domingo, 6 de outubro de 2013

Bom dia, senhor motorista

No outro dia, estava a vir para casa, de autocarro. E fiz o que normalmente não faço, sentei-me no lugar da frente. Apeteceu-me ver a estrada em vez de ir com a cabeça encostada ao vidro, ou encostada atrás ou concentrada num livro qualquer dos tantos que ainda me faltam para ler. 
É que acho que os lugares da frente devem ser para os mais velhos, para os que têm dificuldade em andar, para os que não se conseguem defender dos super arranques dos autocarros - é todo um processo de equilíbrio que põe à prova todos os corpos do mundo. 

E percebi que o número de pessoas que entra no autocarro e finge que não há ali ninguém é irritantemente enorme. Há ali alguém, juro: a conduzir, a cobrar senhas, a abrir portas para nos deixar entrar, a fechar portas com a certeza que já não está ninguém, a esperar pelos que correm enfurecidamente e que sabem que se não for este, vão chegar tarde. 
Entrar num autocarro, dizer bom dia, boa tarde, boa noite é igual a entrar em qualquer outro lado e cumprimentar as pessoas, qualquer pessoa. Não é uma questão de educação, ou melhor, é uma questão de educação, mas antes disso, bem antes, é uma questão de sabermos que está ali alguém. E se está alguém em algum sitio, cumprimentamos esse alguém. 

Antes, desta viagem, parecia-me tão simples.