sexta-feira, 19 de junho de 2015

Tens a certeza do que queres?

Tens a certeza do que queres? De certeza? Não, a sério, olha outra vez. 

Se pudesse voltar atrás, voltava a escolher tudo como escolhi. Por mais romântico que pareça. Não há nada que tenha feito na minha vida de que me arrependa. Podia ter feito mais? Sim. Podia ter feito melhor? Também. 

Não vivo conscientemente consciente. Sou mais de viver só com o coração. E dizem por aí que quando se assina com o coração pode acabar bem ou acabar mal mas jamais pode ser considerado um erro - e nesta vida, só quando erramos, mas só quando erramos mesmo muito nos é permitido assumir que queremos esquecer. 

Dizemos, bem mais vezes do que as que nos gostaria, "ai se pudesse voltar atrás". Pois sim! Se pudesse voltar atrás faria tudo exactamente como fiz. Porque é exactamente o "ai se pudesse voltar atrás" que me permitiu chegar até aí. Até ao ponto de inflexão. Porque só quando sabes de onde vens podes imaginar onde queres ir. 

terça-feira, 16 de junho de 2015

Madrid, escolhida por mim.

Madrid pode ser enorme. Pode ser uma estranha, destas desconhecidas que nunca te deixarão indiferente mas que realmente nunca chegas a perceber as suas entranhas, os seus segredos, os seus recantos. Visitá-la, não é o mesmo que viver com ela. Todos os dias.

Desde que vivo aqui, é normal ouvir dizer que ou te adaptas ou então, com o tempo, a cidade conseguirá comer-te e, eventualmente, quererás voltar para o sítio de onde vieste. Não podia estar mais de acordo.

Podes-te perder no meio de um ritmo tão rápido. Num ritmo que te assusta porque acaba por ser o teu próprio ritmo, sem que te dês conta, como se sempre tivesse sido assim. E nem tinhas pressa para chegar a lado nenhum. Percebes que o café é mau, e que dizer que o café é mau se transforma num cliché. No princípio os carros assustam. São demasiados. E perguntas-te porque continuas a tomar um café mau, numa esplanada rodeada de carros, um café mau e caro. Acabas por habituar-te ao pingo, com leite. Porque precisas de café e sabes que, a partir de agora, jamais poderás prescindir do leite.

E no Inverno tens frio - acabaram-se as camadas, as golas altas e os casaquinhos próprios para os 10 graus de Inverno no Porto. Aprendes que um bom casaco é o investimento da estação. Porque em todos os outros sítios, que não sejam ao ar livre, o calor é infernal.
E no Verão tens calor. Mas aprendes que a cadeira do teu escritório tem que ser o apoio de um casaco que lutará, contigo, contra o ar condicionado. E há uma echarpe que te acompanhará a todos os outros sítios carregados de diferenças de temperatura que não imaginavas que o teu corpo pudesse aguentar. "As grandes diferenças de temperatura fazem com que fiques doente." - afinal não. Mas além de tudo isto, aprendes que tens que saber escolher quem se senta ao teu lado, em frente a ti e do outro lado no escritório. Esses serão os teus melhores amigos na luta contra o aquecimento no Inverno e o ar condicionado no Verão.

Acabas por perceber que tens duas opções. Diferenciar o sítio em que viveste e o sítio em que vives. Pensar nos dois forma separada. Um, já foi a tua casa. O outro é a tua casa. Um foi o escolhido para que nascesses, para que te transformasses no que és hoje. O outro foi, foi o que tu escolheste depois de te transformares no que és hoje.
Há quem diga que a cidade te escolhe. Que não és tu que escolhes a cidade em que vives. Isso não poderia estar mais errado. Não podes deixar que Madrid te escolha. Porque te vais embora. Tens que ser mais teimoso e, todos os dias, um bocadinho maior.

Sim, Madrid é enorme. Diferente. Mas agora, um bocadinho minha. E aqui, tudo é o que parece ser. Ainda que, por vezes, teimemos que as aparências enganam. Que sigamos pela vida e pensemos que as coisas mudam e que mudam porque sim, aqui não. Se és um idiota, aqui, acabas por comportar-te como tal. Se te sentes sozinho, e não sabes explicar, acabarás por voltar para o sítio de onde vieste. Se não a cidade conseguirá comer-te. Lembras-te? Porque aqui podes avançar ao mesmo tempo que retrocedes em cada passo que dás.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Espremer pela igualdade das portuguesas

Não sou mãe. Mas sou tia - verdadeira e emprestada-, prima e irmã. Mas o facto de não ser Mãe, neste caso, não interessa para nada. Porque também tenho um par de mamas, e acreditem, espremê-las em frente a qualquer pessoa - qualquer pessoa, repito - teria em mim o mesmo efeito que teve nas mulheres que, evidentemente, não estavam à espera nem de espremer leite nem de esguichar coisa nenhuma.

Ora imaginem lá: "Boa tarde, queremos actualizar o seu boletim de vacinas e saber se o espaço em que trabalha é seguro para si. Ah, e já agora, esguiche aí uma mama porque queremos ter a certeza que o leitinho que dá ao seu filho é realmente verdadeiro." - "Como quer que esguiche uma mama?" - "Vá lá, é só apertar."

Ultimamente em Portugal, o verbo apertar, mas apertar por apertar, só para ver se sai mais alguma coisa, tem sido conjugado, em todos os seus tempos por quem vive, trabalha e estuda. Aperta. Mas aperta com força. Porque normalmente quando apertamos, a coisa ganha forma, dentro de um buraco que tem fim. E, depois de tanto apertarmos, o espaço fica mais pequeno. E quase que garanto que não é leite que transborda.

Mas Portugal é um país de igualdades. Não devemos dar mais horas a umas mães que dizem que estão a amamentar mas que afinal o leite não é delas. É das vacas verdadeiras. E como sou pela igualdade, espero, que hoje mesmo, todos os utentes que se queixem de uma gastroenterite, daquelas bem agudas, que se dirijam ao seu médico de saúde ocupacional mais próximo. - É uma questão de economia pública.

Até já, querido Avô.

Ontem, quando falei com a Luisinha sobre o avô dissemos que há uma certeza que ninguém nos tira. Nem a mim, nem a ela nem a todos os netos. 

Somos muitos, eu sei. E ainda bem. Porque somos muitos a ter o melhor avô do mundo. 

Porque nunca nos vamos esquecer dos raspanetes quando chegávamos com as calças rotas, ou quando nos sentávamos à mesa depois da uma, ou quando nos esquecíamos de pôr o telefone em silêncio. Mas não importava, porque era o avô. E o nosso avô pode tudo! 

E vamos sempre lembrar-nos da festinha na cabeça antes de subir para ir dormir a sesta. E quando achava que falava baixinho para contar coisas que não queria que mais ninguém ouvisse. E quando perguntava pela avó. Queria sempre saber onde estava a avó. 

Vamos ter saudades tuas, querido avô. E hoje não nos despedimos de ti. Dizemos-te até já. Sabemos que estás aqui. Connosco. E ao lado da avó.