o cinto. Lido com ele há já alguns anos, eu e os portugueses. Por outro lado, aqui em Espanha, ainda existe a indignação total, e espero que continue porque o efeito "já não quero saber" é perigoso. Aqui, deram-se conta do desemprego, das cunhas e das famílias que não têm como sobreviver, das mães que abandonam os filhos porque não têm como dar-lhes de comer, dos ocupas que têm as suas próprias casas a cair. Estão desacreditados, completamente desacreditados. Os chineses e o seu comércio são ameaças constantes, os cortes na educação geraram, hoje mesmo, uma greve em todo o país, o desemprego, entre os jovens, ascende a números assustadores. 

Hoje aprendi uma palavra nova em espanhol: enchufismo. É o equivalente à nossa cunha. E porque é quando se chateiam as comadres que se sabem as verdades, começaram a perceber que nem todos os trabalhos se conseguem de forma justa. Isto acontece em Portugal, é inegável, e quanto de nós sabem disso. Mas a um país incomparavelmente maior correspondem problemas incomparavelmente maiores. 

Faz hoje, precisamente hoje, 3 anos que a economia espanhola começou a decair: numa reunião, de madrugada, em que os ministros da economia e das finanças do Eurogrupo com o governo de Zapatero tomaram decisões que os trouxeram até aqui. Nessa altura, Espanha tinha um défice de 11,2% e uma taxa de desemprego de 20,15% (4,6 milhões de pessoas). Depois disto, do pacto europeu de estabilização financeira (Portugal também faz parte), Zapatero anuncia cortes e a realidade é a que já se sabe. Passaram de uma economia de incertezas a uma economia de medo.
Se em 2007 a maior parte dos espanhóis acreditavam na União Europeia, hoje as crenças estão viradas ao contrário: em vez de borbulha imobiliária, culpa-se a borbulha do euro.

Inimigos de estimação ou irmãos de sempre, a verdade é que Espanha e Portugal se parecem, e ultimamente as razões estão no desequilíbrio e nos problemas Ibéricos que estão longe de estar resolvidos.

terça-feira, 7 de maio de 2013

O trio novelesco do Real Madrid

Para quem gosta de ouvir gente a lavar roupa suja em praça pública tenho um anúncio a fazer. Esqueçam big brother, esqueçam telenovelas, o programa da Júlia e as tardes de não sei que apresentador - qualquer um serve - agora mesmo o que está a dar é o Real Madrid e as suas personagens que mais parecem saídas de um reality show encomendado por um qualquer programa de televisão para aumentar audiências. 

O Real Madrid vai perder o campeonato, foi eliminado da champions e agora falta ver o que acontece na taça do Rei - estes foram os ingredientes que serviram de pretexto para a telenovela que vou contar a seguir. Se é para rir ou para chorar, deixo ao critério de cada um, mas verdade verdadinha, nenhum clube, nem deste tamanho nem de tamanho nenhum, deveria poder bitaitar (mais uma vez, de bitaites) desta maneira.

Ora parece que a personagem principal é Iker Casillas, guarda redes (agora suplente) do Real Madrid. Mourinho decidiu pô-lo no banco (adoro gíria futebolística), dizer que tinha que treinar e esperar a sua oportunidade acrescentando que já queria Diego Lopéz há mais tempo na sua equipa. Hoje mesmo e para não deixar a coisa esfriar, porque isto de manter o interesse tem que se lhe diga, disse claramente que a sua decisão era simples, gosta mais de Diego Lopéz do que de Casillas.

A segunda parte deste enredo vem com Pepe que decidiu tomar as dores do amigo e defendê-lo justamente na altura em que deixa de ser titular: "As declarações do mister não foram as mais adequadas. Iker é uma instituição no Real e em Espanha". 
Pois sim, talvez devesse explicar à sua lindíssima Sarinha que não devia escrever o que lhe apetece no seu blogue. Dizer mal do treinador não é de bom tom, digo eu.

Desengane-se quem pensa que Mourinho é homem de levar desaforos para casa. Hoje mesmo explicou o que se passa lá por aqueles lados do Santiago de Bernabéu: "O problema de Pepe tem um nome e chama-se Raphael Varane. Falei de Pepe porque me perguntaram por ele. Não é preciso ser muito inteligente para perceber que estamos a lidar com frustração. Não é fácil para um homem de 31 anos ser atropelado por um miúdo de 19."

Esperamos para ver o que se passa a seguir, se fica Mourinho ou se vai embora. Para já, para já, é o que temos: jogadores e treinador que não se falam e uma cláusula de rescisão de 20 milhõezitos para quem quiser o Special One.
                             


Quando as crianças já não o são

Há alguma coisa de saudável numa família em que a criança deixa de ser criança? Quando isto acontece os problemas têm que existir como quando os adultos insistem em viver no mundo de conto de fadas. Não sei se na mesma medida, mas o mundo vira-se ao contrário, ai vira, vira.

Por ter uma família daquelas consideradas de crianças, há sempre um puto a nascer, com mais ou menos anos de intervalo, o conceito de casa cheia, festas com guloseimas, migalhas por todo o lado e berros estridentes que convidam os adultos a irem conversar para outro lado, é verdade absoluta. Com mais ou menos sapatadas, mais ou menos castigos e mais ou menos boas educações, as crianças lá de casa sempre foram equilibradas. Quer dizer, não há nenhuma a ganhar milhões por ano, a ter a sua própria linha de roupa, maquiagem, com dentes falsos, cabeleiras e sapatos de salto alto. E por mais que tente encaixar isto, a verdade é que estou a ter uma dificuldade enorme. E diz-me, algures por aqui, este meu bom senso, que as crianças têm apenas uma coisa com que se preocupar: ser isso mesmo, criança - que lá no mundo deles deve dar muito trabalho.

E esta conversa toda vem a propósito de quê? Pois muito bem. Ontem conheci uma menina americana, através das notícias e dos jornais, espanhóis e portugueses, que participa em concursos de beleza. Melhor dito: ontem conheci uma mãe, que inscreve a sua filha em concursos de beleza. E digo, é um mundo impressionante. Entre produções dignas de concurso Miss Mundo, a verdade é que parecem adultas num tamanho estranho, mesmo com os tacões, com o batom e os dentes todos, não há magia nenhuma que as faça ter corpo de mulheres. E os sorrisos são assustadores.

Esta menina, Isabella Barrett, tem 6 anos e já venceu mais de 50 concursos. Com uma linha própria de maquiagem e roupa tem uma fortuna avaliada em 1 milhão de euros. Nas suas entrevistas, com pose de estrela, e segurança própria de quem já trata as câmaras por tu, diz que não come hamburgueres nem gosta de batatas fritas: nos hotéis de 5 estrelas, os pedidos são bem mais gourmet, tem preferência por lagosta.

Quando lhe perguntam se gosta de fazer o que faz, responde "o que há para não gostar?". 

Não sou mãe mas pretendo, um dia destes, trazer uma criancinha ao mundo. E com as poucas certezas que tenho da vida, com essas parentalidades positivas e teorias sobre psicologia infantil, a minha cria terá tudo que lhe pertence por direito: brincadeiras na lama, buracos na boca pela falta de dentes em forma de baliza, sapatos sujos, nódoas por todo o lado e brincadeira, muita brincadeira.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Reviews da Amazon - do melhor que há

Algumas das coisas que me fazem rir são obviamente estranhas - sejamos razoáveis, o Passos Coelho, o Portas e a troika não são, de todo, hilariantes. Adiante. Enquanto dava umas voltinhas pela Amazon vi um anúncio que me fez ler todas as reviews (desculpem lá mas não encontro a palavra portuguesa para isto). Explicando muito rapidamente: tudo começa quando um cliente escreve a sua review sobre uma caneta Bic, diz, muito simplesmente, que é excelente para escrever em papel. 

Ora espreitem aqui




       


              

domingo, 5 de maio de 2013

A FAP não é de estudantes nem para estudantes

Não conhecia o estudante que morreu no queimódromo e muito menos tive, na minha altura de estudante, alguma relação com a Federação Académica do Porto. Nem muita, nem nenhuma, aliás, detesto carneiradas e, não faz parte do meu feitio adorar federações, associações e outras coisas acabadas em ões. Esse tempo já passou.

Tenho lido as notícias acerca deste assunto. Umas deixam-me incrédula, as outras fazem-me rir. Como sempre, o Jornal de Notícias lidera, com bastantes pontos de avanço, o sensacionalismo da questão: quanto mais podres existirem, quanto mais chafurdarem na dor da família, quando mais derem o beliscão pelas costas, mais jornais se vendem, mais debates estapafúrdios se realizam, e quem os lê, vai esquecendo o que aconteceu. A notícia da morte do estudante vai ficando morna portanto, seguiremos para outro lado, até que não sobre mais nadinha para escarafunchar, bitaitar (de bitaites) e esgravatar.

Os pais falaram, a faculdade onde estudava Marlon também, o reitor da Universidade do Porto também, e a FAP também: e como era de prever uns pediam o cancelamento da queima das fitas, outros não.

Se fosse da minha família saberia bem o que pensar, mas não é. E não podemos cair em romanticismos e jurar que o faríamos, em qualquer situação, em qualquer altura, sob qualquer juramento e em todas as mentiras. Não podemos ser idiotas (ingénuos) e esperar que as opiniões sejam iguais e desatar a insultar quem não pensa o mesmo que nós. É só abrir a página criada ontem, onde se pede justiça pelo Marlon, no facebook, que os insultos, palavrões, erros ortográficos e idiotices saltam como pipocas.

Há duas coisas distintas: pensar com a razão ou sem ela (há ainda outra forma de pensar mas não é para aqui chamada) e todos os que frequentamos a queima, os que nunca foram e os que só ouviram falar, sabem que não se trata de umas noites em que um grupo de estudantes se decide juntar para beber uns copos, fumar umas coisas, e dançar até cair. Não é um encontro festivaleiro onde, por acaso, se ouve música, com bandas conhecidas e tudo. Não. E como seres pensantes todos sabemos que, por não ser uma festa na casa do vizinho, não pode ser cancelada. O último relatório de contas, no site da FAP, diz-nos isto mesmo: 1.980.000.00€ de despesas e 2.456.000.00€ de receitas. Não é propriamente o mesmo que dizer "esta pago eu, para a próxima ofereces tu".

Os que defendem o cancelamento da queima já devem ter desistido de ler o que escrevo, mas exactamente por não ser jornalista, não dever nada a ninguém, e por escrever o que penso, vou continuar a fazê-lo.

A queima não podia ser cancelada mas a FAP podia ter feito alguma coisinha mais. Uma música ao som do Marcelo D2 parece-me amoroso, mas não chega, ou melhor, não chegou. E não chegou porque a Queima das Fitas do Porto não é organizada pela Super Bock (se bem que já faltou mais): é organizada pela FAP e porque quem morreu, para além de fazer parte desta federação, era estudante.

E como gosto dos is com os seus devidos pontos fui dar uma espreitadela ao site da FAP. Confirmaram-se as minhas suspeitas (só me surpreenderam os erros ortográficos e as gafes): é mesmo um organismo pensado para os estudantes e, para que não digam que não sou justa, transcrevo as palavras "Esta instituição, com 22 anos de existência, é constituída por 27 associações, fiéis depositárias dos interesses dos seus estudantes, que são mais de 60.000." Diz ainda que "a FAP precisa de estar junto dos estudantes para que estes se identifiquem com a estrutura" e que "desafio, coragem, responsabilidade, presença, serviço... Estas são as forças que impulsionam o mandato de 2013 da FAP."

E porque disse acima que a queima não era um jantar em casa de uns amigos teimo aqui comigo que os órgãos desta instituição se deviam ter esforçado um bocadinho mais.
Mesmo que o lema desta festa seja "de estudantes, para estudantes" tenho sérias dificuldades que me continuem a convencer disso mesmo.

A minha Mãe

Com três letrinhas apenas se escreve a palavra Mãe, que é das mais pequenas, a maior que o mundo tem.

Quantos de nós não se lembram disto? Na escola primária, na semana que antecedia o dia da mãe, com professores e educadores atarefados na escolha das manualidades que íamos levar para casa. A minha Mãe tem todos os nossos presentes do dia da mãe guardados. Numa caixinha de madeira. São bocadinhos de mimos que nos fazem rir (sorrir) quando mergulhamos nestas memórias deliciosas. E eu sou privilegiada. Vou tendo surpresas no meu livro de bébé - com 28 anos ainda leio o que as duas vamos escrevendo, sou privilegiada porque não ficou - o livro de bébé - parado no tempo.

Mãe é mãe, e é verdade. A minha não é só minha. É de cinco, e cabemos todos. Cabemos todos como se fossemos só um. Sei e sabemos os cinco que é só nossa e que não a trocávamos por nada deste mundo.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O que eu leio #3


Fartinhos de notícias sobre a crise? Fartinhos de dívidas externas, desemprego, troikas e políticas deprimidas? O sentimento é generalizado mas quando ler se torna obrigatório, mudar o tema é delicioso. Se for sobre sexo as coisas tornam-se bastante mais interessantes.
Descobri, mas minhas investigações de curiosa e obcecada por novas formas de ver o mundo, um blogue brasileiro que discorre sobre sexo como quem fala de cozinha, de livros e de política (bem, mais ou menos), mesmo que tente explicar, funciona melhor se derem uma espreitadela.
Vamos aos principais culpados: ele, tem 27 anos, chama-se Eme Viegas e é publicitário, ela, tem 22, chama-se Jaque Barbosa e é tradutora. Cansados da forma como se lida com este tema ainda tão tabu, decidiram falar sobre sexo exactamente da maneira como falamos com a nossa melhor amiga ou melhor amigo e abordando temas que só pensamos para nós próprios. O aviso que a página é só para maiores de 18 é um indício que vai confirmar todas as suspeitas.
“Se o sexo é bom, faz bem, deixa as pessoas de bom humor e é de graça, por que ainda é visto como algo imoral e motivo de vergonha para as pessoas?”. O blogue casalsemvergonha.com.br faz sorrir, concordar, discordar e está escrito de forma aberta, esclarecida sem nunca nos fazer pensar “onde raio viemos parar?”.