sábado, 27 de julho de 2013

Tristeza, tratemo-nos por tu

Ontem acabei a noite triste. E tu, que lês isto, vais provavelmente dizer-me que nada merece a minha tristeza, que é só uma, só uma fase, que tenho que sair e distrair-me, que tenho que deitar a tristeza para trás das costas, que tenho que esquecer, fingir, nem sequer pensar muito no assunto. 
Que tenho que ir dançar, cantar, sorrir e fingir que abraço. 

Não. 
Porque a tristeza tem força, tem significado. Tem tanta força, tanto significado, importa tanto como os meus sorrisos, como os teus sorrisos, importa tanto como a felicidade, como a calma, importa tanto como o melhor momento da vida. Porque é também pela tristeza que cresço, porque é a tristeza tão legítima, tão verdadeira como a felicidade. Não preciso disfarçá-la nem tirar-lhe o ar, para que possa fingir que não está lá, que desaparece, que afinal foi só um engano, que afinal não estava triste. 

Prefiro enfrentá-la. À tristeza. Preciso dizer-lhe que venha, as vezes que quiser. Porque há dias assim, em que não quero dançar, cantar, sorrir e fingir que abraço. Porque há dias em que sorrio à minha tristeza e ficamos as duas, a pensar o que vamos fazer uma com a outra, sem mais ninguém, porque estaria esse alguém a mais. 
E sempre com o mesmo objectivo, esperar que passe em vez de a esconder, para que nunca me possa apanhar desprevenida.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Yo misma, por España

Dicen, por ahí, que los portugueses y los españoles tienen em si mismos todas las diferencias y las igualdades que caben en dos mundos. Dos mundos aparentemente tan distintos y que hacen, desde que estoy aquí, que busque aún mas diferencias y igualdades para que me pueda sentir parte de un sitio que, poco a poco, se va tornando mío.
En Cáritas, encontré todas las semejanzas, encontré en todos, especialmente en los niños, que no importa de donde venimos, quien somos. Lo que sí importa es lo que tenemos para dar, de corazón, detrás de un gesto, de un cariño, de una sonrisa. Son dos horas y media, casi todos los días, de juguetes, de tareas, de minutos desinteresados para que lo pasemos bien. Es esta la magia de Cáritas: todos estamos ahí, iguales, yo como parte de ellos y ellos como parte de mi.
Y son los niños, ciudadanos del mundo, que hacen, todos los días, poco a poco, que crezca, que vea que sí, que por su energía, por su simplicidad, por su entrega, merece la pena que esté aquí.


Tenho este país, que me escolheu, de luto

É impossível não escrever sobre o que se passou ontem na Galiza, em Santiago, no dia de Santiago. Um acidente impressionante, cheio de dor, cheio de tragédia, cheio de culpas. Um comboio que circula a 190 klm por hora numa zona que não podia ultrapassar os 90. 

As imagens, mesmo que de longe, pela televisão, são indescritíveis. Mas há, no meio de tudo isto, a parte a que nos agarramos, a parte que queremos que fique, mesmo que possa parecer a menos importante: doadores de sangue que fizeram filas de horas intermináveis para poderem ajudar e dar um bocadinho de si, vizinhos, que quase assistiram à tragédia, que romperam com as próprias mãos as janelas do comboio, hotéis que oferecem quartos para que as famílias possam descansar, médicos e enfermeiros que não precisaram ser chamados para ir para os hospitais. 

E é de facto nestes momentos, que não são nossos, que não são meus, que me enchem o peito de um nó, enorme, porque esta, esta vida, não é para sempre nossa. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Deixem-me lá ser magra em paz

Vamos lá ver se a gente se entende porque de facto esta coisa de estarem sempre a dizer-me que estou muito magra começa a arrepiar-me os pelos da nuca e a chatear-me. E a verdade é que não ando por aí a soltar uns "ai, estás tão gorda, uma dietazinha ia bem, não?" ou "se fechares a boca pode ser que emagreças uns quilinhos, sua badocha".

Sempre fui magra, sempre. (Esquecendo os dois anos que deixei de fumar). Não faço dietas, não fecho a boca para-nada-de-nada. Como Nutella às colheres, como leite condensado sempre que me apetece, gelados, donuts ao pequeno almoço, ponho açúcar no café, e adoroooo brigadeiros. Mas não há quilo que me pegue. E isso não é, de maneira nenhuma, um decreto e portanto dispenso que me digam que estou magra. 

E não me venham com teorias, não me digam que ser magra é melhor que ser gorda, porque para as gordas é difícil emagrecer e para as magras é difícil engordar, as simple as that. Felizmente tenho uma mãe e um pai que me deram educação, que me ensinaram a calar quando quero que saia uma barbaridade pela boca fora. Mas também fui aprendendo que o que basta, basta. E portanto pode ser que da próxima vez que me digam que estou tãoooooo magra, possa "o" ou "a" ouvir o que não quer.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O que ninguém nos diz quando decidimos emigrar #1

1. Estar longe é isso mesmo, estar longe. E custa. Pa caraças.
2. Aprendemos a lidar connosco o tempo suficiente para nos perguntarmos, a nós mesmos, como é que os outros nos aguentavam tanto.
3. Não podemos estar quando os nossos precisam de nós.
4. Acabamos por jurar que vamos criar família e acabar os nossos dias na nossa querida terrinha.
5. Os políticos, governos, crises, são iguais aqui e aí.
6. O papel higiénico não aparece no sítio dele.
7. Fazer jantar todos os dias é um problema sério.
8. A roupa não se lava nem se passa a ela mesma.
8.1. Pensas duas vezes antes de pôres para o monte da roupa suja as calças que afinal não quiseste vestir de manhã.
9. Passas a dizer "a casa dos meus pais".

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Preferia não ter visto

Lexi Oliver Fretz deu à luz um bébé de 19 semanas. Claro está que viveu poucos minutos e que tem que ter sido um momento difícil. Não imagino o quanto. E este meu post não serve para falar da dor da mãe, do pai ou da restante família. Isso (a dor) tem que ser indescritível e impossível de escrever, pelo menos por mim. 

Mas a notícia (no Jornal de Notícias de hoje) não surge pelo bébé de 19 semanas, vamos lá ver, isto acontece muito, em mulheres à volta de todo o mundo, faz parte do lado mau da vida (e todas as outras teorias que queiram pensar). A notícia surge pelas fotografias que Lexi decide mostrar ao mundo e que aparecem neste blogue. São fotografias fortes, duras, e que, roçam o ridículo. Desculpem lá, mas não encontro outra forma de descrever isto.

Em primeiro lugar imagino que este seja um momento de intimidade, de família, de recolhimento. Mas isso dou de mão beijada; a internet veio pôr a nú o que nunca achamos que poderíamos assistir, mas assistimos. E mesmo que esta família queira dar importância ao que aconteceu através destas fotografias, mesmo que queira mostrar ao mundo que, às 19 semanas, um bébé já é um bébé, caíram em exagero. E que forma de exagero.

A primeira fotografia chegava: a mão do pai, da mãe e do bébé, pronto, feito, chega. Mas não, não chega, e portanto podemos ver as outras duas filhas com o bébé, a pegarem nele, e a verem, curiosas, suspeito eu que não percebem muito bem o que têm nas mãos. E alguém, por trás, meia distorcida, distraída com o telemóvel, como se fosse uma cena de um filme, sei lá de que género de filme. 

Não quero continuar a descrever as fotografias, porque me arrependi imediatamente de ter ido ao blogue. E de ter dado atenção a uma notícia do Jornal de Notícias, mas pronto, pelo menos já passou a parte má do dia; há sempre uma, em todos os dias.

Hora do chá com Jimmy Choo

Era um mundo ideal se eu pudesse: 

- apanhar um avião para Hong Kong

- ir directa aqui 



- fazer uma massagenzita 


- relaxar aqui 



- e lanchar ISTO, que não tem um aspecto do outro mundo mas vá... Quantas pessoas podem dizer que lancharam sapatos Jimmy Choo




quinta-feira, 11 de julho de 2013

Portugal, era, Portugal

Ultimamente ando sem vontade nenhuma de escrever sobre Portugal. Se o imagino tenho sempre a sensação de que anda perdido, cansado e sem força. É que a luz ao fundo do túnel é a luz que indica outro túnel. 

Saí daí sem lhe desejar nada de mal. Antes pelo contrário. Tenho dentro de Portugal família, amigos e pessoas a quem quero muito bem. Uns que sei que vinham embora, se pudessem, outros que não trocam o mar, as pessoas, o rio, os sotaques, o sol e a chuva por nada deste mundo. Como se Portugal fosse o perfeito imperfeito que sempre quisemos só para nós. Mas esse perfeito imperfeito está abandonado porque foi abandonado pelas gentes, pelas gentes que o fazem e que sempre o fizeram. 

Quem saiu, como eu, deixa-se levar, sem querer saber muito, sem discutir, sem vontade de indignação. Quem ficou, está morno, está preocupado consigo e vai vendo "no que isto vai dar". 

Ontem esperei, ansiosamente, pelo discurso de Cavaco Silva. E a internet bloqueou. De repente só via a imagem estática, no ecrã, com umas legendas quaisquer que agora mesmo não me lembro. Restou-me ler as notícias que iam actualizando conforme o PR ia falando. E claro, o resultado foi mais ou menos o esperado. Entendimentos, acordos, governo tri partido e tri partilhado. Uma solução morna, de quem deixa Portugal governar-se a si mesmo, mesmo que não seja uma pessoa, mesmo que seja um país, anímico, que espera a sua gente. 

Cavaco Silva não sabe ser pai, nunca soube. Deixou-se levar pelas birras, fez com que não tivessem importância. Preferiu que os três outros se entendessem, como se os tivesse fechado num quarto. E, se por acaso, isto acabar de pernas para o ar, a culpa nunca será sua, porque fez o melhor que podia. E fazer o melhor que podemos, quando esse melhor não existe, é o mesmo que que encolher os ombros e deixar andar. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

As carteiras que não são de mulher

Todas mas todas (esta todas é para ler com convicção, força, bem alto) as mulheres têm uma qualquer fixação por carteiras. A ser verdade, que o é, o lema de quando falamos de carteiras é sempre o mesmo: quantas mais, melhor, e quanto melhores, melhor. 

Há fases, é certo. Lembro-me quando uma só me chegava porque ainda tinha vergonha de usar carteira, nem sabia bem se era o que devia fazer. Nem sequer sabia o que enfiar lá para dentro: não tinha telemóvel, cartões, bilhete de identidade, nem sequer um batonzinho de cieiro para encher aquele espaço vazio. Nem sequer sabia o que fazer com ela (carteira) quando ia ao quarto de banho porque pendurá-la no puxador da porta ou no suporte do papel higiénico foram coisas que fui aprendendo com o tempo (senhores e senhoras por aí, donos de restaurantes, cinemas, cafés e todo o tipo de serviços, é favor colocarem um suportezinho para as nossas carteiras, é um bem necessário para o mulherio em geral). 
Sabia lá que, um dia mais tarde, andar com uma carteira ou com uma mala de porão ia ser mais ou menos o mesmo: pesada, cheia de coisas que provavelmente não irei usar mas que podem fazer falta. Been there, done that.

Dizia eu, todas temos uma obsessão, fixação, por carteiras e eu entendo as escolhas quase todas: as fluorescentes, as pequenas, as médias, as enormes, com flores, falsas, carérrimas, sei lá, é todo um mundo. Mas eu disse, aí em cima, que entendia as escolhas quase todas, não todas. E há uma que me intriga especialmente: quando vejo uma mulher, costuma dizer-se uma mulher feita, com uma carteira cheia de bonecadas: ou a Kitty, ou a Betty Boop, ou outra qualquer. Não importa se é gata, rata, ou um animal qualquer, importa que é uma mulher, feita, que escolheu sair de casa com uma carteira que pode muito bem ter surripiado do armário da filha, ou pior ainda, pode muito bem ter comprado a carteira e ter dito quando chegou a casa "Filha, olha o que comprei para nós". 
É quase tão mau como as crianças que agora usam biquini na praia sem saber muito bem onde é que encaixa cada bocado de tecido. 




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sobramos nós

Começo a preocupar-me quando acho hilariante em vez preocupante. Qualquer que seja a situação, mesmo que seja pelo facto de ter, uma pulga atrás da orelha, que mexe tanto, mas tanto que não me deixa descansada. Há quem diga que somos os próximos, que vamos pelo mesmo caminho da Grécia, há quem diga que Portas tanto fez birra e largou ranho, que a vitória foi sua, e eu digo que não há vitórias depois da palhaçada à moda portuguesa, com tripas ou sem tripas. 

Se Portas decidir fazer mais uma birrinha com os que mandam nesta porcaria toda, vamos pelo caminho da Grécia, em modo comboinho; se decidir continuar com a polîtica de Gaspar, directamente patrocinada pelos manda chuva de preto e pela nova ministra, continuaremos em manifestações, greves, privatiza aqui e acolá. Até ver não houve vitórias e diz-me a tal pulga que não estamos sequer perto delas. E tenho a sensação que bem podíamos ter o país à venda que não haveria alminha nenhuma que o quisesse, a não ser Seguro, que tenta, e tenta e tenta.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Fungos, axilas e o Gaspar do meu jantar

Gosto de comer. Não sou nada esquisita quando o assunto é comida, seja de que tipo e feitio. Sou até uma pessoa bastante descomplicada no que toca a experimentar coisas novas. Mas detesto, detesto quando me estragam a refeição mais calma que tenho durante o dia: o jantar. E hoje, que estou com o meu humor pelas ruas da amargura, os estafermos dos anúncios, acordaram o meu mau feito e estragaram-me a porra do jantar. 

Não era nada de especial. Umas coisitas para picar. Entre elas, pasta de atum, cheia de ovo cozido ralado. E justamente quando dava uma trinca para acabar a última parte da tosta o desodorizante não-sei-o-quê decide explicar-se e dizer que actua na flora bacterial das axilas. Como se esta frase não fosse suficientemente conspurcada, ainda mostra centenas de axilas, centenas, como se fosse a despedida do cheiro das axilas de todo o mundo. Qual despedida de solteiro, qual quê, o que está a dar é a flora bacterial das axilas.

Respirei fundo e até consegui controlar bastante bem a minha imaginação que fugia para caminhos nunca antes navegados, como axilas que cheiram bem e axilas que cheiram mal a combater, desenfreadas, não fosse uma ou outra vigorar num mundo em que os desodorizantes deviam ser como os preservativos: oferecidos em todos os centros de saúde.

Dois segundos depois, DOIS SEGUNDOS, aparece-me o Dr. Scholl. E eu que hoje não fiz mal a ninguém. O Dr. Scholl anuncia o combate aos fungos. E MOSTRA o raio dos fungos em pés que só podem ser de outro mundo. 

O resto do meu jantar, esteve mais perto de ser atirado à parede do que ser guardado em papel transparente e posto no frigorifico, mas depois lembrei-me que, se o Gaspar se pode despedir e se as Swats não impedem a outra de ser promovida a ministra então o mais provável é que o jantar não me tenha caído assim tão mal pelos fungos e axilas.